I; Aqueles sussurros em 1960

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Abaixo, o tema do capítulo

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Abaixo, o tema do capítulo

A noite estava tão fria, mas tão fria que a fumaça escorria para fora da minha boca como se eu fosse uma chaminé. Dentro do bar, Learnin The Blues da Ella Fitzgerald com o Louis Armstrong tocava em som ambiente. As pessoas pareciam entretidas, o que não era coisa absurda, já que Ella Fitzgerald, na época, conseguia fazer qualquer um mergulhar no momento e esquecer todo o resto.

Eu mergulhava no momento. Quando Ella Fitzgerald começava a cantar, eu ia para outro mundo, um mundo bem mais bonito e interessante, onde minha vida dava certo. No entanto, naquela noite, eu não queria visitar meu mundo alternativo e fingir que as coisas estavam bem, como eu fazia desde os meus dezoito. Naquela noite, eu só queria afogar todas as minhas mágoas nas bebidas mais baratas que Jimin pudesse me oferecer, daquelas que rasgam a garganta e sobem bem rápido.

— Você está péssimo — Jimin disse assim que retornou ao balcão. — Precisa de um cigarro?

Ele jogou um pano por cima do ombro e deu a volta para o lado de dentro, parando de frente para mim com um sorriso de consolo que eu não queria ter percebido.

Passei as mãos pelo meu rosto já dormente, ponderando a ideia. Eu estava tentando parar com o vício, mas aquela era uma situação de emergência, o que me transformava automaticamente em um pobre homem que merecia um cigarro.

— Sim — respondi com a voz rouca e levemente embargada. — Mas quero um dos seus, um dos bons.

Jimin fez uma careta e revirou os olhos, puxando do bolso da calça justa listrada uma caixa de Marlboro.

Soltei uma gargalhada sapeca, lambendo os lábios quando puxei um dos cigarros, ansioso para sentir a nicotina outra vez. Eu o deslizei de um lado para o outro na boca antes de prendê-lo no canto dela, agarrando no ar um isqueiro amarelo que Jimin jogou para mim enquanto se virava para lavar algumas louças na pia.

Eu acendi o cigarro e traguei fundo, sentindo meu coração bater mais devagar, mais tranquilo. Fechei os olhos, soltando lentamente a fumaça e tragando-a novamente pelo nariz, respirando com tanta vontade que era quase como se eu precisasse daquilo para viver.

Eu não precisava, mas não sabia disso naquela época.

— Parece que se passaram anos desde a última vez que vi você você fazendo isso — Jimin me tirou do transe, ajeitando seus óculos pretos e redondos. Eu fiz uma careta confusa, então ele continuou: — Tragando pelo nariz.

Eu só tragava pelo nariz quando realmente estava no fundo do poço, e a última vez tinha sido há cinco anos, quando minha namorada de bar escolheu outro par para dançar.

La Vie En Blues | taekookOnde histórias criam vida. Descubra agora