Cap. 3: A Chegada

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Os alunos iam chegando e então começou a atividade da seleção — bruxos de 11 anos nervosos e apreensivos sentados em um banquinho de madeira recebem uma arara-vermelha e velha que depois acaricia os cabelos e bate com os pés na cabeça do novato, lendo os pensamentos e manias da criança para depois selecionar qual casa ela ficará.
Iraci lembrou de ano passado quando a arara selecionou os Guaranis para ela, casa de seus pais e avó, os qual comemoraram após a chegada da notícia da nova Guarani na família.
A menina observava tudo e todos, no teto, um céu estrelado e iluminado pela Lua, o mesmo feitiço de Hogwarts (talvez uma herança da cultura inglesa trazida por Catherine Snowbell). Ao redor, vaga-lumes e velas sobrevoavam parados no ar, e acima da mesa dos professores, estava o brasão da escola, com os símbolos e cores das casas.
O brasão era verde e dourado, com um belo "C" escrito de maneira trabalhosa no centro, em baixo, o mesmo lema que estava no barco — "Honra, Dedicação e Lealdade" — e ao redor do "C" estavam os símbolos de cada casa. A Jaguarélia estava no lado esquerdo superior, com uma majestosa onça-pintada dourada em uma posição corajosa na frente de um fundo vermelho; ao lado superior direito estava a bandeira Tupênia: uma harpia prateada de asas abertas e garras prontas para atacar; no lado inferior esquerdo se situava a bandeira dos Guaranis, um jacaré verde com os dentes a mostra e um fundo amarelo por trás; e por fim, no lado inferior direito, se encontrava o boto-cor-de-rosa da Snowbell e um belo azul por trás. Dizem que Snowbell chegou a chorar de emoção quando encontrou um boto-cor-de-rosa nadando, mas Greta sempre perguntava como que as pessoas sabiam disso e ninguém sabia responder.
Iam chegando alunos novos pequenos na mesa dos Guaranis, e Iraci do jeito que estava entertida com as cores da bandeira "castelobruxana", nem percebeu, mas depois viu três rostos novos e tímidos sentados junto de alunos do segundo ano. Logo veio a sua cabeça que não estava tão longe dos novatos quanto pensava, aliás, estudando lá fazia apenas um ano! Embora seus pais nunca comentavam o mundo da magia dentro de casa antes da menina entrar na escola — para não estragar a surpresa, segundo eles —, eles passaram a comentar todos os dias durante as férias coisas sobre o Ministério e a magia em outros países. Talvez lado tenha feito Iraci se sentir mais experiente no assunto, quando estava mais para novata do que para veterana.
"Joana Tâmaras! Snowbell!" A arara anunciava e os alunos da Snowbell comemoravam.
Embora Iraci estivesse, no começo da seleção, bem animada, logo se deu conta de que era um pouco entediante quando se era uma pessoa sentada no banco. Claro, era ótimo novos alunos na casa, novas chances de ganhar o quadribol, novas chances de ganhar a Taça das Casas — que ano passado foram para os Tupênios —, dentre outras coisas, mas não podia negar que não estava prestando atenção nos nomes anunciados.

 Claro, era ótimo novos alunos na casa, novas chances de ganhar o quadribol, novas chances de ganhar a Taça das Casas — que ano passado foram para os Tupênios —, dentre outras coisas, mas não podia negar que não estava prestando atenção nos nomes ...

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O brasão de Castelobruxo.
(desenho original)

Então enfim, acabou a seleção, além dos três novos alunos iniciais, estavam ali mais outros sete, todos com sorrisos tímidos e risadas nervosas, que se calaram após Carmem Plata aparecer atrás de seu oratório com detalhes de boitatás e asas de harpias e araras, enquanto olhos flutuantes e brilhantes iluminavam mais perto o rosto da diretora.
— Alunos — os jovens se calaram imediatamente —, como sempre é um prazer receber vocês em nossa escola, sempre dispostos para aprender coisas que levarão para a vida inteira! Não irei demorar muito falando, claro, pois não sou do tipo tagarela... — a mulher deu um sorriso simpático, o qual os alunos retribuiram com risadas educadas. — Eu apenas tenho alguns poucos recados a dar a vocês. Como os alunos do segundo ano devem ter percebido, pedimos um livro distinto dos outros da lista de materiais. "Magia sem varinhas", a matéria que será iniciada para vocês a partir desse ano. Alunos acima do segundo ano que se interessem por este tema, me procurem em minha sala que terei prazer em ajudá-los, mesmo que não tenham comprado os livros... erro meu, que pensei na matéria durante as férias, mas não se preocupem pois tudo dará certo — os alunos não pareciam nem um pouco preocupados. Os acima dos 12 anos de idade estavam sussurrando e trocando ideias uns com os outros sobre a matéria, se os amigos acham que vale a pena fazer e se eles irão fazer também, uma algazarra silenciosa. — Tudo dará certo pois a nossa querida Prof. Onyango irá ensinar muito bem a vocês. Ela veio de Uagadou a Escola de Magia e Bruxaria da Uganda, na África, e terá muito prazer em dar aulas aos nossos queridos alunos que nunca me decepcionam — a diretora sorria cumplicidamente para os alunos nas mesas e continuara a falar com a classe habitual. —, além disso, tenho de informar que a chegada de uma nova professora de história também está presente, Madame Novaes, por favor... — uma senhora de pele escura com traços tanto indígenas quanto africanos se levantou e cumprimentou os alunos silenciosamente apenas abaixando a cabeça. Usava uma roupa vermelha e óculos de rubi, que faziam um belo contraste com seus cachos brancos com alguns fios acinzentados e solitários em regiões vagas. Era uma mulher séria, não expressou emoção momento algum nas falas de Plata. — Obrigada... que também dará muito prazer em dar aulas à vocês. Espero que neste ano ocorra tudo bem — a diretora, que o discurso inteiro sorria e acenava para os alunos, olhou ainda mais cumplicidamente para Iraci após essas falas. Ela sabia mais do que ninguém que a menina passara apertos no ano passado, e pelo olhar, estava claramente avisando que: "Não se meta em encrencas, você pode morrer."
A menina entendeu o olhar e se deparou com peito de frango sob seu prato, junto a batatas e feijão, um dos pratos preferidos de Iraci.
— Uagadou? Não sabia que tinha escola de magia na África! — exclamou Leandro Gomes, um aluno bronzeado dos guaranis.
— Tem! E tem duas! Uma na Uganda e uma no Egito, só não me lembro o nome, mas é Instituto alguma coisa... — respondia Yago Lopes, enquanto molhava algumas batatas no estrogonofe de seu prato.
— Duas em um continente só? Por que os egípcios não vão para Uagadou?
— Ora, a Europa tem umas três escolas! Que nem são tão longe uma das outras... sobre a África, tem o contexto geográfico da África do Norte e África do Sul, e tal... fora que os bruxos egípcios são fortes demais para não terem uma escola própria — Lavinia Fabres se juntava na conversa.
— Caraca! — Leandro Lopes se surpreendia — Tem quantas escolas de bruxaria no mundo?
— Três, quatro, cinco, seis, sete... eu contei sete. As da Europa, África, a dos América do Norte e é claro, da América do Sul! — Yago contava olhando para o teto enquanto mastigava a comida saborosa do prato.
Iraci não tinha parado para pensar, mas realmente havia muitas escolas de bruxaria no mundo inteiro que até os próprios bruxos não conhecem. Pensou no Torneio Tribuxo europeu que acontecia em 1994, que não aconteceu novamente desde então. "Como o mundo é grande!" pensou a menina "estamos em um meio em comum sem sabermos da existência do outro"
Após os alunos comerem os frangos corados, as batatas deliciosas, as saladas bem temperadas e os pudins doces e leves que apareciam instantaneamente nos pratos, eles foram se deitar.
O monitor dos Guaranis, Octávio de Amaral, estava na frente da fila de chapéus verdes e penas amarelas, na frente do quadro de uma senhora com os cabelos fluorescentes sentada em um banco cheio de almofadas estampadas de flores diversas e uma paisagem rural.
— Júpiter vermelho! — Octávio falava ansioso para o quadro, que se abriu e mostrou o caminho para os quartos.
— Meninas aqui, e meninos aqui! — Octávio apontava para a esquerda e depois para a direita, direcionando os vários alunos.
No quarto das meninas, Iraci escovava o seu cabelo e percebera novamente a mecha branca atrás, dessa vez estava mais clara, o que fez a menina estranhar, mas não ao ponto de falar com alguém ou pensar muito naquilo. Pôs sua camisola branca no corpo e sua mala debaixo da cama, a gaiola de Leila estava no criado-mudo ao lado do beliche, com a vista para a janela, a arara já estava sonolenta.
— Boa noite, Leila... — a menina disse com os olhos se fechando. A arara retribuiu com um som baixo e calmo.

Castelobruxo: Iraci Régia e o Canto da SereiaOnde histórias criam vida. Descubra agora