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"A possibilidade de afrouxar as regras do celibato, sobre padres não poderem casar, seria possível, porque a disciplina é mais aberta para mudança do que uma posição doutrinal."
Anthony Petro
PARTE 1
A opulência da edícula invocava todo e qualquer cidadão.
A fachada e corpo curvilíneos, em tons de branco e dourado, davam-lhe um charme, glorificando seu aspecto ao pôr do sol. Uma característica típica e exacerbada dos templos religiosos daquela época.
Por dentro, todas as paredes eram revestidas de madeira esculpida, enriquecida de minúcias dignas de serem apreciadas, e eram. Detalhada em suas pinturas renascentistas espalhadas pelo teto da capela, decorada com adornos e estatuetas exuberantes em formas de anjos, despertava interesse até mesmo naqueles desprovidos de fé.
Muitos visitavam o lugar apenas por sua efígie, no entanto, outra porção bem maior se prostrava nos bancos de madeira diante do altar-mor, projetado em alto-relevo com acabamento em ouro, e ali faziam suas preces.
Toda a riqueza e extravagância se tornaram uma convocatória para os fiéis e infiéis, mas nada chegava a se assemelhar ou ultrapassar a simplicidade de seu padre.
Taehyung era um homem trivial, sem muitas exigências ou regalias, ele gostava da sua vidinha pacata, uma completa contradição a sua infância.
Quando moleque, era um pivete. Aprontava todas, inclusive dentro da própria igreja — que antigamente não possuía tal imagem sofisticada como agora, apenas um presbitério básico.
Nunca chegava na hora para a catequese, desleixado e altruísta, era um completo dorminhoco. Levantava a pontapés por sua tia e, obrigado, ia ao catecismo.
Respondia seus mestres, hiperativo, não parava no lugar, peraltice era seu lema. Falava mal dos colegas, arrumava confusão. Uma vez ganhou uma bela cicatriz numa briga com um colega por chamá-lo de bichinha.
Agora, toda a abnegação não passava de anamneses distantes e engraçadas. Ele encontrou seu caminho.
Aos doze anos tomou jeito, sua tia havia partido. Culpado, o garoto achou que fosse por suas inúmeras traquinices e, com somente as tias da igreja dispostas a suportar suas diabruras, resolveu crescer. Concluiu a primeira eucaristia e, anos depois, tomou seus votos de castidade, pobreza e obediência.
Além de prosseguir com os estudos teológicos, Taehyung fez mestrado em artes. Tamanha era sua paixão que não auferiu abandoná-la, especialmente a música. Ah, ele adorava cantar pelos cantos da capela, sua voz soava como um chamado celestial, doce, grave e aveludada.
Opera era seu estilo favorito.
A homilia naquele dia havia demorado mais que o planejado, empolgou-se ao falar sobre o Todo Poderoso, entretanto, não foi um problema. Finalizou às nove horas com sua sutil saudação.
— Eu vos saúdo com a paz de Cristo.
Os fiéis responderam em coro e todo o silêncio antecedente se transfigurou em estalos dos bancos e vozes bem-humoradas, cumprimentando-se.
A igreja foi ressequindo conforme saíam, alguns se demoraram no átrio, conversando uns com os outros sobre as banalidades do dia a dia, ou somente saudando a paz em abraços e apertos de mãos. Enquanto isso, o sacristão e os acólitos não instituídos se dispuseram a arrumar o recinto antes de fechar a casa de Deus.
Taehyung direcionou-se à sacristia e retirou a alva junto a casula, os guardou. Pegou seu escapulário de volta, retirado antes da missa, e circundou o pescoço com a peça. Beijou a cruz e agradeceu. O nome grafado ali reluziu trazendo-lhe uma mistura de ansiedade e saudades.
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Celibato (EM REVISÃO)
FanfictionUm homem infame, mas um excelente poeta. Gregori é um escritor ínfimo e pestilento que, ao usar de sua pouca vergonha e vocabulário impecável, vive a provocar o Padre Taehyung. Gregori guardava segredos, sobre quem era e o porquê de importuná-lo tan...