"Nunca quis tanto dar a bunda como agora"

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O dia amanheceu chuvoso. A temperatura gélida congelava até de baixo das cobertas que me acolhiam. Um frio estridente e insuportável. Igual o Hoseok. Ah, falando em Hoseok e coisas insuportáveis, já fazia duas semanas desde que eu fechei o bendito contrato com o dito cujo e estou me arrependendo amargamente por isso.

Aquele filho da puta desocupado fica me ligando de três em três horas para saber se eu já dei o cu ou se já comi um. Só de pensar que ele pode me ligar a qualquer momento, eu já fico puto. Hoseok tem o poder de fazer minha aura estável se transformar em chamas num estralar de dedos. Maldito seja!

Arranjar um homem para foder é mais difícil do que eu pensei. Para falar a verdade, eu acho que essa complicação toda é porque eu tenho medo — nunca admitirei isso em voz alta, porém. O motivo desse meu medo é que, eu tenho plenos 28 anos de idade e nunca tranzei. Mas não pensem que eu sou um virgem puritano ou algo do tipo, longe disso meus queridos. A única coisa que eu não fiz ainda foi concluir o ato final do acasalamento; possuindo ou sendo possuído por outro corpo.

Não que eu esteja esperando meu príncipe encantado aparecer e acasalar comigo, não é nada disso, apenas não senti vontade de foder. Simples assim. Todavia, agora serei — praticamente — obrigado a fazê-lo. Por dinheiro e por férias pagas. Deus, me sinto uma puta.

Fazer o quê, né? Vida que segue e eu de perna bamba, vou atrás.

Bem, voltando na parte que envolve sexo, homens, contrato e Hoseok... Quanto mais eu procuro menos eu acho. É uma maldição querendo me proteger dessa ideia louca. Tentei até ligar para o puteiro aqui na esquina, porém não deu muito certo. O único gay que tinha disponível lá era um brutamontes enorme e careca —  não tenho nada contra pessoas sem cabelo, só para deixar bem claro. Nunca, nem seu eu pagasse o valor do meu rim, aquele homem daria a bunda para alguém, pude ver na cara dele. E eu que não sou um filho da puta para deixá-lo me rasgar ao meio, porque puta merda, aquela mala dava quase um antebraço.

Paguei o moço pelo gasto de gasolina vindo à minha casa atoa e por sair de mala arriada. Pobre coitado. Teve alguns outros desastres, mas, acho melhor nem comentar. Tem coisa que só acontece comigo mesmo.

Agora já são quase 22:30, estou de baixo de cinco camadas de cobertores felpudos, batendo queixo de tanto frio e ouvindo a chuva cair pesada em Seul. Estou tentando reunir coragem para tomar um banho quente e ir dormir, mas a preguiça não deixa nem eu arredar o pé pra fora do casulo.

Entretanto, porém; quando eu pensava que não, me aparece um louco na porta do apartamento e começa a infernizar minha paz tocando a desgraça da campainha sem parar. Só pode estar brincando com a minha cara.

Tento ignorar aquela barulheira toda, mas parece que o capeta não vai embora cedo. Ninguém merece essa merda.

Levanto-me do sofá em uma lentidão de dar inveja às lesmas. Estralei minhas costas, calcei minhas pantufas roxas super fofinhas e arrastei meu corpo até a porta. Só então me dou conta de uma possibilidade terrivelmente excitante: E se fosse algum matador de aluguel querendo roubar algum órgão meu? Ou se quisessem me sequestrar, ou me matar ou me cobrar a conta de luz atrasada que eu esqueci de pagar?

Não pensei nem duas vezes antes de correr e pegar minha arma letal: um taco de beisebol que eu comprei para me prevenir se uma ocasião como esta acontecesse. Sorri ansioso, finalmente chegou o dia de usá-lo. Hoje ninguém me segura.

Caminhei na pontinha dos pés até a porta. Eu tava me sentindo um mercenário com aquele taco. Me encostei na porta.

— Hey! Para com essa merda! —  Gritei. O toque da campainha cessou e suspirei aliviado. Meus tímpanos agradeciam. —  Quem ‘tá aí fora? — pronunciei alto o bastante para o louco ouvir, mas, não obtive nenhuma resposta. — Olha, é melhor você responder ou ir embora! Eu tenho um taco e não tenho medo de usá-lo!

Assim que finalizei minha ameaça de morte, pude ouvir uma risada esganiçada do lado de fora. Aish, fiquei puto. O demônio não me levou a sério.

— Yá! —  Proferi subestimado. —  Fala logo quem você é e o que você quer, porra! Se você veio aqui roubar minha próstata, esteja ciente que eu lutarei até o fim! Para de rir, caralho, aqui é macho alfa! —  O desgraçado ainda ria. Apelei. — Vou chamar a polícia! Aish! —  As gargalhadas acabaram e rapidamente ouço uma voz doce do lado de fora.

— N-Não, moço, eu sou seu vizinho, aqui do lado... —  A voz doce falava desesperadamente. — Me desculpe. Não foi minha intenção assustá-lo.

— Hm, o que você quer... suposto vizinho? — Falei ainda desconfiado.

— Meu interruptor de luz queimou e eu estou sem energia. Acabei de chegar do trabalho cansado e precisava tomar banho.

— Tá. E o que que eu tenho a ver com isso?

— Eu queria saber se você me emprestaria o calor do seu chuveiro, só por hoje. Por favor? Tá muito frio para tomar banho na água gelada e eu não posso ficar doente, preciso trabalhar amanhã. — A voz doce pediu manhosa. Ah, meu coração não aguenta isso.

— Espere só um minuto. — Destranquei a fechadura e abri a porta.

Meu Deus do céu. Não é possível. Se antes eu tinha algum medo de ser fodido, depois de olhar para esse homão na minha frente, santo Cristo, tenho certeza absoluta que quero dar a bunda agora.

O homem era alto, poucos centímetros maiores que eu. Madeixas negras que contrastavam na pele branquinha, imagino como ficaria linda enfeitada de chupões arroxeados e mordidas avermelhadas. Os olhos eram tão negros quanto o cabelo, pude enxergar o universo dentro deles. O nariz rechonchudo e simplesmente fofo. Ah, a boca parecia ter sido pintada no vermelho vivo, o lábio inferior mais cheinho do que o superior. Reparei que, embaixo de seus lábios convidativos, havia uma pintinha ali dando charme. Eu queria chupá-la para desvendar o sabor dos lábios alheios. Eu o fitava com desejo.

Gente, isso nunca aconteceu antes, mas que porra está acontecendo comigo?

— O-Oi, desculpe incomodar... — O moreno se pronunciou, as bochechas levemente coradas. Acho que ele viu que eu estava babando por si. Pisquei tentando voltar ao normal, sentindo minha cara esquentar. Eu só passo vergonha nessa vida.

—  O-Oi, não, você não está incomodando. — Assegurei. —  Ah, me desculpe pela gritaria. — Ri de nervoso. — Nunca se sabe o que te espera na porta.

— Sua abordagem foi bem diferente, admito. — Uma risadinha divertida escapou de seus lábios. — Eu teria medo se não fosse tão hilário.

— Yá... —  Sorri envergonhado. — Eu não faço isso frequentemente. Só quando aparece algum louco querendo estourar minha campainha. — Ele pode ser lindo, mas meu deboche não respeita ninguém. É mais forte que eu. Um sorriso ladino surgiu e eu quase infartei com tamanha perfeição.

— Então eu sou uma exceção? —  Sorriu largo. Esse homem vai me matar ainda hoje.

—  Com certeza. — Respondi, a respiração falhando.

— E sobre o banho? Não vou te incomodar mesmo?

— Ah! Sim. O banho. Entre, por favor. —  Arredei pro lado, dando passagem para o gostoso entrar. — Fique à vontade. — Me virei para trancar a porta.

— Qual é o seu nome? — Senti a respiração alheia perto da minha nuca e me arrepiei todinho. Senhor, me ajuda.

— Kim Taehyung. — Me virei de frente para si e ele se afastou minimamente. —  Mas pode me chamar apenas de Taehyung. E o seu?

— Jeon Jungkook. Mas pode me chamar de Jungkook. — Sorriu tão doce quanto a voz.

— Bem, Jungkook, o banheiro é por ali segunda porta à esquerda. — Apontei para o corredor que levava ao meu quarto do lado do banheiro. — Fique à vontade. Você precisa de alguma roupa? Toalha?

— Ah, não, eu trouxe aqui comigo. —Mostrou uma mochila que até então eu não havia reparado. Assenti- Muito obrigado, Taehyung. Se não fosse por você ou eu dormiria fedido ou eu tomaria banho na água fria e ficaria doente.

— Disponha, sempre que precisar pode vir aqui. — Sorri sincero sendo retribuído pelo o outro.

Logo ele tomou banho, me agradeceu mais uma vez e foi embora. E eu fiquei ali, largado no sofá com uma cara de pateta pensando em como fazer Jungkook me foder por livre e espontânea vontade. Nunca quis tanto dar a bunda como agora.

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