Reflexo adorável e colchão macio

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MITSASHI TENTEN

O cheiro delicioso de carne penetrava o meu quartinho por todas as frestas existentes; a minha barriga roncou mais uma vez em resposta, ansiosa para ser preenchida. Fazia algumas horas que eu estava acordada, mas sem coragem nenhuma de sair da cama. Os moradores do goshiwon não costumavam cozinhar muito, entretanto o cheiro estava de matar e me fazia salivar como um cachorro.

— Tenten... — Meu nome foi chamado com calma e sentei no mesmo instante, jogando as pernas para o lado e abrindo a porta na mesma velocidade. Toda a minha preguiça sendo substituída pela curiosidade (e fome também). Neji sorriu assim que entrou em meu campo de visão. — Boa tarde! Dormiu bem?

— Boa tarde, dormi sim e você? — A sua animação começava a me contagiar. Eu não entendia o tipo de feitiço que havia caído em nós, contudo não reclamaria.

— Dormi muito bem. — Deu um passo para o lado e sai do quarto, entendendo o que ele queria. Parei então no meio do corredor e na sua frente. O cheiro ainda mais convidativo do lado de fora. Era ele quem estava cozinhando? — Resolvi preparar algo diferente, espero que goste.

...

— Você sabe que eu amo carne, obrigada por isso. — Disse assim que sentamos na mesa. Desde a toalha nova e bordada até os pratos cheios de comida... Tudo parecia ter saído diretamente de algum filme. Estava lindo. Realmente lindo.

Não fazia ideia de onde ele havia arranjado todos aqueles enfeites e acessórios chiques, todavia estava feliz pelo progresso que estávamos fazendo.

Os seus claros olhos observavam cada movimento meu. Eu podia sentir tudo queimar sob seus olhos críticos e tentava não fugir dali, como antes faria.

Enfiei o primeiro pedaço fumegante na boca e não consegui conter o gemido de satisfação. Estava divino, como algo feito por um chefe de cozinha muito profissional e experiente. Neji sorriu contente e continuou a comer com mais avidez.

Por alguns minutos apenas a paz e o barulho que fazíamos para comer preencheram o ambiente. Era como se tudo estivesse voltando à normalidade, como se não existisse um passado conturbado ou um sentimento ardente dentro de mim. Bom, talvez nem tudo fosse realmente normal como antes.

Era inegável o que sentia. Era inegável o desejo. Era inegável o amor. Mas, por mais óbvio que às vezes possa parecer, é preciso "colocar os pingos nos i's". Se o Hyuuga comilão à minha frente não demonstrava querer algo comigo, eu precisava seguir em frente. Eu sabia que podia conviver com esse amor unilateral e superá-lo o quanto antes.

Pelo menos eu achava que conseguia. Tanto pelo meu bem quanto pelo bem da nossa renovada amizade. Não podíamos deixar que alguma pendência colocasse em risco — mais uma vez — o que estávamos tentando reconstruir.

E se voltássemos com o constrangimento e o silêncio, Uzumaki Naruto com certeza nos mataria.

— Por que você me beijou? — Peguei-me fazendo aquela pergunta entre um pedaço de carne com alface e um gole de soju. Escapuliu!

— Oh... A-Acho... — Pigarreou e tossiu umas três vezes antes de continuar. A ansiedade fazendo as pontas dos meus dedos formigarem. — Foi do momento, pareceu ce-certo. Eu me sinto na obrigação de pedir desculpa... Não, perdão! Eu preciso pedir perdão por ter feito tudo isso com a nossa amizade. A culpa foi minha e eu sinto muito por isso.

É, aquilo doeu. Tudo doeu mais do que deveria.

O seu olhar perdido no chão da cozinha, suas mãos inquietas em cima de mesa e a sua culpa doeram. Os beijos não aconteceram sozinhos ou ele não se lembrava que eu havia retribuído? Não uma vez, porém diversas.

Fatídicas noitesOnde histórias criam vida. Descubra agora