Lana Cancela

Capítulo 2: Ordinária

Decepcionada por não conseguir se comunicar com Zeca Pagodinho, Lana, filha de Whitman, filha de Mônaco e melhor amiga dos diamantes, resolve procurar outra parceria.

Lana tem uma missão e decide continuar sua busca.

Ela acende.

Ela puxa.

Ela prende.

Solta a fumaça olhando para o celular com notícias do Zeca Pagodinho, e vê uma notícia relacionada com a pequena foto de um homem.

Primeiro ela achou que era o Lionel Richie, depois viu que era um sujeito muito feliz para ser o Lionel Richie. Intrigada, ela clicou na notícia.

"Teimosinha': É o Tchan lança clipe de aposta para verão"

Copiou o que ela achava que era o nome e sobrenome do sujeito, e jogou no Google Imagens.

BOOM

Todas as fotos mostravam um grande e sincero sorriso. Ele parecia feliz como um cachorro São Bernardo.

Ver tantas fotos dele sorrindo intrigou Lana. Ela continuou descendo as fotos. Procurando alguma em que ele não estivesse sorrindo.

"Deve ser cansativo ter que ser alegre o tempo todo. Pelas fotos dava pra ver o buraco negro que existe dentro dele" - pensou Lana

Mas nada se compara a quando ela descobriu os clipes.

E ela viu todos. Ficou levemente perturbada.

"Muita alegria. Muita dança erótica. Hum. Bunda pra um lado, bunda pro outro"

Lana curtiu.

Lana decidiu que gostava daquele homem que não sabia pronunciar o nome.

Ela acendeu.
Puxou.
Segurou.
Leu o nome dele em pensamento.
E disse enquanto soprava com cara de ordinária:

- Cam...peidi Washington

Lana ficou mais fascinada com o É o Tchan do que jamais ficara com flamingos rosas.

Lana queria entender melhor aquelas músicas, jogou no Google Tradutor:

"Cock born crooked never straightens"*

"What an abundance my brother"**

"She made the snake go up"***

Ela não entendia muito bem o que isso queria dizer mas o ritmo era contagiante.
Ela queria ser a nova loira do Tchan.
Ela queria dançar com ele.

Ela queria um dueto
Um clipe em preto e branco
Na praia
Com clima californiano triste
Dançando com vestido esvoaçante
Com ele:
Cumpadi Washington.

Ela já tinha a visão.
Agora precisava agir. Ela pegou o telefone. Acendeu um verdinho, respirou fundo e ligou.

--------------------------
Domingo. 14:00. Salvador. Ar condicionado no talo.

Cortinas fechadas. Tudo meio escuro. Um homem de meia idade está deitado de bruços. Lençol cobrindo a cueca branca já amarelada estilo Heisenberg.

Ele ronca estridentemente. Como um animal selvagem faminto e com medo. Há quem diga que soa como britadeira.

Telefone toca.

Ele se assusta. O susto interrompe o ronco. Ele tira o tapa olhos azul marinho e revela olhos esbugalhados. Com cara de quem não tem idéia do que está acontecendo.

Ele percebe que é só o telefone. Bota o tapa olhos.

Deita.

E começa a roncar antes mesmo do telefone parar de tocar.

Finalmente a secretária eletrônica atende. O som da gravação animada se mistura ao ronco ensurdecedor:

- "Dúh dúh dúh páh. Tchan an. Eita mainha, não posso atender. Ordinááária. Estou no paraíso. Estou todo molhadiiinho. Deixe seu recado. Olha o Kibe. Não sabe de nada inocente. Dúh dúh dúh páh. Tchan an."

Piiiiii

Uma voz suave fala:
-Hello Campeide this is Lana, please call me at 420420420.

É domingo. Lana não vai falar com Cumpadi. Domingo ela não vai, não.

*Pau que nasce torto nunca se indireta
**Que abundância, meu irmão
***Ela faz a cobra subir