Prólogo

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<><><><><><><><><><><><><><><><><><>[20 anos atrás] <><><><><><><><><><><><><><><><><><>

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[20 anos atrás]
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Se prestasse muita atenção, daria para ouvir o som da agulha perfurando os guardanapos nas ágeis mãos de minha mãe. Mal havia cantado os pássaros, e ela estava lá, quebrando o perfeito branco do tecido com uma linha azul escuro e eu observava atentamente a dança de seus dedos segurando a agulha. Mas parou, analisando o seu trabalho com todo o cuidado de uma costureira.

-Você não acha que esse tom de azul quebra a harmonia da festa?

-Acho que é uma cor muito forte para um casamento.

-Eu concordo. Vai perder a delicadeza da festa, e não combina com a decoração. Mas a sua irmã faz questão dessa cor. Vou ter que deixar assim mesmo.

-Mãe, por que a senhora está costurando tantos guardanapos para tão poucos convidados?

-Não são tão poucos assim. O noivo de lis é um homem de posses, sua família fez questão de fazer uma grande festa. Além disso, estou fazendo também alguns de presente para usarem na casa nova.

- Eu vou sentir falta dela.

-Eu também não queria que ela fosse. Mas é assim que as coisas sempre acontecem. As pessoas se casam, e se mudam. Além disso, é uma tradição da nossa família. As mulheres moram com os pais até se casarem.

-Quando crescer eu também vou ter que me casar se quiser sair de casa?

-No futuro sim. Mas por agora, me ajude a terminar de cobrir esses guardanapos com essa cor ridícula!

-Será que ela vai notar se a gente trocar por uma linha salmão?

-Com certeza vai.

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[10 anos atrás]
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Senti um cheiro de café, e o pequeno barulho do bater da colher na panela com o leve chiar da margarina sendo derretida na frigideira quando percebi que já era dia. Abri meus olhos e mesmo sem muita consciência, me levantei e desci as escadas, com meus dedos deslizando no ferro do corrimão, já enferrujado e um pouco desgastado pelo tempo. Fui suficientemente cautelosa, o bastante para eu não cair da escada. Vi meus irmãos mais novos todos sentados na mesa, "sério que eu fui a última a acordar?". Abri a geladeira, peguei um copo de água gelada, mas de uma forma que me doía a cabeça.
Me sentei na cadeira, junto com meus irmãos, quando minha mãe chegou colocando um prato com 5 sanduiches em cima da mesa.

-Bom dia!

-Bom dia, mãe.-Disse ainda meio atordoada.

-É um para cada. Vigie as gêmeas para que não briguem, e deixe o meu sanduíche aí, porque eu já volto.

-Elas já tem 9 anos. Não precisam de babá. Além disso, demoram muito comendo.

-Eu sei. Mas vou ser rápida.-Disse pegando sua bolsa e a chave do carro.

-Onde você vai? -Perguntou a minha irmã.

-Calma, Gardênia. Vocês logo saberão.- Disse soltando um certo ar de mistério ao local.

Peguei a garrafa de café e derramei em minha xícara, enquanto Gardênia e Camélia se perguntavam o que nossa mãe queria dizer. Ela demorou bastante, e quando chegou, também não disse nada, mas eu resolvi não tocar no assunto.

As meninas foram para o quarto e eu fui
bordar no quintal. Coloquei um tapete no banco de madeira, que estava úmido devido ao período de chuva, e me sentei colocando os pés descalços no chão de terra que estava extremamente frio. Minhas mãos costuravam rapidamente com linhas azul e violeta, mas minha cabeça estava totalmente voltada para outros lugares quando fui trazida de volta para a realidade ao ver minha mãe se sentando ao meu lado. Ela estava com as mãos fechadas em "conchinhas" como se segurasse alguma coisa.

-O que você está fazendo?

-Eu resolvi terminar aquele tapete que eu comecei um tempo atrás.

-Achei que você tivesse prometido que nunca usaria esse azul.

-Meu Deus! É verdade! Eu estou usando aquela linha horrível do casamento de Liz. -Disse desmanchando os pontos com essa cor. - O que a Sra está carregando?

-Lembra aquela casa do seu pai que ficava naquele pequeno relevo onde ele costumava alugar?

-Sim, eu me lembro.

-Essa casa está desabrigada há muito tempo. E precisamos que alguem cuide da casa, já que não pretendemos mais alugar...-Disse abrindo as mãos, e revelando um molho de chaves que segurava- E você tem a idade que Liz tinha quando se casou.-Colocou as chaves nas minhas mãos.

Eu fiquei completamente sem palavras.

-Você vai querer se mudar?

-Eu não sei, vocês vão quebrar a tradição?

-Se você quiser...

-É claro que eu quero! Mas, quando?

-Podemos escolher uma data, e fazer a mudança. A casa já está mobiliada, então não vai ser tão trabalhoso.

‐Vamos marcar logo uma data!

-Quando você quiser...


   

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