one

305 42 18
                                    

O que é liberdade?
Me perguntei isso desde o momento em que saí de casa dizendo que estaria procurando uma forma de ser livre, mas afinal, do que exatamente estou tentando me livrar?
Minha avó uma vez me disse: "Ah, jovenzinho, a nova geração está repleta de adolescentes que estão em busca da liberdade".
E isso ficou impregnado na minha mente por vários dias, refiz a mesma pergunta diversas vezes: Será que estamos todos em busca da mesma liberdade?
Afinal, do que nós tanto fugimos?

Observei atentamente cada detalhe do local, se eu decidisse comprá-lo certamente teria de fazer uma grande reforma. A poeira toma conta de tudo e os livros são tão velhos, tão empoeirados. Porém, um sábio uma vez disse que: 'Os livros são como pessoas, os mais velhos são aqueles que têm mais histórias para contar.' - A princípio, para mim essa declaração não assumiu nenhum tipo de importância, entretanto as experiências por mim vividas mudaram drasticamente minha maneira de enxergar o mundo real.

"Perdoe minha indiscrição, senhora. Mas por qual motivo colocou a venda a sua livraria?" - A curiosidade falou mais alto que a razão.

Oh HaNi, a proprietária do imóvel, caminha mais para perto, ela mantém uma expressão séria, que logo é corrigida por um mínimo sorriso, "Essa livraria era da minha mãe. Quando viva foi apaixonada por romances clássicos da literatura, e quando partiu deixou o seu 'império' para que eu pudesse prosseguir com o seu legado de nunca deixar histórias tão belas caírem no esquecimento..."

Suspirou de forma derrotada, "Mas admito que falhei, como pode ver a livraria está parada, há muitos anos não recebemos uma visita, tudo foi esquecido, eu mesma a esqueci. Não está mais ao meu alcance dar vida a este lugar, então procuro alguém, tão apaixonado por leitura quanto minha mãe, para que possa realizar aquilo que não tive capacidade de fazer."

Às vezes o melhor a ser feito é permanecer calado, mesmo que uma onda de perguntas grite no seu interior, você deve reprimí-la de todas as formas possíveis, e, é evidente que essa técnica não se aplica a mim.

"O que te levou a falhar?", perguntei sem medir o quão intima a pergunta poderia ser, mais uma vez, estou eu, Park Jimin, sendo invasivo e irracional.

"Confesso que nunca tive a paixão intensa que minha mãe teve, eu diria que essa foi a minha maior falha, não reconhecer a grandiosidade de um bom livro.", tirou parte da poeira que cobria o balcão e tossiu algumas vezes, "Na verdade meus planos eram tornar a livraria um negocio diferente, como uma loja de roupas ou cosméticos, afinal, estamos em Seoul, e é em busca disso que as pessoas sempre vão. Mas isso seria jogar todo o esforço da minha mãe no lixo, então decidi passar para alguém que pudesse dar continuidade ao que não pude."

Após a declaração da mais velha, apenas assenti levemente, minha cabeça formulava mais um milhão de perguntas mas esse não era o momento certo.

Me peguei pensando no que faria a respeito. Mudei recentemente para Seoul, deixei minha família em New Orleans, larguei tudo e cá estou, me sustentando com as economias que adquiri ao longo dos anos. Usei a desculpa de procurar melhores oportunidades aqui, mas na verdade acredito que eu me encontro numa situação pior, estou numa cidade grande, sozinho, sem emprego e sem apoio, o que mais me falta? O meu real motivo para estar aqui é muito maior do que este, mas na verdade pensar nele é como um tiro certeiro no meu peito.

Sempre tive muitos sonhos, mas, como ninguém pode viver apenas de contos de fadas, tenho que procurar uma ocupação, afinal, já tenho vinte e quatro anos e minhas economias não durarão para sempre, foram o bastante para eu alugar um apartamento minúsculo mas que da para viver, e bem, me convenci que não posso voltar para casa com uma mão na frente e outra atrás, ao menos não por enquanto, eu não suportaria quebrar todas as expectativas que meus pais depositaram em mim.

"Acho que você só está tentando fugir de um peso que bagunça sua consciência", soltei as palavras mesmo sabendo o quão insensíveis elas podem parecer, "Mas todos nós fugimos de algo, não é mesmo?", suspirei, "Eu fico com a livraria, mas tenho outra proposta, ao invés de me vender, poderíamos apenas fazer uma parceria, compro as ações e tomo conta de tudo por aqui, e o local continua no sendo seu, afinal, é pela sua mãe que você está fazendo isso."

Vejo um brilho diferente transparecer em seu olhar, arrisco em dizer que são lágrimas reprimidas, "É muita gentileza da sua parte, garoto, eu sabia que você seria a nova chance da livraria assim que lhe vi, você transmite luz."

Ela fala sobre luz mas não a julgo, pois na verdade me considero um covarde, que vive de máscaras, se escondendo dos seus próprios medos.

"Vai ser um prazer fechar negócio com você, Oh HaNi.", sorri, orgulhoso de mim mesmo por conseguir fazer algo util nessa vida.

"Igualmente, Park Jimin"

E então, esse é o meu momento, prometo fazer o meu melhor para trazer vida para esse lugar, está na hora de agir e impedir que esse 'império' caia no esquecimento.

The Ghost • { pjm + jjk }Onde histórias criam vida. Descubra agora