Dia 1

49 4 3
                                    

No primeiro dia após sua morte, eu fui ao seu enterro. Ela estava usando o mesmo vestido vermelho de bolinhas brancas que usava quando eu a vi pela primeira vez, era seu preferido. Ah, eu me lembro como se fosse ontem...

Era carnaval, tinha combinado com meus colegas de classe de nos encontrarmos às 17:00 no metrô, mas nesse dia em específico tudo deu errado. Me atrasei pois poucos minutos antes da hora de sair descobri que meu cachorrinho havia sido atropelado, tive que leva-lo até o veterinário e antes de sair mandei uma mensagem no grupo onde todos estavam pra falar do rolê, avisei sobre oque tinha acontecido e pedi para que me esperassem um pouco, eu não iria demorar. Todos os 6 membros do grupo visualizaram a minha mensagem, mas ninguém respondeu.

Cheguei no local marcado às 17:15, feliz por não ter me atrasado tanto. Mas, procurei e procurei, não tinha ninguém. Pensei que talvez eles estivessem atrasados, afinal, passaram apenas 15 minutos, eles não iriam embora sem mim sabendo do que tinha acontecido, né?

Esperei por mais 15 minutos e resolvi mandar uma mensagem no grupo perguntando quando eles iriam chegar. O resto do ânimo que eu tinha foi completamente apagado quando recebi a resposta 10 minutos depois dizendo "Ah, Carlos, desculpa. Nós já saímos daí faz tempo". Perguntei o motivo de ninguém ter me avisado e recebi um áudio de uma das garotas dizendo "Nós esquecemos que você viria" com toda a música e cantoria de fundo. Engoli as reclamações que estavam na garganta, pensei em voltar pra casa e fingir que nada tinha acontecido, mas no final acabei indo.

Chegando lá, mandei outra mensagem no grupo perguntando onde eles estavam pra eu poder me juntar a eles e enquanto aguardava uma resposta, comecei a andar pelas pessoas e observar suas fantasias. Isso acabou me contagiando e meu mau humor foi embora na hora. Poucos minutos depois eu estava trocando ideia com um grupo de pessoas que eu tinha conhecido ali mesmo, sempre fui muito bom em fazer novas amizades. Foi quando eu a vi.

Ela estava distante, mas era quase impossível não notar seu vestido vermelho de bolinhas brancas. Ela estava também com um laço vermelho no cabelo, o que se destacava bem no cabelo preto dela. A garota dançava bem agitada no meio de todos, com uma cerveja numa mão e o celular na outra. Eu me aproximei e perguntei seu nome, ela me respondeu "Luana" de um jeito alegre e entusiasmado. Nós conversamos sobre várias coisas diferentes, ela me disse que tinha ido pra lá sozinha e que era sua primeira vez em um bloquinho de carnaval, mas não parou de dançar nem por um segundo durante a conversa.

Nós fomos embora juntos, foi quando percebemos que morávamos na mesma direção. O papo fluiu por todo o percurso e foi muito mais fácil já que não tinha todo aquele barulho e agitação externa. A esse ponto eu já tinha esquecido dos meus colegas, assim como esqueci de pedir o número dela.

Quando cheguei em casa estava todo bobo, rindo atoa e me lembrando das coisas que conversamos durante a noite. Dormi como um anjo e sonhei com ela.

Lembrar disso fez-me cair em prantos por cima de seu caixão, tocando o vestido vermelho que ela tanto adorava e que eu jamais poderia vê-la usar novamente. Minhas lágrimas caíram por cima de sua pele fria e sem vida, enquanto implorava para Deus traze-la de volta, gritei que ela não deveria ter morrido assim e nem tão jovem, que eu ainda precisava dela. Em meio a gritos roucos e trêmulos, vociferei a perguntar o motivo de tê-la colocado em vida se era para morrer de forma tão trágica e dolorosa. Deus nunca me respondeu de volta.

[Nota do autor: se você gostou, não esqueça de votar clicando na estrelinha e de deixar seu comentário, eu vou adorar ler]

13 Dias Sem ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora