CAPÍTULO 1

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Não é como se a coragem da pequena fosse devido a alguma habilidade oculta em qual se garante para se proteger, aprendeu desde nova que se arriscar é a chave da sobrevivência. Estava acostumada com esses cenários, talvez uns cenários um pouco menos perigosos, já que não é comum ela ir direto pra linha de fogo como estava fazendo agora.
Avistou um cavalo perdido no caminho, um cavalo da tropa real. Mesmo que nunca tenha andado de cavalo estava cansada demais para ter receio de não saber cavalgar , montou no cavalo com alguma dificuldade. Já tinha visto tantas vezes os guardas muntados imponentes nesses cavalos que tentou reproduzir o que se lembrava, balançou as rédeas e o cavalo disparou pela estrada à fora, sorte que era a direção  certa.
Com a velocidade do cavalo não demorou muito a ver os primeiros corpos estirados no chão, a maioria dos rebeldes, e um ou outro de algum guarda real. Estava chegando no ápice da disputa e a garota não sabia parar o animal. Puxou as rédeas para trás afobada e o cavalo relinchou ficando apenas com os cascos traseiros no chão, junto com Isobel que grunhia de dor pela queda.
Levantou alongando o corpo na intenção de a dor passar rápido e grunhiu mais uma vez pelo desconforto.
Sua intenção de correr para chegar ao seu objetivo, se escondendo para ter um pouco de segurança, foi impedida por uma espada em seu pescoço. Sua espinha gelou, engoliu o bolo de saliva em seco fazendo um barulho alto que pareceu engraçado para a pessoa atrás de si.
  - Você é uma rebelde? Roubou esse cavalo de um dos guardas que matou? - perguntou como se não acreditasse realmente que a garota pudesse matar alguém.
  - Não, eu...
  - Uhn... - apertou o corpo contra o da morena - Você não é uma dama mas acho que posso fazer uso. - esfregou a pélvis contra Isobel, não é como se a garota fosse a mais corajosa de todo o reino, mas com certeza era a mais explosiva. Segurou a espada com as mãos e forçou para afastar um pouco do seu pescoço para assim poder virar o rosto e encarar aquele homem. Estava queimando e seus olhos demonstravam isso.
  - Vai ter que me matar antes. - rosnou como um animal raivoso. Tudo nela era tão selvagem que o homem ficou desnorteado por um tempo, apenas a encarando tentando decifrar se aquilo era apenas uma garota mesmo. Foi a última coisa que ele fez antes de ter uma faca de açougue enfiada na garganta. Largou a espada e cambaleou para trás tossindo, com as mãos agora onde estava o ferimento fatal. Um rebelde o tinha esfaqueado, esse que decidiu não ser suficiente e continuou a perfurar o guarda. Isobel olhava tudo com apatia, estaria chocada se fosse outra pessoa ali mas estava com raiva daquele homem, nojo. Não sentiu nada quando virou as costas.

Se embrenhou nos becos e analisou o território que teria de percorrer para chegar ao homem grande que cortava as cabeças alheias como se fossem bonecos de papel. Não estava longe, os rebeldes só tinham tempo pra pessoas fardadas e uma garota com um saco de batatas no corpo não merecia seu tempo. Os guardas eram o problema. Eles julgavam os rebeldes com os mesmos critérios destes, e bem, ela parecia uma rebelde.
Mais uma vez correndo pelos becos e pensando na merda que iria fazer, isso vai colocar todos em sua casa na linha de frente. Não teria como defender à si própria, imagina defender elas três. O rei terá uma dívida com ela, é bom que pague.

Estava agora numa viela escura que não a deixava ser vista, olhava como aquele cara era habilidoso com a espada. E não só com ela. Seus ataques de mão limpa também eram esmagadores. Esse é o general de guerra e príncipe de Griffin, Gray. Um homem a se considerar.
  - Príncipe. - chamou um pouco baixo e não ganhou a atenção que queria. O homem estava focado, com os ouvidos atentos, sua atenção era nos dois que estavam tentando o matar agora. - Príncipe, é sobre o rei, seu pai. - falou mais alto e não foi somente  o príncipe à escutar. Um dos rebeldes que estava mais perto ouviu. Esse que deixou o príncipe de lado e foi em direção à voz. Se alguém veio relatar sobre o rei ao general, é porque esse não está levando a revolta muito bem, talvez estivesse em apuros. Muita gente não estava ao lado do líder, essa pessoa estava tentando ajudar o rei. Porém, sua intenção de acabar com a pessoa de recados antes que essa estragasse os planos foi totalmente subjugada pela espada que cortou a metade superior da sua cabeça, erro fatal dar as costas ao monstro real.
  - Dê as caras. - ditou autoritário com a espada apontando em direção a voz. Isobel poderia ser marrenta com questão de autoritarismo mas entendia a situação em que era vivida. Estava no meio de um ataque à família real nesse exato momento, o rei estava prestes a morrer, não era hora para disputar quem obedecida quem. Olhou ao redor antes de se mostrar, havia agora bem poucos rebeldes, a maioria estavam mortos e a minoria fugia, ou tentava fugir. - O que tem a dizer? - indagou agora conseguindo ver a pessoa de todo, um pouco de sangue no rosto, e nos ombros, não pertencentes a ela o deixando mais atento. Não era um homem que subestimava as mulheres, as temia na verdade.
  - O rei está muito ferido, quase morrendo, não pudemos fazer muito além de lhe dar um esconderijo e tentar estancar seu sangue. Temo de que se não o levarem a um médico imediatamente, ele não sobreviva. - Isobel não desviou o olhar por um segundo, as palavras fortes e sem hesitação não deixaram brecha para descrença, a garota sempre foi expert em deixar as emoções transbordarem em seu rosto, já entrará em muitos conflitos por tal.
  - Onde?
  - O levarei lá. Seria melhor à cavalo, é um pouco longe. - Gray a olhou de cima à baixo, julgando por sua vestimenta a garota é moradora do subúrbio de Griffin.
  - Se estiver mentindo, não terei piedade. - deu o ultimato antes de gritar para que alguns de seus homens trouxessem os cavalos e o acompanhassem
  - Príncipe, talvez seja melhor levar uma carruagem para transportar o rei, ele perdeu muito sangue e o galope pode piorar muito a situação.
  - Não temos uma carruagem preparada para agora. - o príncipe respondeu a moça e começou a afirmar em sua cabeça de que seu pai era forte, aguentaria isso.
  - Temos uma carroça. - lembrou de ter visto uma em um dos becos mais largos. Os guardas estavam vindo com os cavalos e a equipe que acompanharia o príncipe na busca pelo rei. Isobel começou a andar, agora pela rua, mas parou quando percebeu que o príncipe não a acompanhava. - Você não quer mesmo que eu vá sozinha buscar,  quer? - já havia ajudado muito até ali, não era sua obrigação se pôr em mais um risco que poderia resultar na sua cabeça rolando o chão caso encontrasse algum rebelde que teria a visto. - Eu não quero um guarda, quero  um brutamontes que pode arrancar a cabeça de alguém caso tente arrancar a minha. - ditou quando o príncipe sinalizou para que um dos guardas a acompanhasse. Esse que ficou em pose de ataque esperando a ordem do príncipe para matá-la, onde já se viu uma favelada imunda falar daquela maneira com o príncipe e general de Griffin?
  - Abaixe sua espada, Paul. - ordenou e andou até acompanhar a garota de língua solta. A encarou de cima, já que seus 1,95m de altura o permitia. - Não disse que meu pai está em sérios apuros? Por que ainda não estamos com a maldita carroça? - o general era alguém equilibrado, dificilmente perdia o controle, mas quem o conhecia sabia, seu ponto fraco é o pai e o irmão.
  Mesmo com a posse inabalável Isobel notava as pequenas rachaduras, e entendia. Era do mesmo modo com a mãe e irmã.
  - Porque você não teve o senso desde o princípio. - destilou antes de correr, acompanhada do príncipe,  até o beco de umas quatro casas à frente. Isobel foi em direção a carroça e algo pulou em sua direção. Mais um rebelde agora morto. Ainda bem que exigiu o príncipe e não mais um guarda qualquer.
  Pegaram a carroça e os guardas já os esperavam fora. A cena de Isobel montando o cavalo seria cômica em outro momento. Alguns guardas só não riram por respeito ao príncipe e ao rei, outros a olhavam torto como se fosse a coisa mais ridícula já vista. Subiu o vestido até acima do joelho para facilitar a mobilidade e olhou com escárnio para os guardas.
Não esperou resposta antes de galopar à frente de todos, em seguida o príncipe, os guardos e a carroça manejada por um guarda qualquer.
  Todos estavam atentos em caso de ser uma cilada. Com menos tempo do que levou para chegar ao príncipe, chegaram a sua casa. Em suas cabeças os guardas se perguntavam como o rei foi parar num lugar como esse. Isobel não pensou na velocidade que estava quando puxou novamente as rédeas de maneira afoita, a levando mais uma vez ao chão. Praguejou e refletiu que estava pegando o jeito, a queda havia doído menos que a primeira.
Foi até a porta sem se preocupar com a platéia, desferiu três batidas seguidas, um intervalo e mais uma batida. Sua mãe abriu às pressas.
  - Ainda está vivo? - perguntou à mãe que respondeu com um acenar de cabeça desesperado. - Príncipe, seu pai está aqui. - adentrou a casa seguida pelo citado anteriormente e por dois guardas. Gray foi direto ao rei e conferiu seu estado, ele mesmo pegou o pai nos braços e caminhou para fora na intenção de o colocar logo na carroça e o levar direto para o palácio. - Espere. - a garota pegou o colchão velho e ensanguentado que o rei antes repousava e levou até a carroça, o encaixando ali para então o homem ser posto novamente em cima dele. O príncipe subiu à carroça para amparar seu pai pelo trajeto. Prontos para partir, foramsem olhar para trás, nem dando tempo de Isobel fazer suas exigências. Ela estava contando com isso. O que faria agora? Sua mãe e irmã estavam vulneráveis, a vinda e ida da família real de sua casa não fora nada discreta, com certeza alguém viu, com certeza alguém virá. Foi um grande erro ajudar, estava claro agora.
Entrou para dentro e trancou a porta, tudo metodicamente, era o fim para elas.
  - Mãe. - sua mãe chorava já ao lado de sua irmã que ainda dormia, a pequena tinha problemas de audição. - Eu odeio eles.










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⏰ Última atualização: Jan 27, 2020 ⏰

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