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Segunda-feira.
Eu não vi Harry na segunda-feira. Quer dizer, eu acho que não, pelo menos. São uma e meia, tenho mais um período de biologia antes de ir para casa, mas ainda não esbarrei nele. Não esbarrei no ombro da pessoa da qual provavelmente não lembraria o nome se não fosse pelo último sábado. Não que eu tenha pensando muito nisso — há uma lista gigante sobre as coisas que eu realmente deveria pensar — mas é irônico que eu o encontrei em uma montanha no meio do nada mas vê-lo pelos corredores de uma escola com menos de trezentos alunos parece impossível.
E... ok. Certo. Talvez eu tenha pensado, sim, nisso. Mais vezes do que teria orgulho de admitir. É assim que funciona a amizade? Você pensa no fato de ter um amigo o tempo todo? Espero que não. Isso seria esquisito. Eu nunca pensei assim antes, mas, de qualquer forma, nunca tive muitos amigos então não há um parâmetro de medição de verdade.
Minha lista de amigos provavelmente incluiria uma única pessoa: Lottie.
Lottie era minha amiga. Melhor amiga, além de irmã. Eu dediquei tanto tempo a manter nossa relação que não tive como investir a mim mesmo à outras amizades porque a possibilidade de ela ir embora simplesmente não exisitia. Ela era minha irmã. Tudo era um solo seguro sobre o que tínhamos. Ela estaria comigo para sempre. Ou deveria estar.
Mas aí, nossa mãe morreu e Lottie achou que a melhor opção seria deixar Nome e ir para o Arizona com nosso pai porque seu luto era aquilo; era fugir. Na maior parte do tempo eu tentava não julgar, tentava pensar que ela não nos abandonou no momento em que mais precisávamos estar juntos, mas nem sempre funcionava. Ela postava fotos de copos de café da Starbucks e pôr do sol enquanto eu e Fizzy passávamos as noites acordados com Ernest e Doris, com as garotas mais velhas precisando ir à psicólogos e Dan precisando trabalhar o dobro para nos manter bem depois de decidir não manter apenas seus filhos biológicos consigo, mas eu, Felicité, Phoebe e Daisy também.
Fiquei mais tempo do que planejava preso nisso. Na ideia de Lottie indo embora outra vez que, por alguns momentos, esqueci de Harry durante a aula de biologia. Quando saí, pensei em ir à montanha, no entanto. Pensei em escalar até lá, com mochila e tudo, ignorando a neve e ver se a probabilidade estatística daquela amizade era algo real ou apenas um evento isolado e inusitado sem chance de se repetir.
Mas eu não fui. Porque ser um irmão mais velho é difícil, principalmente quando não há mais uma mãe para esses irmãos. Há preocupações que às vezes não deveriam estar na minha cabeça e eu entendo isso, entendo que ter dezesseis anos não deveria ser assim, mas não é sempre que você escolhe ter uma adolescência épica como nos filmes. Às vezes sua adolescência épica é assistir Procurando o Nemo com suas irmãs mais novas, depois de fazer três copos de chocolate quente, deitado por baixo de um edredom, tentando não pensar que falta alguém do seu lado. Mas eu entendo. Eu aceito. Não é uma reclamação.
Talvez eu até mesmo possa ver Harry outro dia. Talvez amanhã, na escola. Talvez eu possa até procurar por ele, já que o destino já fez seu trabalho o mandando rolando em minha direção. Nem tudo viria daquele jeito, certo? Mas pela primeira vez em algum tempo, apesar da negação inicial, eu tinha uma coisinha. Uma curiosidade para algo. Era a primeira vez em meses que eu não falava com alguém da minha família, os funcionários da escola ou dizia "obrigado" a pêsames de luto para pessoas que sequer sabiam quem minha mãe era.
Era a primeira vez que eu falava com alguém real. E isso deve significar algo.
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No entanto, apesar da atividade super animadora da tarde de filmes com as garotas — obrigado à Disney e qualquer outra produção de desenho infantil que fizeram minhas irmãs sorrirem por alguns momentos preciosos —, a noite ainda foi difícil de lidar. Ainda foi... cansada, fazendo meus joelhos doerem só para que eu conseguisse deitar na cama um pouquinho mais cedo ou, talvez, pelo menos terminar meu dever de química com uma semana de atraso antes que a professora decidisse que acabou o prazo da sua compaixão sobre o garoto que perdeu a mãe — isso geralmente para depois de um tempo. A pena e o luto alheio. O desejo de agradar, de amaciar o próprio ego por uma boa ação. Depois de algum tempo, você apenas nota que só quem ficou é quem realmente perdeu algo também e todas as pessoas que tinham perdido se estendiam à uma lista de oito. Eu acho. Nenhuma dessas oito era minha professora de química.
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the warmest soul • larry stylinson
FanfictionLouis mora em Nome, uma das cidades mais frias do Alaska. Toda vez que seu mundo parece desabar - algo que vem acontecendo com mais frequência desde a perda da sua mãe - seu esconderijo é no topo de uma colina coberta de neve a alguns quilômetros de...