AVISO
GATILHO: ABORTO ESPONTÂNEO.
Não leia se isso for te fazer mal. Mesmo que esteja leve, não muda o fato que pode lhe fazer mal.
******
"Calma, está tudo bem, respire e inspire, vai passar..."
"Mas talvez não passe."
"Talvez nada vá adiantar; talvez eu saiba perfeitamente disso."
"Tamaki, por que não consegue parar de chorar? Meu espírito esta mais uma vez abalado, contudo... Eu queria isso."
"Ou apenas pensava que eu queria..."
Como ômega, eu queria tanto me focar na carreira de herói que deixei algumas coisas para depois, uma delas a paternidade. Até que um dia decidi me arriscar e consegui engravidar, mas o resultado não foi um dos melhores, pois me arrependi assim que vi o positivo e odiei e neguei o meu estado por cada minuto. Felizmente Mirio me apoiou desde o início, mesmo ciente que eu, como seu ômega, não queria esse filho. De qualquer jeito já não importa agora, já que esse bebê nem existe mais.
Aborto espontâneo.
Aborto... É difícil de pronunciar, né? É o que eu repito para mim toda vez. Dói ouvir essa palavra, como se ela ficasse martelando na minha cabeça, e não consigo ouvi-la sem voltar a chorar.
É como se a minha mente me transportasse novamente para aquele consultório, naquele dia maldito. Eu estava com os papéis da consulta em mãos, havia insistido que era apenas uma consulta rápida, para checar se tudo estava bem, portanto estava sozinho. Iria descobrir o sexo do meu bebê... Mas agora sei que ele não terá essa chance.
Oh, Deus! Será esse um castigo por eu tê-lo rejeitado no começo? Eu seria um pai ruim?
Eu estava começando a amá-lo, estava começando a me imaginar como alguém que cuida, todavia não teria mais essa oportunidade.
Eu queria colo, não queria chorar na frente do médico, então me levantei e fui até o carro, onde sentei-me colocando as mãos presas ao volante, sem conseguir dar a partida.
Minhas mãos tremiam e as lágrimas rolaram.
Foi quando desabei...
Engasguei-me na minha saliva, esperneando batendo as mãos no volante enquanto tentava não gritar, chorando e descontando minha fúria no carro, antes de me afundar no banco com a chave balançando e fazendo aquele barulho irritante.
Eu estava desolado.
Doía, e ainda dói de maneira absurda.
Não quero sentir mais essa dor. Por que ela não vai embora?
As lágrimas foram descendo com privilégios de soluços, deixando-me com o aspecto ainda mais frágil e patético que o normal como se o meu coração estivesse quebrado, dolorido e frio. Eu só queria gritar e deixar toda aquela culpa ir pra casa, queria que aquilo fosse apenas um sonho, e que, logo eu voltaria pra casa com a notícia de meu filho estava bem.
Queria tanto que essa ilusão fosse verdade...
— Eu perdi... Perdi o meu bebê. Perdi o meu bebê, perdi ... — murmurei para mim mesmo com a voz cheia de dor e tristeza, sentindo os soluços me interromperem a cada tentativa de iniciar uma frase.
Logicamente não estava bem para dirigir, mas mesmo ciente disso, liguei o carro e com ele saí do estacionamento. Passei por todos os lugares antes de ter coragem o suficiente para chegar em casa e encontrar Mirio que com certeza me saudaria com aquela cara boba.
Ele sim merecia ser um pai... Ele queria tanto.
Ok, talvez eu tenha perdido o controle.
"Calma, estar tudo bem, respire e inspire, vai passar." vou repetindo a frase para mim mesmo, sentindo os lábios trêmulos ao perceber que ainda não estava pronto para encontrar o meu alfa.
Inútil. Eu não conseguia me acalmar por mais que eu tentasse, e isso deixou tudo ainda mais frustrante.
"Calma, calma. Você é forte, é muito forte."
Meu coração palpitava forte no peito, o ar faltando enquanto meus olhos tentavam se concentrar na rua para eu não cair ao abrir a porta do carro. Sem sucesso. Toquei minha barriga, chorando ainda mais por saber que nela, existia apenas um feto morto, uma criança que eu nunca terei a oportunidade de mimar e dar todo o carinho que eu havia deixado guardado.
Ali, estava a coisinha mais preciosa da minha vida, a mesmo que jamais terei a oportunidade de tocar.
"Esta tudo bem, não chore.
Esta tudo bem, não ouse chorar!"
Me levantei e sair do carro, segurando as lágrimas com todas as forças que eu pude. Abri a porta, e lá estava ele, sentado no sofá com a cara amassada de tanto assistir seriado.
Mirio abriu um grande sorriso que logo se desfez quando olhei em seu rosto. Eu estava frágil demais para aguentar tudo aquilo sozinho, tanto que meu orgulho foi embora naquele exato momento.
Eu estava tremendo, tentando processar toda aquela informação.
Estar tudo bem.
Tudo vai ficar bem. Não chore.
O alfa não perdeu tempo e correu a minha direção, sem perguntar nada, apenas me circulando com os braços e me puxando para um abraço a qual não pude recusar. Parece que esse foi o gatilho, e depois de sentir todo aquele calor, eu estava ainda mais em pânico. O retribuir com todas as forças que eu tinha, encontrando o devido apoio que eu precisava, me escondendo em seu ombro e ele permaneceu calado, começando a entender o porquê de todo aquele choro.
Ele era mole, sempre foi. E por mais que quisesse parecer forte, chorava junto comigo.
Não, nada estava bem naquele momento.
Nada ficaria bem.
— Eu perdi Mirio... Perdi o meu bebê, amor. — Ele arregalou os olhos assustado naquele momento, mordendo os lábios antes de olhar em meu rosto e secar minhas lágrimas. - Desculpa, amor. Me perdoa, por favor — fechei os olhos sem disposição nenhuma de olhar para qualquer coisa naquele momento — Eu perdi ele pra sempre, Mirio... eu perdi.
— Tudo bem, calma. — tentou me acalmar, aromatizando-me e penteando meus cabelos com os dedos.
— Não me peça calma, porra! Eu perdi ele, eu perdi o meu filho, Togata! — murmurei em um fio de voz, enquanto o sentimento de vazio queria me dominar.
— Eu sei, Amor. Está tudo bem, pode chorar. — com essas palavras eu já estava começando a aceitar seu carinho. Ele tentava esconder, mas eu percebi que ele estava chorando também só pelo trepidar de seu peito. Sua voz tremia apesar de seu esforço em mantê-la natural, tentando permanecer forte — Estou aqui, Tamaki.... estou aqui agora, amor — murmurou me puxando ainda mais para o abraço enquanto andava até o sofá — Eu deveria ter ido com você, deveria estar lá para te dar apoio.
— Não é sua culpa. — murmurei sentando no sofá.
— Também não é sua — disse terno, alisando minha bochecha molhada. — Pode chorar, vou ficar do seu lado.
"Está tudo bem, respire fundo, se acalme."
Talvez esteja passando, ou apenas o sono e exaustão estejam me dominando e, dessa vez eu não irei lutar.
"Se recomponha, não pode chorar toda hora."
Eu não posso fazer isso.
Eu...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Desalento (Miritama)
Fanfiction- Papa-fa! - a pequena falou suas primeiras palavras no colo de Mirion que mal se aguentou em pé com tal fofura. - Muu... Mufa... Papa-fa? - Sim meu amor, papai Alfa. - Eu disse já correndo com um sorriso no rosto para pega-la no colo e morde suas...