Introdução

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   02 de Setembro de 2000 – Edifício Matarazzi – São Paulo – 02:45 AM

   Naquela madruga fria, chuvosa e silenciosa uma viatura de polícia atendeu a um chamado, à primeira vista, coisa rotineira, afinal de contas, a central pediu que fosse ao edifício Matarazzi, um hotel de classe média alta, nada de tão escabroso acontecia por lá. Vez ou outro alguém chegava da balada um pouco alterado e tinha de passar a noite na delegacia.

   A chuva batia no teto do carro emitindo um constante "plic-plic", enquanto o limpador de para-brisa empurrava para os lados pequenos jatos d'água retirados da superfície do vidro dianteiro. Os pneus corriam pela fina lâmina de água formada sobre o asfalto e abria caminho pelo meio aquoso. Chegando ao local da ocorrência, tivera de manobrar a viatura no meio da rua, pois, estavam no sentido contrário.

   Depois de estacionarem na frente da portaria, os dois policiais desceram do carro erguendo os colarinhos das jaquetas para se protegerem dos grossos e gélidos pingos de chuva. Alguns passos depois eles estavam sob a proteção do toldo azul que cobria toda a entrada do hotel. O porteiro destravou a porta de vidro escuro e abriu para que os homens da lei pudessem entrar. Ao passarem pelo funcionário da portaria, cumprimentaram-no com um aceno de cabeça um leve toque no quepe preto com o brasão da Polícia Militar. Dirigiram-se ao centro do saguão principal aonde encontrava-se uma mulher sentada num comprido banco de madeira e chorando copiosamente. De pé ao lado dela estavam um homem de calças pretas e camisa branca, entregando lenços para que enxugasse as lágrimas, e também um senhor de meia-idade trajando social e limpando os óculos numa flanela laranja.

   — O que aconteceu? — questionou um dos policiais aproximando-se do grupo.

   O senhor coloca os óculos na face e aproxima-se do policial com dois passos lentos e calculados. Respira fundo e após uma enorme pausa diz:

   — O quarto 1810... Quer dizer... Vocês precisam ver, não dá para explicar. — Ele faz um movimento lateral com uma das mãos como se indicasse o caminho que os policiais deveriam seguir.

   O PM que conversava com o senhor, olhou para trás e chamou seu companheiro para que o acompanhasse. Aproximou-se do homem que consolava a mulher e disse:

   — Não saiam daqui! — Após o homem menear afirmativamente com a cabeça, ele prossegue a caminhada em direção ao elevador.

   A máquina lenta e claustrofóbica abrigava os três homens em seu interior espelhado e iluminado por lâmpadas alvas e quentes. O silêncio reinava, com exceção a alguns pigarros e tossem forçadas. O visor na lateral da porta de aço mostrava número por número do zero ao 18, conforme passam pelos andares. Finalmente para um leve solavanco e a porta desliza vagarosamente para o lado direito. Eles saem e o senhor, que fora tomado pelos agentes da lei como o gerente do hotel, apressou-se à frente deles, orientando os curiosos com as portas abertas a voltarem para seus quartos, e continuou caminhando para o final do corredor. Parou em frente a uma porta trancada e disse:

   — Aí está. Ouvi um disparo, mas a porta está emperrada, como se tivesse bloqueada por dentro.

   Um dos policiais segurou o cabo do revólver e com a outra mão bateu firme três vezes na porta. Após esperar alguns segundos sem obter resposta, repetiu o procedimento. Mais uma vez aguardou por respostas, mas elas não vieram. Ele afastou-se da porta e pediu para o companheiro lhe dar cobertura, então correu em direção ao bloqueio de madeira e com o pé direito golpeou a fechadura. Um ruído estrondoso ecoou pelo andar, a porta abriu até seu limite e voltou sendo interrompida pelo ombro do policial que se lançava para o interior da acomodação.

   Ajoelhou-se no chão com a arma empunhada, mirou para várias direções, mas não encontrou nada além de sombras projetadas pela luz que atravessava a janela coberta com uma cortina opaca. Levantou-se devagar e apertou o interruptor; o manto de tenebrosidade que envolvia os objetos do quarto cedeu espaço para a luz, que tingiu o ambiente com cores e formas.

O caso do 1810Onde histórias criam vida. Descubra agora