orgulho

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A casa estava silenciosa e escura, as janelas estavam fechadas e a porta do quarto trancado.

Não queria ver ninguém, não suportaria o olhar de piedade.

Eu não podia me humilhar desse jeito.

Eu não quero.

No canto da cama, sentado no chão frio e de cerâmica, eu me escondi enquanto chorava, sentia uma imensa dor no peito dominar o vazio, então mais uma vez eu estava destruído. Meus olhos inchados e olheiras de noites não dormidas denunciavam meu estado. Já faziam dias de implicância e faltas no trabalho, simplesmente, pois estava sem animo para colocar os pés para fora daquele quarto.

Ainda era recente, ainda dói e ainda vai doer.

Deslizei os olhos pelo berço na frente da minha cama. Um berço branco, com bonequinhos e vários brinquedos que o meu bebê iria adorar brincar, mas ele não pode, oras ele nem existe mais.

Nessas semanas, do ocorrido de cá pra lá, eu iria completar cinco meses de gestação. Quando o perdi, não tive tempo nem de lhe escolher um nome... Ele foi embora sem um nome para eu chamar. Não quero perde-lo sem poder gravar seu nome no meu coração.

Ele precisava disso; merecia ser lembrado, era o mínimo que um inútil como eu poderia fazer. Ele foi embora sem me dar o direito de lhe chamar pelo nome. Sem ter o direito de lhe tocar, ver o seu sorriso ou ao menos criar lembranças.

Qual nome eu daria?

Qual?

Eu não conseguia pensar e isso me deixava ainda mais angustiado.

Respirei fundo, vagando os olhos vazios pelo quarto. Eu queria me sentir bem, afinal, eu cheguei ao meio do caminho...

Mas quem raios eu estou enganando? Fui tão horrível por rejeitar um filho, antes mesmo de ele nascer. Eu não o merecia, ele não seria feliz comigo.

Levantei-me do canto frio e apertado que ficava entre a parede e a cama, voltando a chorar enquanto soluçava conforme as lágrimas iriam caindo, indo em direção ao berço e apoiando meu corpo sobre o divisor. Estava tudo pronto, eu poderia até ouvi-lo rindo de alguma bobagem de Mirio, ou chorando pedindo colo.

Queria ter essa experiência. Sei que eu não o queria não começo, mas agora eu quero. Eu quero beijar as bochechas gordas e poder falar que sim! Ele é o meu filho.

— Talvez tenha sido melhor assim, pelo menos você não vai ter que ver o papa alfa andando de cueca pela casa. — murmurei soluçando e sentindo os lábios tremendo. — Não me verá gritando com as minhas novelas, ou falando pro papa Alfa que ele não pode comer o meu pudim da geladeira. — respirei fundo, sentindo a voz falhar. — desculpa por não te aceitar no começo, mas eu já te amo... — gaguejei choroso. — E saiba que o papai vai sentir muita sua falta. — funguei desviando o olhar dos brinquedos e pegando um mordedor em mão. — o papai ômega te ama muito... E nós sentimos muita a sua falta... — a voz falhou novamente e, sem pensar em qualquer coisa, apenas me deixei levar pela mente sôfrega. — Me perdoa por ser tão horrível. Por favor, me perdoa. — soluçava conforme o choro ficava mais intenso, os olhos ardiam e as mãos tremiam ao olhar o mordedor na mão.

Toquei minha barriga e logo pude sentir o coração acelerando, o ar faltando e as lágrimas descendo e caindo de gota em gota das minhas bochechas.

Queria que ele me chutando, se mexendo de qualquer forma ali dentro. Eu o queria vivo. O coração se quebrou ainda mais naquele momento, como se houvesse feito uma rachadura nova e mais funda. Ela doía mais que as outras, o que me fez desatar a chorar o dobro.

Ele precisa de um nome.

Ele não pode ir sem um nome.

Pensa Tamaki! Não é impossível.

Desalento (Miritama)Onde histórias criam vida. Descubra agora