The Real Thing | ShowKi

Capítulo 01 - Hard Sometimes

Notas iniciais: Eu queria escrever uma fic ShowKi feliz e estava devendo uma fic assim, inclusive. Escutando as músicas maravilhosas do Ruel, eu não consegui parar de pensar no quanto elas combinam com o Shownu (segundo a minha mente kkk), então a inspiração veio e o plot brotou!

Espero que vocês gostem! Os nomes dos capítulos são todos títulos das músicas do Ruel.

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1945

O som do piano ecoando pela sala de estar é reconfortante, mesmo quando o aluno erra uma das notas - e as seguintes, por conta do nervosismo do primeiro deslize. Kihyun ri e faz sinal com a mão direita indicando ao garoto que está tocando que ele deve continuar com a canção e a melodia se estende por mais alguns minutos até que as mãos pequenas se cansam e voltam a ser apoiadas no banco de estofado bege.

Kihyun o elogia, porque sua evolução com o instrumento é visível, e insiste que pequenos erros são parte importante do aprendizado.

- É tudo uma questão de treinamento - ele diz e o garoto sorri, observando que já está quase na hora de ir embora. Os dois se levantam e vão até a porta de entrada, saindo para o alpendre ao encontro de uma mulher elegante que abre os braços para receber o filho: o garotinho corre na direção dela e ambos se despedem com acenos simpáticos.

Yoo Kihyun é um exímio pianista, aclamado por sua técnica e desempenho, conhecido no meio artístico por sua desenvoltura e charme, mas também pela traiçoeira doença pulmonar que o obrigou a afastar-se dos palcos. Já faz mais de um ano que retornou a Cheonan, sua cidade natal, conhecida por seus extensos pomares e florestas, cenários fascinantes que não são vistos na cidade grande, tudo porque seu médico lhe receitou repouso e ar puro, facilmente adquiridos no interior. O ar de Cheonan é agradável o bastante para conter suas crises de tosse e a melhora em seu estado apenas comprova o quão eficaz sua mudança de rotina é.

Mas sua saúde mental, por outro lado, continua sendo bastante prejudicada.

Começou a dar aulas à crianças e jovens interessados em música e isso o ajuda a passar o tempo, preenchendo um bom espaço em suas semanas antes vazias, já que não costuma sair, temendo comprometer o descanso necessário para sua recuperação. Ele é conhecido na cidade e, vez ou outra, recebe visitas e convites para pequenos eventos no centro, mas raramente é visto fora de seu território.

Tudo é muito monótono agora que não pode sentar-se defronte à grandes platéias e tocar o piano com a mesma paixão de antes. Seu corpo está muito mais forte agora, mas existe um medo que antes não estava ali: o de uma recaída, o de que seus pulmões irão impedi-lo no meio de uma sonata ou de que seus dedos irão travar no ápice de um noturno. O período em que passou internado, antes de se mudar de volta à casa onde nasceu e cresceu, transformou-o numa pessoa insegura. Depois de meses impossibilitado de encostar as mãos nas teclas, que são suas melhores amigas, ele deixou nascer o receio de machucá-las.

E agora ele erra, tanto quanto seus alunos, porque não consegue concentrar-se como a música realmente pede. Seus pensamentos escapam da partitura para a preocupação e o desejo de voltar a ser quem ele era.

Ele tenta ser positivo, mas é complicado.

Quando toca, é como se sua cabeça estivesse em outro lugar.

Existe apenas um momento que o tranquiliza e lhe dopa com gotas de esperança: quando se deita na cama e adormece, sonhando sempre com aquela mesma figura. É um rapaz que lhe sorri de forma sincera, que vem a seu encontro sempre de forma calma e sutil, que é tão bonito que Kihyun sente as borboletas no estômago e as visualiza dentro do sonho como pontos coloridos brilhando por sob o tecido de sua camisa. Esse rapaz ri de sua surpresa diante de todas as cenas lúdicas e Kihyun escuta uma sinfonia diferente a cada noite, acordando sempre com as últimas notas memorizadas - e ele as escreve num caderno que deixa na mesinha de cabeceira, porque ele sabe que elas não estão lhe sendo dadas à toa.