› Aғᴛᴇʀ ʟᴏᴠᴇ ᴄᴀᴍᴇ ᴛᴏ ᴋɪʟʟ ᴜs

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4 anos depois

Alívio.

Por tempo demais busquei alívio em coisas que me matavam na mesma medida que me davam a ilusão de que eu estava sendo salvo.

Amor, bebida, paixão, cigarros e tudo aquilo em que me agarrei com força demais para não precisar lidar com minha incapacidade de perceber o que estava acontecendo. Vícios.

Vícios que criei para suprimir minhas faltas. Que cultivei para desviar a atenção do que realmente me fazia apodrecer por dentro, célula por célula, órgão por órgão.

Vícios que, por tanto tempo, funcionaram como uma válvula de escape para evitar que eu precisasse lidar com minhas vulnerabilidades mais internas.

Porque, é, eu tinha um problema. Um que se destacava em minha extensa prateleira de conflitos existenciais; e que, ainda assim, ficava praticamente invisível aos meus olhos.

E eu continuava a sofrer. Continuava a me perder um pouco mais a cada mililitro de uísque, a cada desilusão amorosa, a cada vez que ele saía antes do amanhecer e me deixava sozinho em minha própria companhia.

Eu o amava. Sim, o amava. E ainda assim, não sabia amar a mim mesmo.

- O que você achou?

Ele ergue os olhos sob a luz dos óculos de leitura, os dedos de uma das mãos tocando a haste enquanto a outra continua segurando o compilado de papéis cuidadosamente.

Espero que ele diga alguma coisa. Espero que seja boa. Sua análise já durou tempo demais para uma história tão curta.

- Eu sei que é pouco, ainda não consegui terminar - adianto então, ansioso como estive poucas vezes em toda a minha vida. - Mas eu prometo que vou dar meu melhor se for aprovado, senhor Kang. Eu só preciso de uma chance para desenvolver o roteiro.

Ele me olha com suas orbes frias de homem prático, analítico e calculista. Meticuloso como uma raposa. Já faz um bom tempo desde que ouvi sua voz pela última vez. Provavelmente quando me cumprimentou e pediu que eu o entregasse a cópia corrigida para uma primeira avaliação.

Por isso, talvez, meus olhos estão um tanto saltados, minhas palmas suam como nunca e meus pensamentos correm acelerados com o nervosismo da antecipação. Em algum momento, percebi também que meus lábios começaram a sangrar depois de tanto serem maltratados por meus dentes, mas sou incapaz de dar tanta atenção a isso agora.

A espera me corrói como ácido, lenta e dolorosamente. E então, depois de um pigarro longo e seco, ele baixa os papéis, ajeita a postura e finalmente me dá uma resposta:

- A narração é muito boa, Jeon. Muito estável e bem estruturada, além de ter uma gramática impecável - seus olhos caminham até mim e meu primeiro impulso é soltar um sorriso aliviado. No entanto, ele completa: - Mas precisa de mais do que isso se quiser publicar um livro em minha editora.

Meio envergonhado por minha reação precipitada, eu desvio os olhos para os pés e assinto com um gesto obediente.

- Veja, você escreveu sobre um suposto garoto com quem saiu há algum tempo, certo? Esteve apaixonado por ele e chegou a amá-lo. E eu posso sentir a emoção nas linhas, mas não é substancial o suficiente para compensar o fato de que é uma narrativa gay - senhor Kang pontua, e seu tom ao dizer a última palavra é tão natural quanto imagino ser possível. - Precisa entender que o público em nosso país é pouco receptivo a isso. Então, se quiser mesmo trabalhar em minha editora e vender esse livro, precisa fazer melhor do que imagina ser capaz. Precisa fazer o público chorar. E ainda mais importante nesse primeiro momento, precisa me fazer chorar.

Figures › taekookOnde histórias criam vida. Descubra agora