conversa no bar

16 1 0
                                    

  O relógio está dizendo que são 18:00 horas, o que significa que não tenho mais tempo de colocar meus pensamentos em ordem.

Pego minha bolsa e vou distraída pelos corredores do hospital psiquiátrico onde trabalho há alguns anos. No entanto, a primeira vez que entrei aqui foi aos 17, não foi uma visita agradável, foi rápida e constrangedora. Minha mãe não permitiria que nada sujasse a família dela nesse ponto.

  Minha mãe, ela será um problema. Sempre agiu como se precisasse controlar todos a sua volta. Por esse motivo saí de casa cedo, antes mesmo de começar a graduação. Eu precisava estar longe dela para aprender como cuidar das pessoas.

Olho aqueles jardins incríveis, bem cuidados e repleto de pessoas. Todos sorriem tanto aqui que nem parece o lugar triste que conheci na adolescência. Talvez eu que estivesse assustada na época.

  Entro no carro preocupada. Logo vou ter que comprar uma cadeira adaptada para bebês, e outras milhões de coisas pois Lilian não tem idade nem para ter habilitação, quem dirá um carro. Nem Bruno tem aliás.

Fazendo uma lista mental do enxoval do meu neto eu dirijo pelas ruas da cidade. Há muitos anos estar assim me acalma, mas hoje parece que todos os prédios decidiram estar mais próximos do fluxo do trânsito.

Aperto meus dedos no volante, respiro fundo algumas vezes e não deixo a onda de medo chegar. Tenho coisas a fazer, preciso me concentrar.

  Paro no centro, ainda tenho dez minutos antes de ir para o restaurante. 

Entro numa livraria conhecida. Ando pelos corredores escolhendo alguns exemplares de meus livros infantis preferidos. 

Meu neto vai ter ótimos livros, não farei menos que isso. 

"Olha para si mesmas Helena, nem sabe se Lilian vai querer ter a criança e mesmo assim já está comprando livros…"

Sorrio para mim mesma. 

Livros são livros, nunca são demais.

Saio com a sacola em mãos mais animada. Meus filhos aprenderam a ler cedo, sempre tiveram acesso as palavras.  Nada mais natural que eu comprar para meu neto. 

  As ruas continuam no mesmo lugar, mas as pessoas já não são as mesmas. 

Lembro na primeira vez onde nos encontramos naquele bar, anos atrás era um pub onde tocava rock nacional. Um restaurante pouco elegante combina com nossa vida atual. Como se os lugares que frequentamos mudassem com a gente ao longo dos anos.

Beth está numa mesa afastada, já pediu dois chopps. Entendo, chegando cedo.

-Como você está Helena?
Ela pergunta com olhar preocupado.

-Bem, não sei o que pensar sobre a situação ainda. Tenho medo da Lil não saber o que fazer…
Desabafo com minha amiga.

-Tenho medos também, não sobre Lilian. Tenho medo que Bruno não seja um bom pai, ou não saiba como agir.
Ela conta.

Então estamos passando pelos mesmos problemas. Tomo um gole do líquido viscoso que a muito sentia falta. Continuamos a conversar sobre onde procurariamos o enxoval para a criança.

Edgar chega seguido por Jorge.

-Aproveitei o tempo de sobra para tomar um banho rápido antes de vir.
Meu marido beija o alto da minha cabeça.

-Acabei saindo mais cedo, o que conversavam?
Jorge abraça Beth ao sentar de seu lado.

-Estavamos pensando em como vamos fazer o enxoval do bebê. Queria encomendar algumas peças personalizadas e Helena acha uma ideia ótima!
Beth disse animada.

-Hum… onde se encontra essas coisas?

Edgar olhou para Jorge, ambos um pouco confusos.

-Não se preocupem, nós resolvemos isso.
Rio de canto e acalmo ambos.

Pedimos uma rodada de chopp e petiscos. 

Bem, chopp para Beth e para mim, nossos maridos pediram água tônica.

 Edgar começou a falar.

-Então, eu não quero que Lil se case ainda. Se possível quero que eles morem separados até terem maior idade.

-Pretendo ajuda-la com a criança, e quero que ela estude.
Completo.

-Bem, eu consigo ver eles juntos futuramente. Mas não agora como um casal. Concordo com isso.
Beth diz.

-Não gosto da ideia de uma criança crescer dessa maneira, sinceramente acho que ambos os pais devem estar perto.
Jorge contrapõe.

-Podemos resolver isso com ele fazendo visitas diárias e ajudando Lilian?
Edgar sugeriu.

-Não somente isso, quando o bebê estiver grande o suficiente, quero que ele leve para nossa casa e cuide dele. Ao menos por poucos dias.

-Seria bom se ele pegasse a criança e saísse com ela, enquanto recém nascida ainda. Levar para passear enquanto Lil descansa. 
Acrescenta Beth.

-Isso seria de grande ajuda. Principalmente nos primeiros meses.
Fico aliviada.

-Lilian está no nosso plano de saúde, então todos os gastos serão cobertos. Pretendo colocar a criança também como dependente.
Edgar fala.

-Então nós cobriremos todos os gastos com medicação para a criança e para o pós parto da Lilian.
Jorge afirma.

-Ela pretende amamentar?
Beth pergunta.

Nosso chopp chega, os petiscos também. Noto que estava com fome.

-Ainda não sei, mas acredito que sim. Caso contrário teremos que comprar fórmulas prontas.
Digo tomando um gole da cerveja.

-Teriamos que comprar em algum momento. O valor da alimentação também será dividido entre nós. Tudo bem?

-Perfeito. Quando Lilian começar a estudar novamente precisaremos de uma babá. Não sei exatamente quanto é, mas o que faremos?
Pergunto.

-Conheço empresas que fazem isso. É caro, mas até um ano é bom ter babá. Depois disso considero uma creche a melhor opção.
Beth afirma.

-Concordo. Assim teremos certeza que a criança está bem enquanto os meninos estudam.
Digo.

-O preço da creche também será dividido entre nós. Quero que a criança tenha uma boa educação.
Edgar se pronuncia.

-Estou de acordo. Quando chegar esse momento, eles podem escolher onde querem deixar a criança. Desde que, seja integral. Não vou admitir que parem de estudar.
Jorge foi firme.

Duas rodadas mais tarde, estamos prontos para sair. Antes disso eu pergunto, para ter certeza do que estou fazendo

-Vamos permitir que eles escolham, certo?

Pergunto.

Todos concordam. Mas eu tenho dúvidas que essa conversa impedirá turbulências emocionais. Financeiramente, podemos lidar com um bebê. Mas estou receosa se nossas famílias podem sobreviver a esse furacão.

Tenho dúvidas se eu vou sobreviver a esse furacão.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Feb 23, 2020 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Minha filha agora é mãeOnde histórias criam vida. Descubra agora