Fábrica de Bebês

450 44 17
                                    

Olhava o relógio a todo momento e nada da legista chegar. Se eu não tivesse colocado um oficial à sua porta estaria morrendo de medo por sua segurança.

Não consegui falar com ela. Queria tê-la preparado com o que iria vir, mas a minha amiga se atrasara. Os motivos disso me faziam querer vomitar. Lembrar que a minha Reddy poderia ter passado a noite nos braços daquela loira... "Ash, para de ser ridícula, mujer! Kate nunca foi e nunca será sua!"

O chefe de polícia já fazia a introdução do caso para os presentes e a minha apresentação. Meus pensamentos se perderam quando a notei entrando na sala... linda, com cara de quem fudeu a noite toda, porém com um semblante preocupado. Procurei a imitação barata de Gwyneth Paltrow, mas não a encontrei ao seu lado.

— Os assassinatos começaram há 12 anos em Dublin e ocorreram anualmente em diferentes cidades da Europa. Os corpos são encontrados sempre no dia 13 de agosto. O dia de ontem. – Dia em que Kate conseguira fugir do cativeiro. Minha voz era profissional, mas eu tremia por dentro. Meus olhos não perdiam um movimento sequer da minha amiga. Notava a cor saindo de sua face. – O perfil sempre o mesmo: mulheres de 15 a 20 anos, caucasianas ruivas e olhos azuis. – Kimberlly passava os slides com as fotografias das mulheres mortas e um burburinho se ouviu no ambiente sufocante. - O caso dessa semana foi o primeiro ocorrido aqui no país.

— Esse cara tá fodido, aqui não é igual ao Reino Unido. Aqueles "baba ovos" da rainha não usam nem armas de fogo! – O detetive Larry e seus companheiros começaram a rir.

A sala em que nos encontrávamos estava repleta dos mais diferentes oficiais da polícia de New York. Podia sentir nos meus poros o nível de testosterona elevado dentro daquela sala. "Por que, Dios mio, alguns homens têm essa necessidade de provar que são 'machos' o tempo todo?" Pressentia que logo teria problemas com alguns detetives que se encontravam ali. Poderiam colocar a operação inteira a perder por puro ego.

— Embora tudo leva a crer que o mesmo homem seja o assassino... – Continuei não dando atenção aos comentários jocosos e machistas. Minha amiga agora estava com a face abaixada e não consegui distinguir as suas expressões. - Temos a informação de que o suspeito morrera há cinco anos. – O rosto de um homem de aproximadamente 50 anos de idade, olhos verdes, barba cerrada e cabelos ruivos apareceu na tela. – Daniel O'Brien, comissário de polícia de Dublin, veterano de guerra, condecorado com inúmeras medalhas, sofreu um acidente de carro há aproximadamente cinco anos. Seu corpo fora encontrado totalmente carbonizado nas ferragens em uma autoestrada no interior da Irlanda do Norte.

— Mas agente especial Rodriguez, como podem ter certeza que ele era responsável pelas mortes? – Um rapaz jovem perguntou. Procurei novamente a minha amiga que olhava fixamente para a tela, seu rosto uma máscara sem expressão.

— Ele deu carona para uma menina de 18 anos. Logicamente que ela entrou no carro do Comissário de polícia, quem não entraria? Ele a raptou e a violentou. Naquela mesma noite, voltou ao cativeiro embriagado e ao tentar novamente estuprá-la, a menina conseguiu fugir. Na manhã seguinte, encontraram o seu corpo. Segundo o legista, o DNA fora retirado de um único dente. O único material viável para o procedimento de extração.

— Será que ele tem um comparsa? Ou um "copycat"?

— É exatamente isso que precisamos verificar. As mortes ocorridas após a sua morte foram provocadas por quem?

Continuei explanando sobre o caso e conseguia notar que Kate não estava ali. Seu corpo sim, mas sua mente viajava em outra dimensão. Terminei a reunião antes do esperado pois tinha certeza de que ela precisava de mim.

Todos já haviam saído quando parei a sua frente. Atrás das grossas lentes dos seus óculos eu podia ver seu olhar fixo no arquivo que jazia nas suas mãos. "Quem entregou a ela, carajo!"

RED (em hiato)Onde histórias criam vida. Descubra agora