capítulo um

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H A M I L T O N

Alexander estava meio perdido no campus. Enquanto sustentava uma bolsa de viagem em cada ombro, tentava entender o mini mapa em forma de panfleto. 

Após algumas horas resolvendo questões legais de sua estadia e inscrição por ser um imigrante, a primeira questão importante a contemplar foi: onde ele ficaria? Com certeza haveria vaga para ele em um dos dormitórios do campus, mas foi sugerido que procurasse por uma das fraternidades. Além de serem maiores e mais cômodas que simples quartos, seriam úteis para sua adaptação tanto no país quanto na instituição. 

Para fazer parte de uma fraternidade ele precisava ser aceito, passar por algumas entrevistas e pronto. Trotes não eram mais aceitos –  embora a  coordenação da universidade fizesse vista grossa para essa tradição. 

No auge de seus dezenove anos, ele quis escolher a fraternidade mais popular, Alpha Sigma Pi. Bem, depois uma conversa de quase cinco minutos com uma dos pomposos membros – ainda na varanda, não fora convidado a entrar –, ele ouviu um não. 

Na segunda opção, Beta Phi Delta, eles deixaram bem claro que não era qualquer um que entrava ali. Ele teria que passar por uma série de testes (não mencionaram quais, mas pareciam ser um tanto babacas para pegarem leve). E na verdade, Alexander agradeceu já que a média de notas dos membros não era das melhores, e eles davam as melhores as festas – ele não queria festas, queria manter a bolsa de estudos.

Deixando de lado as sororidades (as repúblicas femininas), restavam mais duas casas. No entanto Alex as ignorou. Seu olhar pousou sobre a última, anotada a mão com uma caneta falha pela secretária. Se chamava Kappa Nu e ele deveria procurar por Aaron Burr, o presidente. 

Deu uma última olhada para o mapa, ergueu a cabeça visualizando a rua principal do campus e seguiu. Quando chegou ele encontrou uma casa muito menor que as outras duas que havia visitado. O jardim precisava de cuidados, cortar a grama seria um começo. A tinta branca estava descascando da madeira e a porta marrom estava manchada – talvez do sol e da chuva, ele não tinha como saber. A porta, inclusive, era normal e não de duas folhas como as outras. A casa tinha dois andares, havia janelas na parte da cima, mas mesmo assim parecia menor. 

A primeira batida na porta foi acompanhada de uma segunda, de uma terceira e de uma quarta. Estava impaciente e ansioso, e seria ótimo poder tirar dos ombros as malas e descansar. Assim que se afastou da entrada para descer da varanda, a porta abriu. Era uma garoto um pouco mais alto, com sardas no rosto e um olhar confuso. 

– Oi. Você é Aaron Burr? 

– Graças a Deus, não. – Ele riu e colocou uma mão no bolso da calça, a outra ainda na maçaneta. – E você?

– Alexander Hamilton, é um prazer. Eu sou novo. 

– E você… tá perdido? Precisa de ajuda pra achar sua fraternidade?

Alex quis dar um passo a frente e descobrir se os olhos dele eram verdes, castanhos ou as duas coisas juntas. Era um rapaz charmoso com um adorável sorriso.

– Na verdade, eu espero que tenha achado já. Essa é Kappa Nu, certo? 

– Sim, o letreiro caiu e nós não colocamos de volta, mas, sim. Kappa Nu. 

– Eu quero fazer parte. O que preciso fazer para entrar? Alguns testes, trotes, entrevistas? Eu estive na Alpha e na Beta e fui praticamente corrido, na Alpha nem mesmo me deixaram passar da porta. O coordenador acha que seria bom eu me enturmar em alguma fraternidade já que sou de fora e não conheço ninguém. Agora já não sei se foi uma boa ideia, os dormitórios do campus parecem ser melhores que passar por tudo isso. Como se chama?

Ele precisou de mais alguns segundos para digerir o que tudo que havia escutado, e Alex percebeu. Viu sua testa se franzir um pouco enquanto prestava atenção, mas logo respondeu com paciência.

– Me chamo John. Mas você pode me chamar de Laurens, tem outro John aqui também. Entra. 

– John Laurens, então? Bom nome. – Hamilton entrou assim que teve mais espaço, se surpreendendo com a organização do lado de dentro. 

– Por que a Kappa? Ninguém mais recorre a Kappa.

– Não? Por quê? 

– Bem… a fraternidade "saiu de moda" – com os dedos ele simulou aspas no ar enquanto se encostava a porta agora fechada. – Burr deve estar chegando logo, mas posso afirmar que você é bem vindo aqui. 

– Obrigado! – Foi inevitável sorrir com a informação.

– De onde você é? 

– De uma cidade pequena no Caribe, ninguém sabe onde fica. Onde posso largar essas bolsas? 

– Vem, vou te mostrar um quarto, temos vários vagos. – Laurens se aproximou e pegou uma das bolsas para ajudar, dando um breve sorriso. 

Os olhos eram castanho-esverdeados e as sardas eram uma graça sobre a pele um pouco mais escura que a sua.

Os dois subiram e Alex seguiu John observando a casa. Era velha, precisava de algumas demãos de tinta e uma boa limpeza, mesmo que estivesse toda organizada. 

– Quantos moram aqui? As outras pareciam ser bem cheias. 

– Seis. Sete com você agora – John abriu uma porta, entrou e deixou a bolsa sobre cama. Abriu a janela e espirrou logo em seguida. – Nós temos um aspirador de pó, posso te ajudar com isso. Eu não fazia ideia que iríamos receber alguém, então tá tudo meio largado. 

– Não se preocupa, é um ótimo quarto, eu adorei. 

Havia duas camas de solteiro, uma escrivaninha e um roupeiro grande que ia do teto ao chão, tudo em tons de bege e marrom – e poeira. 

– Eu vou buscar roupa de cama limpa, o banheiro é no andar debaixo, é grande e por incrível que pareça todos os chuveiros funcionam!

Os dois riram e Alex cruzou os braços, o observando mais uma vez. Gostava de fazer isso, conhecer e olhar as pessoas com quem conservava. Especialmente as mais atraentes. 

– Você tá sendo muito legal, Laurens, obrigado. 

– Eu já fui um calouro, sei como é. Sempre queremos fazer parte das maiores casas, nos encaixar, sermos acolhidos. É tudo mentira, essas casas são péssimas. Pelo menos aqui somos amigos de verdade. 

– Bom saber disso, é o que eu procurava. Amigos. Acho que posso me acostumar com esse lugar – ele deu de ombros e sorriu, se voltando às malas na cama e abrindo os zíperes. – Eu posso tomar um banho antes de começar a arrumar as coisas?

– Claro, tem toalhas no armário do banheiro. Quer conhecer o resto da casa? A cozinha? Não cozinhamos bem, mas tem batata no freezer, é só fritar. E cerveja. 

– Achei que esse tipo de bebida fosse proibido aqui. 

– Você tem muito pra aprender, cara.

Uma amizade forte começou a ser construída ainda naquele dia. Alex logo conheceu toda a casa e se sentiu a vontade como se sempre tivesse morado ali. Conheceu também John Andre e Charles Lee que estavam na cozinha fazendo um lanche. Depois de seu banho precisou limpar todo o quarto, espalhar suas poucas coisas e guardar as roupas. Laurens o ajudou nisso e lhe garantiu que poderia ficar, já que não estavam em condições de escolher ou avaliar alunos para entrar. 

Depois de tudo ele dormiu um pouco, e à noite conheceria os membros e Aaron Burr, o presidente da Kappa Nu. 

Alexander, por enquanto, estava satisfeito. 

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