6. Holofotes queimados

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Califórnia, United States. 

"Somente um nó entenderia como outro se formou, mas somente um ser humano entenderia o processo para o desfazer''. 

Já estava na metade do período de intervalo quando sua cabeça descansou sobre a mesa de mogno escuro e envernizada da biblioteca. Seus fones soavam Lacrimosa em um volume alto, mas não o suficiente para quem estivesse do seu lado ouvir. 

Sozinha na ala leste de sua escola, Melanie observava as prateleiras sempre bem limpas preenchidas por diversos livros de capas coloridas. De certa forma ela se sentia apegada a literatura renascentista, livros sobre anjos, demônios, ficção. 

Era sempre assim, após cada briga de Edward, seu coração partido se reconfortava na leitura. Mesmo que tivessem passado diversos dias, ela ainda se sentia mal pelo garoto que quando criança era um doce. Sentia seu estomago revirar toda vez que se lembrava do evento que o tornou assim. 

Notou os braços de um garoto repousarem sobre a mesa antes de se juntar para formar um apoio para sua cabeça. Noah sabia como ficar em silêncio e por ironia do destino sempre aprecia nos momentos em que Annie necessitava de um ombro sincero e que soubesse respeitar seu caos interno.

- Não a vi durante o intervalo inteiro, como Dominic faltou achei que pudesse estar aqui. - Um feixe de luz que adentrava a biblioteca sobre o rosto de uma freira esculpido do vitral da cúpula que tomava o lugar do teto. 

Noah sempre fora o mais bonito dos três homens homens que rondavam sua vida, perdendo apenas para seu pai. Seus cabelos castanhos claros caiam para o lado deixando seus olhos âmbar em constaste com suas bochechas rosadas e lábios avermelhados. 

Não era comum que Annie o visse durante os intervalos, seu primo apenas procurava por si nos dias em que sabia que ela estaria sozinha, mesmo assim era sempre as escondidas. Por mais que todos soubessem do parentesco dos mesmos, a jovem se sentia mal pelos rumores que surgiam instantaneamente. 

O Reed era o rótulo perfeito de adolescente popular do ensino médio, jogador de futebol americano, idolatrado pelas garotas, amigo de todos e amado pelos professores. Ela se lembrava das inúmeras vezes que Dominic encenava estar enjoado quando alguma professora tentava jogar seu charme para o jovem. 

Um breve estrondo ecoou a alguns metros da garota que virou-se abruptamente vendo a figura de uma mulher através de uma das prateleiras da biblioteca. Melanie reconheceria suas vestes encharcadas em qualquer lugar. Tal espirito a atormentava desde o momento em que entrara na escola, entretanto a garota nunca havia visto seus olhos. 

A mulher bateu novamente contra a prateleira, assustada a jovem escondeu-se rapidamente embaixo da mesa tampando seus ouvidos com as mãos e afim de não escutar a pertubação do mundo afora, cantarolava alto atraindo a atenção do resto da biblioteca que sem entender, riam da atitude da garota. 

Melanie podia sentir a presença aproximar-se de si e tocar seu ombro, apertando seus dedos contra a pele macia de seu ombro. Noah Reed assustado com o panico eminente que a garota exibia se ajoelhou próximo na busca de um meio para acalma-la. Já havia presenciado diversos ataques de panico da prima, logo ele saberia o que fazer. 

Ao tocar seu ombro notou a sensação estranha que o preencheu, o forte gosto amargo e azedo que tomou conta de sua boca como se estivesse mastigando um pedaço velho de chumbo. A palpitação desregulada de seu coração que causava uma sensação estranha e incomoda em seu corpo. 

O cantarolar de Melanie cessou fazendo o menino a olhar. Seus olhos se chocaram, ela parecia assustada e algo lhe tampava a boca. Uma mão. Ele seguiu seus olhos pela extensão dos braços até ver atrás dele uma mulher com seus cabelos emaranhados e olheiras profundas. Seu cheira era desagradável e suas  vestes molhadas criavam uma pequena poça de água ao redor de seus joelhos que estavam apoiados no assoalho de carvalho. 

Instintivamente  o rapaz puxou o braço da pequena Reed juntando seus corpos para protege-la. Fechou seus olhos com força escondendo seu rosto sobre o topo da cabeça da garota que tremia assustada. Por alguns segundos ele ouviu e sentiu a respiração pesada da assombração contra seus ouvidos, quando a mesma desapareceu ele aos poucos varreu seu olhar sobre o recinto constatando a enorme quantidade de rostos risonhos a respeito da situação. 

Uma parte de si morreu naquele momento, como se a vida lhe pusesse um filtro, tudo ficou preto e branco. Tantos rostos, tantos rostos. Mas não era capaz de enxergar nenhum. Borrões sem cor que desapareciam a medida que ele levava Melanie em seu colo para fora da biblioteca. 

Quando saiu pela porta notou um corredor vazio e barulhento que se seguia por uma longa extensão até as escadas. Esbarrava em pessoas, as ouvia gritar e conversar, porém ão as enxergava. De alguma forma tudo sumira, quando pela primeira vez entendeu a razão dos ataques de panico da prima. 

O corpo em seus braços ainda tremia, o que fez o jovem aperar ainda mais o abraço contra si, demorou algum tempo até que ele chegasse na sala de enfermagem e repousasse seu corpo sobre a maca vendo seu irmão entrar as pressas após ouvir a corrente de fofocas que se segua por todo o pátio até os fundos da escola. 

Não respondeu qualquer pergunta, apenas se limitou a sentar do lado de Annie a observar seu sono perturbado. 

Os monstros eram reais, e ele não sabia como viver esta nova realidade. 

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⏰ Last updated: Feb 18, 2020 ⏰

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