Capítulo 2 - O Templo do Dragão

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Capítulo Dois

O Templo do Dragão

Quando entraram no portal do Monte Pilbara, os seis escolhidos não sabiam que uma vez dentro do portal cada qual seguiria em uma direção diferente.

Enquanto Phoebe foi para o Vale do Sussurro, Chris foi levado para uma região do mundo Únu, onde a guerra ainda não tinha chegado. O jovem não sabia, mas tinha um encontro marcado com um arauto da Morte e que sairia desse encontro transformado completamente.

Ao contrário de Chris, o que esperava Djai Ling do outro lado era a guerra e toda a devastação que ela é capaz de produzir.

Enquanto viajava pela escuridão, Djai Ling se sentia estranho em casa naquele universo sem luz. As tatuagens na sua pele se moviam e mudavam quase o tempo todo de lugar e forma. Felizmente para ele, depois de tantos séculos, aprendeu a não dar tanta importância ao efeito delas em sua mente.

Ele não fazia a menor ideia que quando chegasse do outro lado do portal encontraria um mundo mergulhado no horror.

Poucos humanos conheciam o universo Únu como ele e infelizmente não havia como descrever para os outros as emoções que trazia no coração.

Mesmo depois de tantos séculos, ele ainda se sentia incomodado com a ideia de que ele mesmo permitiu que seu povo fosse levado.

Djai Ling amava cada um dos seus filhos e filhas, afinal ele viu cada um deles nascer, e seus pais, e os pais de seus pais. "Então, como pôde deixar que os seres da noite os levassem?". Ele fez uma pausa no ritmo que impunha aos seus pensamentos e afirmou para si.

— Eles morreram por uma causa maior que todos nós. A morte deles permitiu que eu fizesse parte desse novo mundo que agora estou mergulhando e adentrasse mais ainda nos segredos desses seres sem luz. Na hora certa honrarei o sacrifício que meu povo fez e separarei nossas espécies de uma vez por todas, as colheitas vão parar em nome de Gao.

Cada um dos seis companheiros de batalha que lutava ao seu lado, não imaginava o quanto a mente dele estava focada nos propósitos da sua missão e nos desdobramentos dela para todas as formas de vida que habitavam os três mundos.

Quando os viajantes olhavam para o pequeno ancião de pele levemente amorenada, não imaginavam que aqueles olhos semicerrados já tinham vislumbrado centenas de anos passando diante deles. Djai Ling, embora aparentasse entre sessenta e sessenta e cinco anos, naquele momento, já contava com cento e oitenta e dois anos de vida; uma vida que começou na Costa da Guiné em 1835.

Costa da Guiné 1835

O navio negreiro, chamado Santíssima Trindade, de bandeira portuguesa, foi uma dentre as mais de sete embarcações pertencentes à família Oliveira Antunes que saiu de Portugal para comprar escravos na costa africana.

Vinte e dois dias já tinham se passado desde sua saída dos portos portugueses com destino ao Caribe passando pela África Subsaariana.

Dentro dele, um marinheiro asiático, de nome Djai Ling, dividia seu tempo entre a limpeza do convés e as batatas da cozinha. Quando não estava trabalhando, o que era raro, ele descia as escadas até o porão, onde contemplava silenciosamente toda a magnitude da miséria dos mais fracos. A vida insignificante que ele tinha no navio da família Oliveira Antunes era resultado da submissão na qual seu povo se encontrava em quase toda a Ásia naquele período.

O sofrimento no qual sua terra estava mergulhada não se comparava a vida que outros povos levavam sob o julgo daqueles terríveis conquistadores de tez branca e coração duro.

Nos porões do navio, duzentos e setenta e cinco almas aguardavam seu destino nos portos de Porto Prince, nas possessões francesas no Caribe. As fazendas de produção de açúcar alimentavam o mercado crescente de mercadorias humanas que eles desumanizavam, primeiramente chamando-os de peças.

Nos Domínios da Morte - Saga dos Três Mundos Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora