quando começou a virar de cabeça para baixo

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  O dia está clareando e eu ainda não dormi um minuto sequer.
Olho o mostrador do celular e vejo que falta pouco para as seis.
Edgar está deitado olhando para a parede oposta. Não faço ideia do que se passa na cabeça dele, mas temos que achar uma solução rápido.

- Sei que está acordado. Quer conversar?

- Não tenho certeza. Preciso pensar no que fazer, estou perdido.

Ele senta na cama com o rosto entre as mãos.
  Levanto da poltrona e sento ao seu lado.

- Vou marcar um teste clínico, talvez consiga para essa tarde ainda.

- Acha que ela pode estar enganada Helena?

- Não, duvido dessa hipótese. Mas precisamos ter certeza. Afinal, ela é só uma menina.

- Ela sempre vai ser só uma menina. A nossa menina.

- Vou avisar ao Jorge e a Beth. O resultado sai em algumas horas, e podemos resolver isso logo.

- Vou para o hospital, tenho que estar lá às 7:00. Vou pedir ao Henrique para que fique a noite no meu lugar. Marque o exame para as 13:00, eu vejo se consigo adiantar os resultados do beta HCG.

Edgar já tinha sumido pela porta do banheiro quando terminou de falar.

  Levanto da cama precisando de coragem e me movimento até a cozinha. As crianças logo estarão acordadas e todos vamos sair.

- Bom dia mãe...

Rafael me surpreende ao me beijar desprevenida.

- Bom dia querido. Conseguiu dormir bem?

Ele senta a mesa e olha com certo receio.

- A Lil passou a noite comigo hoje. Estava assustada então coloquei ela para dirimir.

Sorri, nós dois sorrimos. Ela ainda é a mesma garotinha que mal cresceu.

- Bom dia filho, vai trabalhar hoje?

Edgar pergunta sentando ao lado dele na na mesa da copa.

- Bem, sim. É só um estágio, não ganho bem ainda. Você sabe...

Rafael diz um pouco envergonhado, sei que ele não gosta de dar trabalho para nós. Ele é ótimo profissional, e é estagiário numa editora. Sei que vai se sair bem. Será um grande autor e eu serei uma mãe muito mais orgulhosa que sou hoje.

- É o que você ama fazer, e só isso importa. A que horas você sai?

- Por volta das 17:40. Não tenho certeza do trânsito.

- Ótimo, se importa de ficar em casa até sua mãe e eu voltarmos de um compromisso. Sinceramente, não sei que horas vai acabar.

- Tudo bem. Não que eu ache que a Lil vai tentar fugir de casa.

Ele ri da própria piada ruim. Edgar também ri, o que é um pouco engraçado ver que ambos tem um humor parecido, agradável e leve.

- Não é isso. Ela é uma adolescente, e está grávida. Queremos que ela fique bem antes de tudo.

- Bom dia...

Lil entra na cozinha, ainda cabisbaixa.

- Como passou a noite?

Pergunto assim que senta.

- Bem, eu dormi com o Rafa.

Ela sorri um pouco tímida.

- Mingal de aveia?

- Tem pão, leite, café, suco na geladeira, biscoitos, e acho que tem um bolo em algum lugar. E sim, Lil, mingal de aveia. Precisamos começar a ajeitar sua dieta.

Minha filha agora é mãeOnde histórias criam vida. Descubra agora