-Eu quero o meu namorado comigo, não na rua até tarde.
Ela fala brava e a observo melhor, ela está trêmula mas eu estou feliz, finalmente consegui uma promoção.
Tento abraçar ela mas Eleonor me empurra.
-Não tem necessidade de ser agressiva.- digo e logo me afasto dela.
-Não tem? Uma promoção é mais importante que eu?- diz choramingando.
-Estou pensando no nosso futuro, não lembra? Você que me encorajou a me esforçar tanto, a ficar o máximo de tempo que podia lá- digo e ela vira a cara. -Agora que fui promovido posso ficar mais tempo em casa, podemos estudar mais juntos, posso descansar melhor agora.
-Eu não ligo pro seu descanso, eu não ligo para suas motivações, falei para você ir fundo? Sim, mas você sempre foi relaxado, nunca pensei que realmente iria se esforçar. -chego mais perto dela, ela recua e olha nos meus olhos.
-Tenho trabalhado dez horas por dia, estudo e no resto do tempo dou toda a minha atenção para você, mesmo morto de cansaço, prefiro estar com você. Agora, você me diz que não confia em mim? No meu esforço. Eu estou trabalhando para poder dar para você um futuro melhor, toda a minha vida gira ao seu redor. -ainda com os olhos marejados Eleonor da um sorriso debochado.
-Ah, o órfão está magoado?- ela diz com um tom de deboche.
Dou uma última olhada na cara dela antes de sair batendo à porta de nossa casa, e começo a andar sem rumo pelas ruas.
A alegria de antes se foi à um tempo, eu deveria estar em casa agora, com ela, talvez devêssemos estar em um restaurante comemorando, mas não, e agora, estou aqui sentado na calçada em frente de um bar, sem coragem pra entrar mais também sem coragem para voltar para casa, estou me sentindo culpado, culpado por ter contado isso a ela.
O fato de saber que isso não é minha culpa só piora, por que eu me sinto traído, ela pegou o que mais me magoa e jogou na minha cara, algo que sei que foi minha culpa.
Fui eu que o maldito drogado seguiu, e também fui eu que fiquei sem reação e não fiz nada quando meus pais estavam mortos com tiros nas cabeças, eu estava paralisado, não consegui chamar a polícia a tempo, consegui fazer nada além de desmaiar, eu devia ter dado o dinheiro quando ele pediu, longe de casa, em um beco, devia ter dado os malditos trocados que ele pediu, mas não, eu tinha que guardar todos os trocados que tinha para comprar bala no dia seguinte? Não é?
Volto para a calçada e deito, mergulhei tão fundo em meus pensamentos que meu corpo ou meu subconsciente agiu sozinho, entrei no bar, comprei a bebida mais cara que tinha, e agora aqui estou, deitado na calçada, igual um bêbado idiota que nem bebeu, hilário? Não, tudo bem.
Nunca fui bom em contar piadas mesmo
Não vai ser agora em um momento em que estou me afundando na tristeza que vou.
Tento beber o álcool deitado, o que claramente só me deixa molhado, mal entra alguma coisa na minha boca.
Estou exausto fisicamente e mentalmente, realmente não ligo se gastei um bom dinheiro na bebida e nem vou bebê-la, por que eu era pobre e miserável, talvez nem tivesse onde morar agora.
Rio com minha própria amargura.
Será que ela já teria jogado minhas roupas na rua? Ou talvez até tacado fogo, Eleonor é instável, faz tudo no calor do momento e não sei se isso me agrada agora.
Penso em ir ver se está tudo bem, por mais fodido que eu esteja não gostaria que nada de mal a acontece-se.
Mas que se foda também, vamos acabar brigando novamente.
E aí, bem aí, vamos realmente terminar tudo, tudo que construímos desde os nossos quatorze para quinze anos, vamos descartar quatro, quase cinco anos, de namoro, de sonhos que construímos juntos.
Fecho um pouco os olhos, talvez só para descansar, talvez só para um cochilo, talvez para dormir profundamente e só acordar daqui 8 horas
Mas quem disse que eu iria conseguir o que queria ? Ah, hoje realmente não é o meu dia
Abro os olhos e vejo uma garota olhando para mim
-Você não está bebado- fala me analisando
-E você é uma intrometida- A desconhecida revira os olhos mas continua me olhando
Na posição que estamos, consigo ver por baixo de sua saia, afinal, se ela desse mais um passo ia ficar em cima de minha cabeça
-Calcinha da moranguinho ? Adorável- volto a fechar os olhos mas da pra saber claramente que ela se exaltou, dando um pequeno pulinho, teria ganhado um susto ? Não sei se isso é realmente adorável ou ridículo, dois extremos
-Seu tarado! Não tem vergonha na cara ?- Ela praticamente grita e abro os olhos a olhando sério
-Acho que é você que não tem vergonha, está de saia e está praticamente em cima de mim, aliás, sou comprometido- falo calmamente enquanto a vejo ficar corada e da a volta pelo meu corpo e logo sentando na calçada, ao meu lado
Por educação, mas sem vontade, sento
-Você parecer ser novo, quantos anos tem ?- ela olha na minha cara com as sobrancelhas arqueadas
-Que horas são ?- ela olha em seu relógio e vira para mim
-Duas horas
- Então tenho 19- ela me olha confusa mas parece logo entender
-Está fazendo aniversário ? Ah meu Deus! Parabéns- dou um pequeno riso, a primeira pessoa que me dá parabéns é uma desconhecida e não a pessoa que amo, porra, a vida é uma fodida mesmo
- obrigado- falo baixo, quase sussurrando
- Não parece estar tão feliz, pode me contar o que houve ? Sem pressão- ela dá um pequeno sorriso, um sorrisos que deve deixar todos confortáveis, acredito eu
-Ganhei uma promoção- dou um sorriso triste
- Mas isso é ótimo !
-Ah, as consequências desse promoção não foram legais- dou um sorriso forçado a ela
-Se distanciou de alguém ? - ela me de um olhar de compreensão, mas também de pena
Essa conversa vai render
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looking back
De TodoQuando Noah relembra seu passado, para ver o quanto cresceu, quantas coisas superou, e agradecer ao seu eu passado, por ter aguentado nas fases mais complicadas