Doppelganger, o Segredo do Livro

Capitulo 1 - O encontro com o livro.

  A tarde já estava chegando a seu fim, o vento gelado insistia em se espalhar pela rua, mas não estava de todo frio, o sol que já se punha ainda dava um leve aroma de tarde quente que seria levado embora a partir do momento que a lua surgisse no céu. Algo na calçada atrapalhava a calmaria e dava lugar ao desespero aleio. Todos olhavam em volta, a garota corria como nunca! Morena, de olhos escuros como a noite, e seus cabelos castanhos lisos que se embaraçam no vento e na adrenalina conforme ela corria. Estava atrasada, na praça da cidade havia uma barraquinha distribuindo livros para crianças e adolescentes por tempo limitado. Todos os anos havia uma feira assim, mas dessa vez ela se atrasou de mais! Por sorte, era amiga do Sr.Roberto, o bibliotecário, com toda certeza ele teria guardado algo para ela. O motivo do atraso passou pela sua mente naquele momento, e uma expressão de raiva acompanhada de uma respiração ofegante e um nariz empinado tomou conta da garota.

Ao acordar, naquela manhã, a garota notou que estava trancada no quarto e a chave estava para fora, não sabia como isso teria acontecido e nem quem poderia ter feito uma crueldade dessas. Afinal, nem irmãos ela tinha. Teve que esperar a mãe chegar em casa para poder sair do quarto. Seu pai, por algum motivo também não estava em casa. Era até estranho pois ele raramente saia.

Quando a garota finalmente conseguiu sair do quarto, desceu para escovar os dentes e ir almoçar. Por algum motivo, acabou passando mal e se atrasando mais ainda. Ao chegar ao ponto de ônibus, teve de esperar por quase 2 horas e nada do ônibus aparecer. Outro detalhe que lhe chamou bastante atenção é que o ponto que regularmente era lotado, naquele momento estava completamente vazio, apenas com a garota acompanhada de seus pensamentos.

A paciência havia sido esgotada, ela tinha se levantado e resolvido ir a pé mesmo. Era longe, mas não havia outra maneira.
Ela andou por 15 minutos, enraivecida e gritando mentalmente todos os palavrões que lembrava, por que tudo tinha que dar errado logo hoje?? Um som estrondoso e uma buzina a tinha tirado de seus pensamentos, o ônibus que levava ao centro da cidade passara por ela, não tivera nem chance de tentar entrar, estava fora do ponto, nunca parariam.

Seu rosto agora, voltou as expressões que ela tinha ao ver o ônibus passar, frustração. Seus pensamentos foram interrompidos ao chegar na barraquinha de livros, e no lugar deles, imensas perguntas foram se formando ao mesmo tempo que seu rosto e nariz ficavam vermelhos pela corrida que tinha realizado. O moço que estava despachando os livros não era o Sr.Roberto, era um homem jovem e de certa forma pomposo, ele era alto, suas orelhas eram curtas mas em compensação tinha um nariz incrivelmente grande, o que não atrapalhava muito em seu belo rosto. Tinha a pele clara como a neve e os olhos azuis, e os cabelos loiros, em outras palavras, era muito bonito. Naomi se aproximou curiosa e perguntou:

  – Olá Senhor, eu sou Naomi, Naomi Wasth, não quero ser indelicada mas, onde está o Sr.Roberto?

  – Boa tarde Srta.Wasth, eu sou Deryck Davys, o Sr.Roberto está doente e me mandaram cobrir ele hoje. – A voz dele soava grossa e um pouco rouca, assim como o dono, era muito bonita.

  – Ah sim, entendo, se o vir, diga que eu lhe desejo melhoras. Ah, eu sei que cheguei atrasada e você provavelmente já está guardando tudo para ir embora mas... Será que não sobrou nenhum livrinho para mim?

  Deryck olhou para todos os lados da barraquinha, abriu caixas e caixas a procura de algum livro que por ventura tivesse sobrado, já estava prestes a desistir quando encontrou. O moço pega o livro e o entrega a Naomi que fica curiosa aí ler o título.

  – Doppelganger? O que quer dizer?

  – Eu não sei, para falar a verdade eu também fiquei curioso mas minha ansiedade se esvaiu a partir do momento que percebi que não conseguiria lê-lo.

  – E por que? – Naomi perguntou enquanto olhava atentamente para a capa, esse livro realmente tinha lhe despertado a curiosidade.

  – Abra-o e então saberá do que estou dizendo.

  Naomi começou a folhear o livro, as páginas estavam envelhecidas, amareladas e as letras pareciam ter sido apagadas pela água, ou talvez pelo tempo. O curioso é que a capa parecia estar novinha, como se tivesse acabado de sair da fábrica.

  Não dava para entender nada do que estava escrito lá, era quase impossível decifrar até mesmo as letras.

  O que vou fazer com esse livro? – Naomi o olhou com tristeza, ela tinha se aventurado e mergulhado profundamente, dando tudo de si para chegar lá e ignorar aquele azar que insistia em a perseguir naquele dia. Afinal, dizem que a dor é pisicologica, talvez o azar também seja. Espera... Isso faz sentido?

  – Você que sabe, você me parece ser garota inteligente, tenho certeza que vai conseguir descobrir uma maneira de entender o que está escrito. – Disse o homem jovem, tentando a confortar mas não acreditando muito nas próprias palavras.

  Naomi agarrada no livro, se despediu educadamente do despachante e pediu desculpas por ter atrapalhado ele, voltou andando cabisbaixa até o ponto de ônibus. Ela olhava a vista enquanto andava pela calçada, prédios, o céu azul, as pessoas andando para lá e para cá... E o ponto logo a frente.

  Olhou cabisbaixa para o assento, uma dúvida tomou sua mente, ela sentaria e esperaria o ônibus ou voltaria andando? Antes que decidisse, seus pensamentos voltaram a angustiante história de como havia conseguido este livro velho, poxa! Tinha se aventurado e batalhado tanto para conseguir! Por que tudo teve que dar errado justo hoje? Antes que encontrasse a resposta para suas dolorosas perguntas, foi retirada de seus desvaneios pelo ônibus que parou em frente ao ponto para deixar que alguns passageiros descessem. Olhou para o caminho a sua frente, e com um suspiro, entrou no ônibus, cumprimentou o motorista e se sentou ao lado da janela tentando colocar seus pensamentos em ordem.

Continua...