Two

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- Porque você está me encarando? Ah Laila, eu já não falei pra não me olhar com essa cara? - Ele gritou. Me encolhi e meu estômago revirou, pronto para vomitar. Ele estava fumando e eu sabia o que aconteceria se ele apagasse aquele cigarro antes de terminá-lo. Eu ganharia um soco, na maiores das expectativas.

- Desculpe, estava pensando longe. - Sussurrei.

- Estava pensando em quê? Não me diga que era aquele filho da puta da tua faculdade? Laila, se eu descobrir que você está me traindo, juro por Deus que te mato. - E novamente ele gritou. Eu sabia que era verdade. Ele seria capaz de matar alguém, já tinha tentando me matar algumas vezes, mas depois dizia que me amava e pedia pra mim não largá-lo e assim o fiz. Não por amor - um dia foi - mas pelo meu certificado. Ele pagava minha faculdade, que não era barata.
Muitas vezes tentei arrumar um emprego para terminar isso de vez, sumir da sua vida, mas todas as vezes ele armava briga aonde eu trabalhava, me seguia e aprontava até me demitirem.

- Eu jamais te trairia. É você que eu amo. - Menti. A minha vida tinha se tornado um jogo de estratégia. Um passo errado e eu estaria morta. Tinha que dançar conforme a música e tentar ser mais esperta que o próprio demônio. Mas ele nem sempre foi assim. Eu me lembro de quando nos conhecemos, há 2 anos atrás.

O dia estava ensolarado. Os pássaros cantavam e clientes entravam e saíam da lanchonete perto da faculdade que eu trabalhava. Um homem muito bonito, pele branca, cabelos castanhos e olhos caramelos penetrantes me chamaram a atenção na mesma hora. Ele vinha todos os dias tomar um café e ler um livro. E todas as vezes pedia para ser atendido por mim.

- Laila, seu crush chegou. - Uma das meninas me cutucou enquanto eu ajeitava meu cabelo e ia de encontro a ele.

- Em que posso ajudá-lo? - Peguei meu bloco de notas e voltei os olhos para ele. Assim que me viu, deu um sorriso largo.

- Eu estava pensando. - Ele deu um leve riso. - Desculpa, estou nervoso. Eu quero saber se você quer sair comigo algum dia desses? - Ele se levantou e me entregou uma rosa vermelha com um cartão. Eu iria negar, não gostava de sair com clientes que tinha certa frequência na lanchonete, pois poderia interferir no trabalho. Mas como dizer não à um pedido desses?

- Só quando você encher o vaso com rosas.

- Fechado.

Aquele foi o maior erro da minha vida. Quem podia imaginar que aquele homem doce, que me mandou rosas todos os dias por um mês, poderia virar isso? Eu jamais poderia imaginar que o homem que eu amava, era uma farsa. Um personagem inventado por um grande babaca.

- Estou atrasada. Já vou indo. - Anunciei e pousei minha xícara na pia. Peguei minha bolsa de lado e analisando a maquiagem uma única vez no espelho, conferindo se tinha tampado bem pelo menos os roxos do rosto.

- Não está esquecendo nada? - Ele ergueu uma sombrancelha. Fui até ele e dei um selinho, mas não antes de receber um tapa na bunda tão forte que fez lágrimas brotarem no canto dos olhos.
Dei um leve sorriso e calcei meus sapatos para sair daquele espaço e assim que o deixei, lágrimas inundaram meu rosto.
Eu queria morrer.
Juro que desejava a morte.
Desejava que ela me encontrasse e me levasse embora de todo esse sofrimento.
Mas o que seria da minha mãe com sua única filha morta?
Ela não fazia ideia de como minha vida estava um inferno, mas eu precisava convencê-la de que tudo ia bem. Logo iria me formar. Meu estágio começaria amanhã e graças ao meu esforço e determinação para me formar rapidamente, tinha conseguido a maior nota da turma e o melhor estágio numa empresa renomada. E não era nada mais ou menos que Towers, a maior empresa de economia dos Estados Unidos e uma grande responsável por elevar a economia do país. Isso a tornava extremamente disputada para conseguir emprego, estágios e até para investir em suas ações.
Todo esse mérito se dava ao CEO, Luke Sanders, que montou a empresa em seu quarto da faculdade. Um homem disputado pelas mulheres por sua beleza exuberante e por investidores pela sua inteligência.

Cheguei na faculdade com o rosto todo vermelho e não me importei com os olhares, pois muitos imaginavam o que eu sofria e ninguém tinha coragem de falar comigo. Não os culpo e muito menos julgo, pois compreendia o medo que eles podiam sentir.
Como não tinha nenhuma amizade, minha mente acabou se tornando minha melhor amiga. E nós criamos diálogos e cenas impossíveis tentando fugir da nossa realidade, e essa mesma voz criava mil teorias do porquê não ter nenhuma amizade ou vínculo com alguém.
Mas a resposta era simples.
George.
Balancei a cabeça levemente tentando mandar aqueles pensamentos pra longe e percebi o clima estranho em volta.
Hoje não era um dia normal de universidade, era o último dia, o que significava muitas lágrimas e choros, tentos reais quanto falsos, pois sabia que aquela gente não se amava tanto assim.
Quando você se torna uma pessoa solitária, percebe muitas coisas. Em como as pessoas são falsas e manipuladores. Isso era um fato. Mas também não era da minha conta, por isso não me metia em nada e apenas assistia.
Ao sentar na cadeira, suspirei e abaixei minha cabeça, tentando dormir um pouco, o que foi um sucesso já que simplesmente não dormia em casa.

Na saída, muitos alunos se abraçavam e desejavam sorte para seus amigos. Eu só falava vez ou outra com alguém, mas nunca tive uma amizade de verdade e algumas vezes me pegava pensando que se tivesse uma amiga, será que seria diferente? Ela me deixaria ficar na casa dela e fugir daquele homem? Ela me aconselharia a não morar com ele ou começar aquele namoro?

- Hey. Eu queria apenas te desejar boa sorte e lhe dar parabéns pelo seu estágio. Acho que foi super merecido. - Um garoto da turma, que havia visto poucas vezes, me parabenizou e na mesma hora, desejei correr. Pois sabia que em algum lugar, ele me vigiava e que eu iria sofrer as consequências daquelas inocentes palavras trocadas.

- Obrigada e igualmente. Adeus. - Respondi, saindo de fininho e seguindo meu rumo pra casa, rezando para só uma vez Deus me ouvir e não permitir que ele visse aquilo. Mas Deus não me ouviu e quando cheguei em casa, ele me esperava com um cinto na mão. Não aguentei e comecei a chorar, implorando, dizendo que não tinha acontecido nada, mas não iria mudar nada. Ele me bateu sem dó e nem piedade e depois de me fazer engolir ou cuspir meu próprio sangue inúmeras vezes, me largou enquanto limpava sua mão na camisa e pegava a carteira para ir ao bar.

- Eu odeio quando você me força a fazer isso. E vê se limpa esse sangue antes que eu chegue. - E fechou a porta. Chorei tudo o que pude naquele chão frio e fui me arrastando para um banho. O sangue manchava o chão e sentei um pouco embaixo daquela água, pedindo que ela levasse minha dor embora.
Eu sei que não merecia todo esse sofrimento, ninguém merece, mas não tinha mais o que fazer. George tinha amigos policiais que livrariam sua barra se eu o denunciasse, e caso ele descobrisse que penso em denunciá-lo, ele iria querer me matar. Ficaria sem casa, faculdade e todo o meu esforço em aguentar essa vida miserável, iria pelo ralo.
Após o banho, me olhei no espelho rapidamente e vi meu corpo pintado de roxo, vermelho e algumas áreas estavam azul esverdeado, que futuramente também ficariam roxas. As lágrimas não pararam de cair, e foi assim, com dor por dentro e por fora e lágrimas nos olhos que lavei o chão e me tranquei no banheiro.
Toda vez que ele voltava do bar, queria transar.
Eu aguentava a agressão, poderia sobreviver com esse trauma depois disso, mas estupro, era algo pelo qual eu jamais queria passar, iria lutar com todas as minhas forças pra isso não acontecer.
Guardei toda minha roupa e muita maquiagem para sair bem cedo para o estágio amanhã e orei mais uma vez a Deus.
Pedi para que passasse no estágio afim de mudar de vida. Queria um recomeço. E tinha fé que iria ter.

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Oi gente, aqui é a xxBlueberry e este é meu novo livro. Não irei aparecer muito por aqui, mas espero que gostem pois é um livro que estou escrevendo para ajudar quem passa a mesma situação que a Laila. Se você passa por algo desse gênero, diga para alguém que confie e denunciem. Esses canalhas simplesmente não podem continuar nos agredindo e não vamos deixá-los se safar.
Enfim, essa da foto é a Laila e o do capítulo anterior é o Geroge. Espero que gostem de tudo.
Beijos.

Is Never Too LateOnde histórias criam vida. Descubra agora