o exame

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Entro na rua onde costumava caminhar todas as manhãs. Em frente ao colégio religioso que frequentei ainda estão os mesmos portões de ferro fundido, agora pintados de zarcão preto, que anos antes proibiram a passagem de uma garota na mesma situação da Lil.

Se fosse eu naquela época, o que faria? Aceitaria ou insistiria?
Precisarei conversar com a atual gestão da escola sobre isso, não quero que minha filha pare de estudar. Mas se for preciso tirá-la da escola, o farei.

  Lil  senta ao meu lado no banco do passageiro e Bruno atrás, pelo espelho o vejo vermelho tentando falar algo.

- Não precisa dizer nada ainda se não souber por onde começar. Fique tranquilo, ninguém vai obrigar vocês a fazerem algo que não querem.
Sei que pareço dura, mas nem sempre posso ser amiga deles.

- Sinto muito tia Helena, eu não sei bem o que pensar ainda.

- Eu sugiro que pensem num nome para criança.
Sou péssima com piadas, mas isso alivia tensão.

- Mamãe, acho que eu vou querer esperar pra saber quando nascer. Deve ser um suspense legal!
Lil diz com um sorriso no rosto.

- Antes de qualquer coisa precisamos da confirmação, e depois marcar as consultas, os exames.

- Tia Helena, eu não estou trabalhando agora, mas eu quero ajudar de alguma forma. Não sei se consigo algo agora mas...

- Vamos resolver isso, certo? Estou feliz que queira ajudar, mas temos coisas a resolver para agora. Então respirem.
Corto o Bruno.
Por motivos óbvios, eles são crianças ainda. Claro que temos que considerar responsabilidades, mas não é só isso que temos a fazer.
Faço uma anotação mental para conversar com Edgar, Beth e Jorge mais tarde.
  Na entrada do Hospital Jorge está andando para um lado e para o outro falando ao celular.
Nos aproximamos, quando ele nota nossa presença desliga a ligação e se volta para nós.

- Helena! Boa tarde, nossa situação está complicada, mais tarde nós nos resolvemos todas as medidas.
Ele olha para Lil.
- Lil, meu amor! Espero que saiba que eu e Beth estaremos aqui seja qual for sua decisão.

- Obrigada tio Jorge. Eu já decidi que se for realmente confirmado eu terei a criança.

Sorrio para ela. Não quero força-la a nada, mas confesso que gostaria de ser avó.

- Vamos Bruno. Acompanhe sua namorada e seu possível filho.
Apesar de ser grosso, Jorge parece feliz com o fato de ser avô. Quando os meninos entraram, ele sorriu para mim com ares de bobo, provavelmente imaginando o bebê.
  Não nego que imagino um bebezinho lindo nas mãos da minha filha. Ou uma pequena criança correndo pela casa.

  Edgar estava sem o jaleco na entrada do laboratório. Significa que ele vai somente acompanhar.

- Finalmente! Vamos, vamos. Tudo correndo bem agora até o final do dia recebemos a confirmação se mandar para o laboratório antes das 14:00.

- Achei que o resultado saísse em 24 horas.
Lilian parecia mais animada.

- Sim, senta aí Lil, mas isso se você aparecesse aqui mais tarde. Isso, relaxa  o braço que já estão chegando.

O enfermeiro apareceu sorrindo, minha filha relaxada no acento parece confiante. Bruno ao lado dela parece que vai desmaiar.

- Então essa é a moça bonita que vai fazer o exame? Ótimo, já está pronta.

- Estou sim. Quando tempo demora para entregar o resultado?

- Bem, enviaremos por email até às 30:00. Ou se preferir pode vir buscar as 18:00

- Pode me enviar, mas acho que meu pai vem buscaram antes.

- Venho sim, pode ficar tranquila.
Edgar parecia feliz, embora tenso.

Foi rápido para encontrar a veia e coletar o que era preciso.
Um alívio caiu na sala quando todos se levantaram.

- Vou levar Bruno para casa, mais tarde encontro vocês.
Jorge estava com pressa.

- Mais tarde eu passo lá Lili!
Bruno beija o rosto dela contente.

- Até mais tarde!
Ela estava radiante.

- Vou levar Lil para casa e voltar para o hospital. Até mais tarde.

- Tudo bem Helena, vou pegar o exame antes de nos encontrarmos.
É a vez dele beijar meu rosto.

  O trajeto para casa pedia uma parada que costumava ser comum.
' Rei do suco'.

- Vamos parar aqui.
Disse saindo do carro.

- Sério mãe?

- Sim, quero comer um italiano. Podemos?

- Claro que sim.
Minha menina não tira o sorriso dos lábios. Fico feliz que esteja animada, mas espero que ela seja forte.

  Esse lugar lembra a infância dela, sei disso. Costumava parar aqui depois de sair com ela para qualquer lugar. Comiámos  muitas bobagens.

- Já decidi o nome!
Diz ela de súbito.

- Não quer esperar para saber o sexo?

- Não, só quero saber quando nascer. Fim!

- Ótimo, então qual será o nome?

- Ariel. É unissex e eu amo esse nome.

- É um nome lindo, e essa criança vai adorar.

- Você está falando como se o resultado já tivesse saído...

- Sou sua mãe. Antes de qualquer pessoa, eu te ensinei tudo que eu sabia. Você não iria se enganar ao me falar.

- Obrigada por confiar em mim, mãe.

- Obrigada por deixar que eu faça isso. Prometo que não vou me intrometer mais que o necessário.

- Por favor, precisarei de ajuda em basicamente tudo. Não me deixe fazer besteira...

- Não vou deixar.

   Acabo de criar uma conexão intensa com minha filha. Um elo que acreditei que demoraria a ter.

Minha filha agora é mãeOnde histórias criam vida. Descubra agora