Era noite de lua cheia. O céu pairava acima dos demais membros da excursão, com uma diversidade de estrelas que desfilavam, mesmo que paradas na infinidade do véu noturno, e por mais que as estrelas complementassem esse retrato de tal renomada entidade criadora de tudo e todos, a lua permanecia imponente, como o charme cativante de toda essa penumbra. Algo simplesmente, magnífico.
Os soyrenes entusiastas já dormiam a essa hora. Os únicos acordados eram o condutor da charrete e Kewi. O jovem possuía uma chama dentro de si, que queimava incessantemente. Tal brasa tendia a crescer mais que as muralhas de Soyrr. Essa fagulha de curiosidade aguçada se tornava cada vez mais incandescente graças ao encanto esbranquiçado de sua esquisita pedra.
- Por que razão aquela criatura me confiou essa pedra estranha? Essa coisa poderia ser apenas uma pedra comum, ainda que branca - resmungava em meio a sua dúvida.
O que era aquilo? O rapaz ainda não sabia responder com precisão do que se tratava. Era curioso que a cada pergunta que o rapaz fazia relacionada a Carta-Alva, o artefato se mostrava tremulo.
Isso o deixava quase totalmente perplexo. A sua gula pela resposta disputava firmemente contra seu sono, era quase como o badalar de espadas ouvido durante o período de treino em Soyrr. Porém seu intenso desejo de conhecer mais, como a fumaça de um enorme cachimbo rofeslane, ia se dissipando em meio a escuridão. Esse enorme manto noturno fazia o jovem lembrar-se das noites onde da sacada de seu quarto, ele observara a cidade.- Será que um dia eu conseguirei ver aquilo que o Rei pode ver todos os dias? Não tenho certeza se temos a mesma forma de ver o mundo. - Kewi refletia numa certa melancolia - "Ele é o Rei, certo? E reis sempre governam para o seu povo. Eles são sempre ocupados com os aspectos mais importantes. Riqueza, glória e poder... Me pergunto, por que diabos um Rei tiraria tempo pra apreciar as estrelas tanto quanto eu?"
Não tinham poucos edifícios e construções que podiam competir com a sua visão. O garoto pertencia a aristocracia, e como a casa era tão alta quanto sua classe, sua residência era bem grande e espaçosa, digna de um Seisete. Sobretudo, não era nem de perto a maior construção do reino.
Na praça de Soyrr existe uma enorme torre com um sino próxima a igreja, e além disso, existia o castelo.
Passaram muitas coisas pela cabeça do jovem aristocrata. Em silêncio, perguntava-se como sua família estava. Em seus pensamentos, perguntas como "será que todos estão bem?", ou "mamãe tem se alimentado como deveria?" lhe fazem uma breve companhia, quase como uma assombração. Sua mãe era doente e frágil, outrora uma valente mulher que trabalhava de forma incessante, até que seus ossos fizessem mais esforço do que sua teimosia para lhe impedir.Sua compaixão e carinho pela sua figura materna acabaram trazendo preocupações, como os tempos de uma garoa negra. Logo em seguida, buscou repreender a si próprio por essa pergunta. Era o sobre clã Seisete que estava falando, os mais cativantes e diversos comerciantes de Adernas, e isso o fez esboçar um leve sorriso.Isso fez avivar uma outra pergunta, que invadia sua mente descompromissada naquele luar.
Será que estavam orgulhosos? Kewi não conseguia parar de se questionar, enquanto olhava ao redor, notando Faen coçando o próprio queixo e rolando para a esquerda meio molenga.Pensar nisso o fazia sentir-se ansioso, e isso trazia insegurança da sua performance. O garoto havia criado coragem e partido numa jornada, então isso deveria encher seu clã de satisfação. Por mais que pensar nisso fosse um forte motivo para o tranquilizar e o livrar do pavor momentâneo, ele era assombrado pelo fantasma do medo de não ser suficiente. O garoto acabara por sacudir a cabeça de um lado pro outro para espantar a nuvem de medo que estava se formando de forma sorrateira ao seu redor, e então optou por voltar a internalizar suas sensações.
Em sua breve recapitulação, Kewi relembrara de que apenas aqueles que viviam no Grande Castelo de Soyrr tinham permissão de ver os astros numa altura grosseiramente distinta da vista da Residência Seisete, mas a pergunta do momento era se realmente alguém naquela sociedade, onde todos estão dando o melhor de si para sobreviver, levantando todos os dias e ousando viver suas próprias batalhas, por mais brutais ou leves que possam vir a ser, alguém em meio a essa multidão pararia pra apreciar algo tão trivial.
Era isso que ele almejava. Uma vida mais leve para as pessoas, e além disso, seu desejo mais pessoal era ganhar mais proximidade dos majestosos corpos celestes, que eram tão charmosos quanto a coroa de Yzes.
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Adernas: o Jardim das Almas
FantasíaSe tudo que você conhecesse fosse de repente tirado de você, por onde você recomeçaria? Motivado pela fúria após o extermínio de sua raça, uma fissura sem precedentes é feita no coração de Valos, a Besta de Manastlr. Sendo o último vivo de sua raça...