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     Quem é o seu maior inimigo?
  Nos meus dias de hoje, digo certamente que o meu pior inimigo sou eu mesmo. Ao mesmo tempo em que me ajudo, eu quem aperto meu próprio gatilho.
   É como uma batalha sangrenta dentro do meu subconsciente, onde o unico soldado em meio a guerra sou eu, Park Jimin. E a cada vez mais eu perco uma parte minha, como se eu estivesse abandonando a mim mesmo...
    Onde tudo isso me levará?

    Três semanas se passaram desde que fechei acordo com Oh HaNi, foi tempo o bastante para que eu pudesse dar um pouco mais de vida ao lugar, as paredes que antes se encontravam num tom de vermelho desbotado agora estão numa cor creme, que quando juntas a iluminação do lustre que comprei dão um ótimo contraste acolhedor. Aproveitei o momento para comprar alguns livros novos, pois os que haviam na prateleira já estavam bastante velhos, mas, apesar disso, eu jamais jogaria um livro fora por estar velho, principalmente quando o conteúdo fez parte da vida de alguém, então optei por pegar uma caixa e guardá-los.

    Entretanto, uma reforma não significa que voltarão a frequentar o lugar, eu teria que fazer muito mais do que isso, só não sei exatamente como fazer, e isso é o que vem tirando o meu sono, as chances de fracassar são realmente grandes.

    Estamos num país tomado pela tecnologia, a sociedade está cada vez mais alienada pelos eletrônicos, o mundo permanece em evolução e à medida em que isso acontece, as pessoas evoluem junto a ele deixando para trás velhos hábitos.
   
    Em cada livro há um lindo universo, um universo que um dia alguém dedicou sua vida a ele, expressando seus sentimentos, transmitindo sua mensagem da forma mais pura que existe. Na cabeça de um ignorante é apenas papel e algumas baboseiras, mas na cabeça de um gênio é o mais belo tesouro, um diamante a ser lapidado.

    Sou tirado dos meus pensamentos quando sinto que estou esquecendo algo, essa lacuna logo é preenchida quando vejo o quadro em cima do balcão, tirei para limpá-lo mas acabei por esquecer. Sento-me numa cadeira, pego um pano e retiro boa parte da poeira que havia nele, não deixo de notar que era um quadro realmente muito bonito. Penduro-o no mesmo local em que estava, e um sorriso satisfeito aparece em meus lábios.

"Wow! Park Jimin, você deu um show" , falo a mim mesmo, sem me importar se eu estaria parecendo um louco.

Uma leve batida se faz presente, logo percebo que já não estou mais sozinho, "Ah, oi, Jimin. Espero não estar atrapalhando.", Oh HaNi aparece, com duas caixas nos braços.

"De forma alguma." , dou um pequeno sorriso, "Então, a que devo essa maravilhosa visita?"

"Bem, eu lhe trouxe algumas caixas com livros da minha mãe, os mais importantes para ela" , colocou as caixas no chão, "Sabe, ela sempre os guardou com o maior carinho, então esses eu tive um cuidado maior, como pode ver estão em perfeito estado."

"Sério!? É um prazer poder tê-los aqui." , digo com uma animação muito maior.

"Fico feliz que te agrada." , sorriu. "Bom, já vou indo, até mais!"

    Acenou antes de sair, sem ao menos esperar para que eu lhe dissesse
algo, pelo que me parece ela estava com bastante pressa.

     O tempo passou rápido, fiquei tanto tempo na livraria que não vi que já se passavam das oito horas, então, tratei de voltar para o apartamento, mas antes me certifiquei se tinha deixado a livraria fechada, a última coisa que eu precisava nesse momento era um furto.

     Não pude sair de lá sem trazer as caixas que HaNi me entregou, eu com certeza não perderia a chance de analisar o conteúdo dos livros, um por um.
    
      Tomo um banho longo e demorado, era de extrema necessidade depois de um longo dia de trabalho. Mal parei em casa hoje, e, é claro, está uma zona.

"Um desleixo total!" , falo para mim mesmo, "Passei tanto tempo na livraria que acabei esquecendo que tenho uma 'casa'..." , solto o ar preso em meus pulmões e afasto levemente os fios de cabelo que deslizaram para minha testa, "Que seja! Eu tenho todo tempo do mundo para isso."

     Paro para pensar e vejo o quão idiota eu possa estar parecendo, se existem fantasmas ou almas perdidas aqui comigo, provavelmente estão a debochar de mim.

"Park Jimin, passa de um rapaz solitário para um rapaz solitário e que fala sozinho." , uso um tom diferente ao falar, como um daqueles apresentadores de telejornais.

     Ri um pouco da minha piada nada engraçada, mas, às vezes era justamente isso que me faltava, um pouco de alegria e um sorriso sincero.

     Caminho até o sofá e puxo as caixas para perto de mim, abro cuidadosamente cada uma delas, logo vejo livros em perfeito estado, eu jamais diria que são livros seminovos se não soubesse a origem deles. Entre as obras vejo livros como: Orgulho e Preconceito, Dom Casmurro, Crime e Castigo, O Príncipe da Névoa, Demian e entre outros.

     Entretanto, em meio a tantos livros, um, especialmente, me chamou mais atenção. Eu nunca havia visto um livro como aquele, a capa é dura e está um pouco mais velha, não há um título nem um autor, existe apenas um número pequeno na capa de trás, 1998.

     Por um tempo esqueci os demais livros e foquei somente naquele, fascinado, exalava um ar misterioso. Levanto-me e vou em direção ao quarto, sento-me à cama, ainda com o livro em mãos, deslizo meus dedos pela capa, apreciando a textura da mesma, realmente parecia mesmo um livro velho, estou encantado, ansioso para conhecer essa história.

     Ao abrí-lo, me deparo com a primeira página em branco, pulo para a próxima e outra página em branco enche os meus olhos. Huh?! Duas páginas em branco?! Isso é normal, Park Jimin, sem blefe.

     Sem mais pensar folheei o livro e para a minha surpresa, não havia nada escrito, isso mesmo, um livro em branco, isso foi o bastante para iniciar um pequeno surto.

"Como assim? Eu ja vi de tudo nessa vida mas um livro em branco?!?" , falo num tom mais elevado , "Isso só pode ser uma brincadeira" , dessa vez, grito, literalmente, "OK. Mantenha a calma."

     Um turbilhão de coisas passam pela minha mente, de certo que um livro em branco me pegou em cheio, e eu sinto que tem muito mais, não é só isso. Isso pode me dar duas possibilidades, ou eu estou certo em achar que tem muito mais de onde veio isso, ou o destino está apenas me pregando uma peça.

"Tudo bem, você deve estar se sentindo solitário também, não é? Digo, sem nenhuma palavra amiga para te completar." , cá estou eu, conversando com um livro.

Pego uma caneta, - a minha favorita, à propósito - e apoio o livro sobre a cama, e deito-me de bruços.

"Eu, Park Jimin, serei o responsável por escrever as suas primeiras palavras, pequeno livro, a sua história está em minhas mãos."


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É isso gente, espero que tenham gostado. x) ❤

The Ghost • { pjm + jjk }Onde histórias criam vida. Descubra agora