ATÉ MEU ÚLTIMO SUSPIRO

VII

- Era assim como você agia antes - Respondeu Noah, ainda sem ao menos olhar em seus olhos.

- Mas agora estamos falando sério. Quero me conte como anda sua vida, seus sentimentos. Seus pais existem? Onde você mora? Quais seus sonhos? Não sei absolutamente nada sobre você, eu tô literalmente andando com um estranho agora. Não confia em mim, é Isso? Eu quero saber, por que não me diz?

- Por que você é tão obcecada em mim? Eu não tenho que lhe dar satisfação sobre minha vida nem como me sinto. Eu me sinto completamente bem, e minha vida é assim como a sua. E é infantil você me considerar "misterioso", você é a única que pensa assim. Todos me tratam como alguém normal, não pode fazer o mesmo? - Diz Noah; aparentemente alterado,porém com sua voz ainda baixa.

- As vezes sinto que, você não confia em mim. É uma droga. Você nunca me conta nada, já eu lhe contei tanto sobre minha pessoa que não duvido que conseguiria fazer um livro sobre mim...

- Contou por que quis. E quer saber de mim? Eu estou muito bem. Muito mesmo, como nunca estive antes. Também estou saudável, não precisa de ficar com seu mi-mi-mi de preocupações. Agora tenho que ir, me ocupar.

Noah, sem ao menos olhar para trás, saiu andando e deixou Emily sozinha. Emily sentou-se no banco do parque, que ficava de frente para um belo e extenso lago, que ficava sob várias constelações de estrelas. De seus olhos, escapavam gotas frias; lágrimas de arrependimento pelo o que havia dito, talvez ela tivesse se intrometido demais na vida de Noah. O mesmo, também havia saído em prantos.

Ele não quis em momento algum ser grosso, ele só não queria que seu "Pedaço de universo" continuasse as perguntas. Noah não queria mentir, e também não queria ter que contar sobre sua trágica história. Então decidiu apenas ir embora dali, talvez isso fosse evitar muita coisa. Porém ele se sentiu pior ainda, e o medo de perder sua garota apenas aumentou. O vazio que havia dentro dele, apenas expandiu, o medo e a angústia dominaram Noah. Ele precisava de ajuda, mas também não queria ser incômodo na vida de mais alguém.

O garoto precisava de fugir de si mesmo, o mais rápido possível, porém se encontrava sozinho, sem ninguém, desolado.

- Se talvez isso tudo acabasse de uma vez...

Aquilo parecia ser a única opção para o mesmo, já aflito com os últimos acontecimentos. O sentimento de descrença, de render-se para aquilo que tanto o chamava, já o dominava, e não havia nada que pudesse arrancar aquela amargura. Mas o medo de deixar tudo para trás juntamente com a pessoa que ele mais amava, também o acompanhava naquele momento.

Emily se encontrava confusa; porém a mesma pensava em não mexer em mais nada. Ela não queria ser um incômodo para Noah, então achou que seria uma boa escolha deixar até o dia seguinte, a garota tinha a crença que ele aparecia na velha sala de dança e tudo voltaria ao normal, afinal: "era apenas uma confusão, tudo vai ficar bem, se ele confirmou isso, quem sou eu pra ser contra?". Era o que dizia a si mesma para ficar calma.

"A dança é a expressão da alma e sinfonia do coração. E para entender é preciso estar nela."

E lá se encontrava Noah : Tentando fugir de suas dores através de seus passos. E ele estava conseguindo:toda energia negativa, saía lentamente daquela sala, e de seu rosto. Naquele lugar, se encontrava apenas ele e ele, como ninguém nunca presenciado antes. A confusão interna dentro de sua mente, e as vozes de sua cabeça lhe dando ordens impossíveis de se cumprir, tomando o espaço que deveria ser da música que dominava seu corpo, o fazendo parar e olhar fixamente para seu reflexo. A música não havia parado; ela soava como trilha sonora de sua infeliz vida.

"If I love you was a promise
Would you break it if you're honest?
Tell the mirror what you know she's heard before
I don't wanna be you anymore"

Sim. Aquela era aparentemente a decisão do mesmo, aquela que as vozes de sua cabeça o mandava fazer. Um pensamento um tanto quanto egoísta; porém aquele sombrio som ecoava em sua mente:

"Vá e faça"

Ele não queria isso. Não era a vontade de Noah. Mas algo o dizia que aquilo acabaria de vez com todas as dores em seu corpo, e tiraria o enorme cansado que a alma do mesmo sentia.

"Talvez essa não seja a solução ideal"
"Vá e faça."

É

Ele fez

Ele obedeceu as vozes de sua cabeça.

Enquanto a luz do sol raiava lentamente, seu andar já lento e cansado, lá ia Noah obedecendo quem mais temia. Deixando tudo para trás, indo para a sacada daquele destruído e vazio prédio : assim como o mesmo.

Era sua decisão
E a despedida já estava feita
Agora só obedecer a seus pensamentos
Malditos pensamentos.

ou
Talvez
não?