Dia 4

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No quarto dia após sua morte, eu ainda não estava 100% recuperado de minha tentativa de suicídio, mas decidi ir para a faculdade pois sabia que se ficasse em casa por mais tempo, acabaria ficando louco. Muitos vieram me desejar pêsames e me reconfortar, mas durante os intervalos entre as aulas, fui capaz de ouvir algumas vezes as pessoas dizerem que eu não estava tão mal pela morte de Luana, já que eu estava indo pro colégio como se nada tivesse acontecido. As palavras me apertaram no coração, e antes que pudesse me dar conta, estava mentalmente pedindo desculpas à Luana. Pedindo desculpas por levantar da cama, por sair de casa, por tentar ocupar minha mente, por voltar à universidade, por tentar viver minha vida como uma pessoa normal. Irônico, não? Eu me sentir culpado por tentar sair do fundo do poço.

Foi então que eu percebi, eles não queriam me ver bem. Vinham até mim não por empatia, mas por curiosidade. Não passam de um bando de pessoas sádicas e insensíveis que pelas minhas costas estavam dizendo que eu não estou demonstrando minha tristeza tanto quanto elas queriam ver.

Ao terminar a última aula, decidi que não pegaria o ônibus pra voltar. Precisava andar um pouco, talvez as paisagens pudessem me acalmar e distrair. Mas aconteceu justamente o contrário.

No caminho, passei na frente de um restaurante japonês e isso fez-me lembrar da vez que experimentei a comida japonesa pela primeira vez, estava com ela. Eu estava receoso com a ideia de comer peixe cru, mas ela adorava e insistiu que eu experimentasse. Lembro-me como se fosse ontem do gosto horrível que preencheu a minha boca quando dei a primeira mordida, e jamais me esquecerei da expressão de indignação que ela fez quando eu disse que não conseguiria engolir. Na hora de irmos embora ela parecia preocupada com algo, então perguntei o que havia acontecido. Ela me disse que estava perto da hora de ela fazer a prova para ser admitida em uma universidade no Reino Unido, e estava insegura. Jamais esqueci o sentimento que tive quando percebi que ela iria para mais longe de mim, mas a encorajei e a convenci de que era capaz. Como resposta ao meu incentivo, ela me prometeu que voltaria no final do curso para ficar comigo novamente, e aí seria para sempre.

Ao pensar sobre ela novamente lembrando-me do passado e de como fiquei orgulhoso no dia em que ela me contou que havia passado na prova, minha respiração ficou ofegante, lágrimas escorreram pelo meu rosto involuntariamente. Sentei-me no chão da rua e escondi meu rosto em meus joelhos, comecei a tremer como nunca e meus pensamentos voavam inconsistentemente enquanto sentia meus pulmões tendo ainda mais dificuldade para puxar o ar.

Tentei forçar meu corpo a se levantar, mas nada do que eu tentasse funcionava. Isso é o que chamam de Crise de Ansiedade? Eu não sei... mas, naquela hora uma moça se aproximou e perguntou-me se estava tudo bem. Eu queria responder, queria pedir ajuda. Mas não consegui. As palavras foram substituídas por soluços e tosses. A mulher começou a dizer-me para prender e segurar a respiração enquanto a olhava nos olhos, ela fez e disse tudo oque podia para me acalmar. E conseguiu.

Quando eu estava razoavelmente melhor, ela me disse que seu nome era Isadora e ofereceu-me água em sua garrafinha lilás com enfeites de flores amarelas. Eu aceitei, e ela logo tomou a iniciativa de me acompanhar até minha casa para garantir que eu chegaria bem. No final do percurso, ela me passou seu número e pediu para que eu ligasse sempre que precisasse de alguém para conversar.

Segurei o papel onde ela havia anotado seu número e comecei a fantasiar, me perguntando o que levaria alguém a ser tão gentil e empático com um completo desconhecido que chorava na rua sozinho? Não sabia a resposta, mas isso me encorajou a trocar os lençóis e varrer o chão, coisa que eu não encontrava forças para fazer desde a morte de Luana.

13 Dias Sem ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora