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-Você beijou ele?- Evie me encarou incrédula, enquanto eu me sentava no banco do passageiro ao seu lado.

-Um beijo de despedida- dei de ombros, passando o sinto de segurança - estou pronta pra ir pra casa.

-Ir pra casa?-ela me olhou em duvida.

-Sim, você vai me levar pra casa, certo?

-Você entendeu errado, Ellie - ela disse,me lançando um olhar de pena.

-Ah cara, já me despedi deles Evie – ri nervosa, começando a ficar com medo - agora você é obrigada a me levar pra casa.

-Eu vou te contar tudo - ela disse enigmática- e se no final você ainda desejar voltar, vou te apoiar.

-Porque eu não iria querer voltar pra casa?

-Vamos dar uma volta – ela disse, dando partida no carro.

Aguardei impaciente enquanto ela fazia o percurso muito familiar pra mim. Evie estacionou em frente a minha casa, ou melhor, a casa de Charlie.

-Isso está me deixando nervosa, só fale logo Evie.

Ela me olhou por alguns momentos, como se procurasse o melhor jeito de começar.

-No nosso mundo vampiros não existem – ela disse, mantendo o olhar cauteloso sobre mim.

-Sim, porque eles são apenas ficção...

-Mas bruxas existem – ela disse seriamente – e eu sou uma.

Era mais fácil de acreditar, do que toda essa loucura de estar dentro de um livro.

-Ok, não é nada tão absurdo assim afinal - sorri aliviada.

-Você também é uma bruxa, umas das poderosas.

-Legal – assenti, não sabendo como reagir.

Eu sou uma bruxa, isso não é ruim, sempre gostei de Harry Potter.

-Você não está entendendo, Ellie.

-Eu sou uma bruxa, você é uma bruxa, nada de vampiros – apontei, tendo certeza que disse tudo – entendi sim. Vamos logo pra casa.

-Você vem de uma linhagem diferente – ela disse pesarosa - sua mãe morreu no seu parto e seu pai...ele é um homem muito ruim.

Sentia como se Evie estivesse ocultando a parte mais importante, não estava com um bom pressentimento sobre isso.

-Muito ruim?

-Ele vem de uma linhagem antiga de bruxos adeptos a magia negra – ela disse, o olhar vagando para longe - assim como a sua mãe era. Ele massacrou milhares de bruxos, apenas porque queria mais poder. Ele é cruel, ganancioso e não poupa vidas para conseguir o que deseja. Quando você nasceu, a magia negra em você era muito mais forte do que nele. E por isso, ele tentou te matar e roubar sua magia.

Tudo bem, isso era muito para digerir. Magia negra, pai louco. Não sei porque eu esperava algo normal quando toda a situação era absurda.

-Mas o nosso clã não deixou isso acontecer, nós tiramos você das mãos do seu pai e te levamos pra longe.

Bem, pelo menos tinha alguém do meu lado tentando me ajudar, isso é reconfortante...

-Matar você era a opção mais segura, todos concordaram que os seus poderes não poderiam cair nas mãos do seu pai – ela disse, a culpa era clara no seu tom - eles decidiram que o sacrifício de uma garotinha era um preço válido a se pagar para proteger o clã.

Não tem nada de reconfortante nisso, porque todo mundo queria me matar? Em que tipo de mundo eu vivia?

-Tia Anne e tio Frank se apaixonaram por você assim que te viram enrolada naquela manta cor de rosa – ela sorriu com a lembrança - meus pais foram convencidos a te deixar viver em segredo, contanto que seus poderes ficassem ocultos pelo resto da sua vida. Você foi adotada por eles e mantida escondida de todo o clã. A sua morte falsa facilitou um pouco na luta contra o seu pai.

Sinceramente, não sei mais o que pensar. É tudo demais pra minha cabeça.

-Eles criaram você em segredo por anos, te deram uma família e um irmão. Tudo estava bem até aquela noite. Aquela maldita noite.

Senti um arrepio estranho, eu sabia de qual noite ela estava falando. Não lembrava de muito coisa, mas me lembrava de como eu me senti. Perdida e assustada.

-Você discutiu com seu irmão por algum motivo idiota, com você e Ethan era sempre assim – ela suspirou em desgosto - mas você ficou tão irritada, que nem as barreiras e o feitiço pra deixar seus poderes adormecidos funcionaram. Seu pai sentiu você imediatamente e então ele apareceu...

Gritos, fogo e Evie me olhando assutada, disso eu lembrava.

-Eu ouvi o grito deles, senti a magia negra dele por toda a casa – ela me olhou, os olhos se enchendo de lágrimas - tia Anne conseguiu lutar um pouco para me dar tempo, mas no final ela não suportou...

Meus pais estavam mortos, meu pai biológico havia assassinado eles. As lagrimas silenciosas desceram pelas minhas bochechas sem que eu percebesse.

-Então eu fiz o que prometi que faria. Protegi você. Esse era o plano B que eu e tia Anne havíamos planejado caso algo desse errado. Essa é uma das varias realidades alinhadas no mesmo plano, uma sem bruxos, sem qualquer possibilidade da existência de magia negra. Quando você veio pra cá me certifiquei que você fizesse parte de algo, que tivesse uma família. Nessa realidade a magia negra não te alcança, mas se você voltar o seu poder vai te consumir – ela fez uma pausa, meu olhando preocupada - e seu pai virá atrás de você para tentar te matar e roubar a sua magia.

Eu não estava raciocinando de verdade, qualquer chance de ser racional se foi há muito tempo.

Havia um vazio no meu peito, uma dor que eu não sabia que estava ali até senti-la.

Another Love - CrepúsculoOnde histórias criam vida. Descubra agora