Amor a cobrar

Desconhecido

[...] Eu realmente não sabia ao certo se devia responder ou não aquela mensagem. Ultimamente nós nos falávamos muito ao telefone, e certamente ele era o único que me  fazia gostar de digitar,mesmo com a minha lerdeza. Eu sempre fui do tipo de garota que não força a barra e simplesmente espera que o garoto tome as iniciativas de garoto. Inocente. Otária. Ele não vai ligar pra você se nem mesmo você liga para ele,digo isso literalmente falando,não quer dizer que concorde. Eu não esperava que o Antônio fosse o tipo de cara que agrada a garota somente em troca de sexo, ele não tinha esse perfil, apesar de aparentemente ser um dos mais lindos que já vi na minha vida. [...]

Ele era ruivo, sua pele branca contrastava com seus olhos verdes da cor das águas do mar de Fernando de Noronha. Que fique bem claro aqui o meu anseio em viajar para lá algum dia. Enquanto isso não acontecia, eu poderia me perder nas águas desconhecidas do olhar do suposto ''amor-da-minha-vida-que-não-liga-mais-pra-mim''.Por ironia do destino nossas faculdades são próximas, e frequentemente eu o via carregando seus inúmeros projetos do curso de arquitetura que fazia.

No dia que finalmente nos conhecemos, eu não estava nos meus melhores dias. Além de estar muito estressada com alguns colegas maldosos que me chamaram de ''princesinha iludida'' por conta das histórias que escrevia sobre amores, que segundo eles eram bregas e antiquados, ainda tinha o fato de que estava nublado e logo começaria a chover.

O campus não é o melhor receptor para os desavisados e os lugares para estacionar as motos estavam estranhamente todos ocupados. Maldita vontade de ter moto, seria melhor um cavalo branco, ah não, seria pior, eu que teria que tirar a lama dele e desembaraçar os pelos. Vou logo avisando que apesar de ser tímida, tenho um senso de humor inenarrável, mesmo nos meus piores dias. Quando começou a cair a tempestade as pessoas foram se aglomerando em pequenos locais e causando com isso um aumento no nível de gás carbônico de onde eu estava.

Acho que tenho toque. Sério. Não aguento deixar nada bagunçado (exceto meu quarto) e sou muito apreensiva quando fico em ambientes lotados, pra mim alguém vai ter algum vírus desconhecido e super mortal que vai contaminar todo mundo e extinguir a raça humana. Bobona. Infantil. Prematura. Tudo bem, meus amigos fazem questão de me chamar assim. Mas naquele dia tudo iria ser mais do que especial. Pelo menos eu achava.

Esperamos lá, grudados uns aos outros como se fôssemos um conjunto de hamburgers humanos e de todos os tamanhos. Eu me distinguia dos outros pelo meu visual um tanto excêntrico: Sapatos vintage,mochila estilo anos 80 e uma roupinha básica que tinha como padrão uma calça jeans e uma camiseta de banda.Eu nunca chamaria atenção de um garoto como aquele,não ele estando no seu estado normal de espírito.Mas chamei.Gente eu C-H-A-M-E-I atenção do garoto mais lindo e sexy que já vi na minha vida.

Eu não me importaria em passar horas e horas só olhando para aquele rosto,aquele corpo que mesmo sem chegar perto já fazia meu corpo entrar numa combustão instantânea.Não sou pervertida,já avisei no começo,mas aquele garoto ficaria ainda mais lindo na minha cama e de preferência comigo do lado.

Fiquei com medo que meus pensamentos sórdidos e imorais pudessem ser sei lá,ouvidos ou identificados pela minha face,pois acho que nessa hora eu já estava com a minha mania chata de morder os lábios quando fico nervosa.Decido então pegar o celular e quando dou por mim o garoto sumiu.Otária.Anta.Como pode um ser humano ser mais incompetente do que eu?Nem pra dar uma olhada estilo QUERO-TE-PEGAR. Mas quando percebi,o cara estava parado exatamente atrás de mim e parecia que respirava na mesma freqüência que a minha.Senti uma vontade de correr e ao mesmo tempo de beijá-lo loucamente quando de repente,incrivelmente e inesperadamente a chuva para e todos decidem sair do lugar na mesma hora.