Capítulo Três

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Eu realmente preciso disso. Preciso me desligar de tudo a minha volta, eu já não vivo, apenas sobrevivo.

- Hurt

A EXPLOSÃO de raiva de Jennie era como uma obra de arte. Primeiro, os olhos dela faiscaram como um fogo escuro. Depois, estreitou-os como se estivesse tentando decidir onde esmurrá-la. Lalisa não se importaria. Mereceria o que recebesse. Afinal, agira como uma cretina.

— Venha. Lá fora — disse ela, meneando a cabeça na direção da saída.

Sem saber se a ouvira direito, Lisa franziu o cenho, confusa, enquanto a Kim abria caminho entre ela, a banqueta do bar e os três sujeitos que bloqueavam seu caminho.

O grunhido dela se perdeu em meio ao barulho do clube. Com ela de salto alto, os lábios estavam próximos o bastante para beijá-la. Os seios, cheios e macios debaixo daquele vestido leve, roçavam seu peito. Percebeu que não era um gesto deliberado. Era experiente o bastante para saber. Mas foi um gesto sensual, que a deixou excitada como nunca.

— Venha — disse ela novamente, mas, dessa vez, acenando com a mão para chamá-la.

Ainda atônita, mas com o lado racional de seu cérebro a mil, devido à sensação dos seios dela deslizando junto ao seus, Lisa seguiu-a. Com o olhar acompanhando-lhe os movimentos dos quadris, enquanto rumavam na direção da saída, não a perdeu de vista, nem mesmo quando desviou brevemente seu caminho até onde sua melhor amiga estava.

— Estou de saída — disse, acenando com a cabeça na direção das costas de Jennie.

Jisoo seguiu-lhe o gesto, ergueu as sobrancelhas com ar impressionado e fez um gesto positivo com ambos os polegares.

— Fico contente em ver que você está usando bem o seu tempo — disse com um sorriso largo antes de rumar para o centro do barulho do clube para se divertir ao seu estilo habitual.

Lisa não se sentiu mal em dispensar a amiga por ora. E uma vez que a tenente-comandante estava usando uma camiseta com dizeres que anunciavam aos quatro ventos que era membro das fuzileiras navais em letras garrafais, também não experimentou culpa alguma por não fazer apresentações.

Por um instante, ocorreu-lhe que, se reunir a Jisoo e ao restante da turma, talvez fosse mais sensato do que seguir Jennie até a saída do clube. Aquelas pessoas eram treinadas para lhe darem cobertura. Mas certas missões tinham de ser conduzidas sozinha.

Saindo pelas portas do clube para o ar quente da noite, concedeu-se um momento para se adaptar à ausência do barulho. Nada melhor do que o silêncio, com um pouco dos sons do oceano ao fundo, para relaxar.

Jennie estava parada um pouco além da entrada do clube, no início da construção pintada de branco, onde um caminho de madeira se curvava na direção do oceano. Com os punhos cerrados junto aos quadris, respirou fundo, ainda com os dentes cerrados, os olhos faiscando.

— Tem certeza de que quer tirar satisfações comigo em particular por insulto? — perguntou ela antes de lhe dar chance de dizer algo. Abriu seu sorriso mais charmoso para indicar que sabia o que a aguardava e que não protestaria contra a furiosa retaliação. — Não quer testemunhas?

— Na verdade, achei que você estava precisando tomar um pouco de ar. Você sabe, para tirar a idiotice causada por testosterona na sua cabeça antes que pudesse fazer um comentário ainda mais imbecil. — Então, com a fúria se dissipando dos seus olhos, Jennie riu.

Riu? Onde fora parar a raiva e indignação? Era como mercúrio, mudando tão depressa que ela tinha dificuldade em acompanhá-la.

E, Deus do céu, como era tentadora. Era sexy e divertida, dona de tanta energia que a fazia sentir-se viva novamente. Não tinha certeza de que queria se sentir assim outra vez, contudo. Talvez fosse melhor ideia dar meia volta e tornar a entrar no clube ou pegar a caminhonete e ir embora, pensou, tocando as chaves no bolso.

Enchanté • JenlisaOnde histórias criam vida. Descubra agora