Prólogo

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"Tudo é temporário
Tudo vai passar
O amor nunca morrerá, morrerá, morrerá

Eu sei que
Pássaros voam em direções diferentes
Eu espero te ver novamente"

- Birds - Imagine Dragons


Talvez eu quisesse sim uma máquina do tempo. Talvez meu príncipe esteja ficando para trás. Talvez, eu nunca mais vá viver uma história com aquela e eu passe o resto da minha vida lembrando desses últimos cinco dias em que eu vi um desconhecido se transformar na pessoa que agora faz com que meu coração se aperte. 

Repito internamente que estou tomando a decisão certa. Que não é porque estou o deixando para trás que tudo que vivemos se reduziu a nada. Fomos parte um do outro, mesmo que momentaneamente. Isso justifica o fato de que me sinto tão quebrada ao subir as escadas do ônibus. 

Somos pássaros que voam em direções diferentes, desejo internamente que ele voe alto. Desejo que ele alcance os picos mais altos de todos os lugares. Desejo que ele se encontre acima de tudo. Que seja alguém importante como sempre desejou. 

Voar é deixar o chão para trás. É traçar um caminho em curvas que os que deixam seus pés presos jamais conseguiriam. E isso implica em estar exposta a tempestades que outras pessoas não estariam. E aqui vai ela. A tempestade interna mais dolorosa que já vi.

 Não posso ter um ninho por agora, não enquanto minhas asas não estiverem fortes o suficiente. 

Sair do ninho. Abrir as asas. Se permitir cair.  Cair. Sem escalas. E do meio da queda... Voar.

 Somos corações distantes batendo pela arte, pessoas com vida dupla, uma nos palcos e outra que seguimos durante nossas semanas. Somos histórias ambulantes, a espera de alguém nos assista contar. 

 Quando cada carro, cada ônibus, cada coração seguia em direção a sua cidade, deixamos uma bagagem pra trás, mas levamos outra em igual proporção. 

Somos pássaros libertos que não descansam enquanto não retiram todos das gaiolas. Somos corações que não param de mostrar a arte até que conseguimos tocar corações. Se o papel que nos foi confiado está realmente em nossas mãos, aqui nós ateamos fogo. Somos atores, mas péssimos mentirosos no que tange a esconder aquilo que nos incomoda.

Olho para fora e por um leve segundo, tenho a impressão de ter visto o casaco preto escondido no portão da garagem, me observando. Onde tudo começou... Mas já é tarde para qualquer coisa.

 Da janela do ônibus, vejo as luzes do alojamento se afastarem até virarem borrões. Mas as memórias, essas continuarão vivas até o fim da minha vida. 


Birds - Diferentes DireçõesWhere stories live. Discover now