Prólogo

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Correndo para que nenhuma arma a atingisse, prometeu a uma galinha coisas ao desespero, seu pedido era simples, podia ser atendido.
A trouxa em suas costas estava pesada e dificultava um pouco a corrida.
O velho feito de gordura corria em seu encalço como se fosse evitar o furto fazendo um esforço físico que não fizera em anos. Os gritos podiam ser ouvidos por todos que estavam trancados em suas casas, ignorados. Algum dia o velho morreria por causa da sua ganância, ou por um infarto. Alguém que se aproveita de miseráveis não tem bom apreço aos seus olhos, se beneficiar da fome e desespero de famílias é grotesco. Pessoas que não tinham nada passam a ter menos ainda, dívidas que nunca param de aumentar.

  Em algum momento do trajeto o comerciante desistiu. Isobel partiu então rumo a sua casa, se espremendo entre becos e vielas até chegar ao lugar onde havia largado suas roupas.Deixou a trouxa no chão e então começou a se despir, tirou a calça, o casaco e por último o capuz. Vestiu com pressa o vestido já rasgado de tão gasto, nem lavando voltava a aparência de limpo de tão velho que estava.
Socou a roupa na trouxa a jogando nas costas e voltando a andar rumo a sua casa. Não estava longe. Um suspiro de alívio lhe escapou quando viu o pequeno cubículo que chama de moradia. Estava à salvo, junto a comida para alguns dias nas costas.
  Bateu à porta três vezes, uma batida em cima, uma no meio e um chute em baixo, a porta demorou uns segundos à mais que o normal para ser aberta, estranhou. Uma mão a puxou para dentro com pressa, definitivamente aquilo não era só preocupação, o homem estirado no colchão de sua mãe lhe comprovou isso. O rei, todo ensanguentado. 
  - Mãe...
  - Eu sei, eu sei! - o desespero era evidente em tudo de sua mãe, deixou ela respirar fundo e começar a explicar sem questionamentos, nem sabia por onde começar. - Ele está morrendo, o ferimento é mais do quê eu consigo dar conta! - tomou outra golada de ar e com uma voz fraca soltou sua frustração num suspiro: - Eu não sei o que fazer.
  Isobel olhou então um vestido, banhado de vermelho, que estava sendo usado na tentativa de estancar o sangue que jorrava abundantemente do ferimento abdominal de Rathbone, nem precisava olhar pra saber que era profundo.
  Cogitou as alternativas, poderia deixar o rei morrer ali, não tinha nada a ver com isso e evitaria problemas com os rebeldes, já tinham problemas demais com o que se preocupar. Poderia tentar contornar o ferimento mas sejamos realistas, só pioraria as coisas. Também tinha a opção de entregar o homem quase morto ao líder do grupo e pedir como recompensa uma vida melhor para sua família assim que ele subisse ao poder. Mas infelizmente, na mente perturbada da morena, ela não é esse tipo de pessoa.
  - Tudo bem, mãe. Vou trazer alguém que saiba o que fazer. - largou a trouxa com comida ao lado do armarinho caindo aos pedaços e foi rumo a sua irmã que dormia em seu colchão, também no chão, e lhe deu um beijo na testa. Talvez não voltasse viva.
  - O que você vai fazer? - Helena arregalou os olhos imaginando alguma loucura que a filha maluca pudesse fazer. Não sabe de quem a mais nova puxou genes tão fortes.
  Isobel prendeu os cachos num coque firme, ama seu cabelo mas para o que pretende fazer  é melhor uma visão sem impedimento algum. Foi rumo à porta, não acreditava em como era burra, arriscar a vida por um estranho? Mas ela sabia que não era só por ele, era pelo reino também, era por sua mãe, sua irmã.  O reino não era perfeito mas o reinado do rei Arthur não era ruim e estava sempre melhorando, não era um rei abusivo com seu povo. Se os rebeldes conseguissem o que queriam, como seria? Trocar a certeza por uma incógnita? Isobel não é a garota mais ajuizada, porém quando as consequências não atingem somente a si ela tende a pensar na melhor forma de resolução para os envolvidos.
  - Mãe, se eu não voltar até os primeiros raios de sol, coloque o rei para fora e tranque as portas. Você nunca chegou a ver ele além das festividades e anúncios reais, muito menos essa noite. Se está pensando em como vai conseguir fazer algo assim com alguém, olhe pro canto do quarto. Ali está o motivo, dormindo serenamente tendo a certeza de que vai acordar amanhã e comer um monte de coisas gostosas. Não somos pessoas ruins mas não estamos em condições de sermos pessoas totalmente boas. Estou indo. Não abra pra ninguém além de mim. Darei três batidas, um intervalo e mais uma batida. Qualquer outra sequência, não sou eu. Trouxe os pãezinhos que você gosta.
  E essa foi a declaração antes de correr de volta ao beco.














Autora on: Obrigada por ler minha primeira estória aqui♡♡. Postei antesde finalizar porque quero saber a opinião de vocês, então comentem se puderem ♡♡. E votar pra me dar uma força seria daora também kkkkkkkkk♡.

Ficção Histórica: Soul SacrificeOnde histórias criam vida. Descubra agora