Capítulo 5

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Sábado, 28 de julho de 2014

12h10



O ambiente no sétimo andar ficava cada vez mais tenso á medida que as horas iam passando, mais lentas do que nunca naquela espécie de prisão. As pessoas já estavam irritadas e entre elas o tema mais recorrente era a injustiça do tratamento preferencial dado ao notável oficial, bem diferente daquele outro oferecido aos cidadãos comuns em circunstâncias semelhantes. Na opinião de Emily Baxter, naquele súbito furor pela igualdade, sobretudo entre alguns dos homens mais conservadores e obtusos que ela conhecia, decorria muito mais do amor-próprio exacerbado de cada um que de um desejo real por um mundo melhor. Muito embora, isso ela tinha de admitir, eles estivessem cobertas de razão.

    Volta e meia alguém olhava sem convicção para a Sala de Interrogatórios, quase torcendo para que algo realmente acontecesse, apenas para justificar todo aquele transtorno. A única coisa que lhes restava era trabalhar na papelada burocrática dos seus casos individuais, o que, aliás, consumia 90 por cento do tempo de um detetive de policia. Mas paciência tinha limites: não era humanamente possível ir além de certo ponto de uma vez só. Os treze mais exaustos, que já haviam completado 13 horas de turno, haviam transformado a sala de reuniões numa espécie de dormitórios, escondendo as colagens medonhas de Wolf com um quadro branco e apagando as luzes na esperança de cochilar um pouco antes de começarem o turno seguintes.

    Simmons esbravejou quando, pela sétima vez, alguém pediu permissão para deixar em carácter excepcional o andar blindado. Depois disso ninguém ousou procurá-lo para pedir o que quer que fosse. Todos possuíam um motivo mais do que compreensível, e ele tinha plena consciência de que suas medidas drásticas teriam um impacto negativo, talvez irremediável, sobre outros casos tão importantes quanto aquele, mas... fazer o quê? Seria bem melhor que ele não fosse amigo pessoal de Turnble, detalhe que seguramente se voltaria contra ele mais tarde, por mais que soubesse que agiria exatamente da mesma forma se o prefeito fosse outro. O mundo inteiro voltava seus olhos para a policia Metropolitana de Londres. Se eles se mostrassem fracos, vulneráveis, incapazes de evitar uma morte anunciada, as repercussões seriam desastrosas.

    Como se isso não bastasse, a comandante Vanila havia se apoderando da sala dele, obrigando-o a se instalar temporariamente na mesa de Chambers, que se encontrava em férias pelo Caribe. Simmons imaginou se a notícia dos assassinatos já havia chegado aos ouvidos do experiente detetive, bem como se ele, caso estivesse presente, seria capaz de jogar alguma luz sobre a bizarra investigação que agora tinham em mãos.

   A detetive Baxter passara boa parte da manhã tentando localizar o proprietário do apartamento em que o monstrengo fora encontrado. Segundo o homem, os locatários eram dois jovens recém-nascidos com seu filho recém-nascido. Era bem provável que o casal tivesse contribuído com partes de seu corpo para a construção do cadáver híbrido e ela nem quis imaginar qual teria sido o destino do indefeso bebê. No entanto, avançado na investigação, aliviou-se ao constatar que na sua base de dados não havia nenhum registro do casamento dos tais jovens: tudo indicava que eles haviam fornecido dados falsos ao ingênuo locador.

   Ao ligar de volta uma hora depois para interpelar o locatário, espremeu-o até descobrir o que de fato acontecera: ele havia recebido uma proposta diretamente por carta, oferecendo pagamento em dinheiro vivo, e os alugueis vinham sendo deixado na caixa de correio do seu próprio apartamento. Ele jamais encontrara seu inquilino pessoalmente e tinha jogado no lixo todos os envelopes. Apavorado, pediu que não o denunciasse pelos impostos sonegados, e ela aquiesceu, sabendo que cedo ou tarde o fisco acabaria abocanhando o sujeito. Além disso, não queria mais trabalho para si, já havia perdido tempo demais naquele barco furado. 

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