› ᴅɪᴏɴʏsɪᴜs

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Dionísio.

Na mitologia antiga, é também Baco, deus das festas e do vinho, da loucura que persegue eventos inesperados e contraditórios.

Filho de uma mortal com Zeus, representou muito mais do que um ponto fora da curva. Foi imprevisibilidade, e talvez até mesmo mediocridade.

Dionísio é caos, é sentimento e intensidade irracional. E então, no outro extremo, seu irmão Apolo surge como o antagonista perfeito de tudo aquilo que representa.

Razão, ordem, verdade, grandeza e honra. Apolo, o deus Sol, o protetor.

A antítese universal: Bem e Mal.

Ironicamente, a dicotomia dos irmãos completa um paradoxo: são, ao mesmo tempo, opostos e complementares. Naturalmente entrelaçados por natureza.

E isso tudo representa muito mais do que uma simples busca no Google, para mim.

Apolíneo e Dionisíaco são termos que podem descrever as oscilações de uma mesma personalidade ao longo do tempo. Foi a maneira que encontrei para tentar racionalizar e talvez entender o comportamento contraditório de Taehyung.

Porque, droga, as oscilações em suas atitudes e intenções são tão disformes que qualquer padrão fica completamente fora de alcance. Ele é completamente imprevisível. Completamente inalcançável.

E essa foi só mais uma das várias razões que me motivaram a seguir com meu plano de acabar tudo que existia entre nós.

- Jungkook?

Seu rosto se iluminou quando me viu parado na frente da porta de sua casa. Eu poderia ter cedido ali. Poderia ter mandado pelos ares a difícil decisão de me afastar de Taehyung.

Eu poderia pedir que se esquecesse de nossa última conversa, há apenas duas semanas, quando deixei claro que continuar com o que tínhamos não era uma opção.

No entanto, essas duas semanas foram exatamente o tempo de que precisei para me convencer de uma vez por todas da necessidade de nosso ponto final. Nada mudaria minha decisão. Nem mesmo ele, com seu sorriso doce e receptivo.

- Vim devolver suas coisas - informei, breve, ciente de que um único minuto perto dele poderia ser tão perigoso quanto brincar com fogo num posto de gasolina.

Perigoso para mim, que me descobri incapaz de olhar em seus olhos sem me apaixonar um pouco mais.

E eu odeio isso. Porque nunca vi nada em seu rosto que comprovasse que sentia o mesmo.

Para mim, ele simplesmente não sentia. Nada.

- Quer... quer entrar e tomar um café?

Sim.

- Não - nego prontamente. - Só vim devolver suas coisas.

Mirei a caixa em minhas mãos. Tantas coisas dele. Coisas que ele jamais voltaria para buscar, por mais importantes que fossem.

Memórias nossas, de um tempo que eu era ingênuo demais para perceber as migalhas que me deixava.

Burro demais para entender que isso era o máximo que conseguia me deixar.

- Então... obrigado - Taehyung disse em um tom ridiculamente mais baixo do que o anterior, matando a animação que pareceu tê-lo consumido logo que me viu.

Eu poderia ter me dado o luxo de me sentir importante. Especial, de alguma forma. Significante o suficiente para causar uma expressão de desgosto em nosso último adeus. Mas, sinceramente, não sabia o que sentir.

Figures › taekookOnde histórias criam vida. Descubra agora