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Talvez meu queixo tenha se escondido nas profundezas da neve a essa altura, junto com meus pés dentro das botas e o corpo do garoto que parece mais uma bandeira fluorescente ambulante do que alguém agasalhado para o frio.
Bom, pelo menos é nisso que eu penso enquanto o observo tentar se levantar e rezando para que esse estranho ache que o provável vermelho ao redor se deva a temperatura e não as lágrimas de alguns minutos atrás. Não que a opinião dele deva estabelecer algum grau de importância dentro da minha vida mas amaciaria um pouco o meu ego depois de tudo.
"Você é?" Ele pergunta ao notar o meu silêncio, há um pequeno corte na sua sobrancelha direita que está sangrando um pouco.
"O quê?" Finalmente fecho o queixo, meus lábios tremem um pouco então aperto o cachecol verde ao meu redor. O garoto está tirando a neve do seu corpo com um resmungo que é quase infantil e que vagamente me lembra Ernest quando está zangado. "Um guerreiro histórico que é o abominável homem das neves?" Encaro em sua direção como se esperasse que um garoto da minha idade fosse mesmo sacar uma faca e me ameaçar a correr pelado no gelo.
E sim. Estou na defensiva. Coisa de gente de lugar gelado. Coisa de gente com relacionamentos paternos ferrados. Acontece. E, bom, pelo menos a minha defensiva tem um senso de humor apesar de ser silenciosamente ácida.
"Não. Tipo, seu nome." Harry franze o cenho, rindo ao unir as sobrancelhas de um jeito engraçado, então ele faz uma careta puxando um galho de árvore de dentro de seus cachos rebeldes. "Você pode inventar um. Eu nunca saberia a menos que você quisesse que eu soubesse. Eu poderia ter inventado um também. Seria Jack. Jack Churchill." Ele para, pensando. Literalmente interrompe a fala no meio para pensar como se quisesse dizer algo marcante como uma frase para proclamar a independência de um país mas então apenas diz: "Você pensaria 'Uau, que nome incrível' ao invés de me olhar como se eu fosse uma gárgula falante."
"É um nome horrível e eu, com certeza, não diria isso." Dou de ombros e Harry parece pensar que eu quem sou o adolescente da sua idade que o fará correr pelado no gelo. Ele acabou de se comparar com uma gárgula. Ele não tem esse direito. "Mas meu é Nick. É um bem popular em Long Island." Estou mentindo. Ele ri porque sabe que estou mentindo e eu sinto vontade de sorrir desde a primeira vez em que falei com meu pai porque essa é a situação mais inusitada possível.
Parece mais interessante ser meu personagem literário favorito do que ser Louis, morador de Nome, cidade congelada do Alaska, com um pai que é um agente de estrelas pseudo-famosas no país e que não liga para os próprios filhos.
"Jack Churchill foi um herói de guerra." Revida, defensivamente.
"Nick estudava títulos nos anos vinte. Ele não recebeu uma medalha por isso, mas era um bom homem. Amigável. Leal e herói da própria época."
O que é verdade.
"Você deveria se gabar menos do próprio nome, é pretensioso." Harry dá de ombros mas há uma covinha em sua bochecha. Ele não está sorrindo completamente, mas seus lábios inclinados para cima o entregam.
"Como se Churchill se enrolasse como um rocambole de neve antes de matar seus inimigos de susto."
"Ei. Cruel, Carraway." Ele sorriu, erguendo uma sobrancelha. Bom, pelo menos ele leu O Grande Gatsby. Ou eu presumo que ele leu porque ele parecer ser o tipo de pessoa que lê. Ou ele pode ser um cinéfilo obcecado, se eu for justo. Por que ele está aqui mesmo? Por que estou pensando nisso?
Se eu pudesse escolher pessoas para me darem ataques cardíacos em meio a crises existenciais não sabia que ler meu livro favorito seria um pré-requisito básico tão bom.
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the warmest soul • larry stylinson
FanfictionLouis mora em Nome, uma das cidades mais frias do Alaska. Toda vez que seu mundo parece desabar - algo que vem acontecendo com mais frequência desde a perda da sua mãe - seu esconderijo é no topo de uma colina coberta de neve a alguns quilômetros de...