Noite vermelha

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Escutava gritos e descia as escadas pulando, lentamente, como se estivesse brincando, afinal eu era uma criança na época. Ao fim da descida dava de cara com um homem alto, moreno, de cabelos escuros pequenos recém cortados dando um forte tapa na minha mãe, eu parei e observei ela caindo sobre uma mesa de vidro quebrando-a em cacos, a cena diante de mim fazia meu corpo tremer e minha força se esvair; por alguns instantes, minha visão ficou turva, meus pulmões imploravam por um ar que parecia ter se esgotado ao meu redor. Eu respirava forte e ofegante e o barulho da minha respiração ecoava dentro de mim; de repente, vejo minha mãe segurando um pedaço de vidro pontiagudo que refletia uma mistura de sangue e lágrimas que escorria por ele. Seu choro era intenso enquanto ela levantava e um grito alto e agudo ecoou quando ela cravou a caco na cabeça do homem que tombou ao chão. Aquele homem esguio de aparência familiar...aquele homem era meu pai.

O nervosismo ainda tomava conta de mim quando um puxão forte em meu braço me arrancou do devaneio, um puxão que marcou meu braço com sangue. Com sua mão ainda ensanguentada minha mãe me olhou sorrindo, não de felicidade, mas de alívio e falou:

- Alex, meu filho, vamos embora.

Eu olhei para trás e vi meu pai caído no chão sem se mexer e seu rosto já se banhava numa poça vermelha que pintava suavemente o carpete branco. Sinto ela me puxando, me levando para fora da casa e me deixando dentro do carro sozinho.

Ouço o ruído matinal do despertador e acordo abruptamente tentando achar um pouco de ar para meus pulmões , um calor intenso fazia meu corpo suar encharcando meus lençóis. Levanto e vou em direção ao banheiro, tiro meu moletom preto e entro no box para tomar uma ducha, sinto a água gelada cair sobre meu rosto e uma sensação de paz, afinal estava sozinho em casa e adorava me refrescar com banhos gelados. Assim que termino, me seco na tolha que estava no banheiro, pendurada do lado de fora do box e vou em direção ao meu quarto, pego uma jaqueta de couro preta que tinha guardada em meu armário , pego outra calça preta com um rasgado no joelho que o deixava a mostra , pego uma camisa branca qualquer que estava no guarda roupa e me visto, penteio meus cabelos para trás, pego minha mochila, meu maço de cigarros e vou saindo em direção a escola.

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