Cap. 4: Aulas

16 3 0
                                    

Após alguns dias de aula, chegou-se o dia de Adivinhação com Madame Ayad.
— Acorda, Iraci! Se não, vamos perder a hora, a sala de Madame Ayad fica na Zona Sul do castelo — Greta tentava acordar a menina.
— Tá... tá bom.
As duas se arrumaram rápido e chegaram para o café da manhã na hora certa, juntas com as outras casas.
— Pão quente com manteiga! Hum... — Greta olhava apetitosamente para o prato — uvas, suco de laranja... gosto disso!
Iraci olhava estranhada para Greta, como conseguia comer tanto de manhã? A menina então se virou e se serviu com uma banana e um pêssego que estavam na tigela à esquerda.
— Ah, o que você ouve? Gosto muito dos Psicodélicos, dos Morcegos Tropicais e da Vênus Amarela... — um menino do terceiro ano conversava em tom apaixonado com uma garota também terceiranista na mesa dos guaranis.
— Adoro os Morcegos Tropicais! Meu show favorito deles foi naquele na França, que eles simularam que estivessem pegando fogo ao vivo enquanto cantavam 'Bela Luz'... mas também gosto da banda das Veelas da Noite e acho o Guto Hernández o máximo!
O papo parecia tão bom que deu vontade de Iraci entrar e falar que não achava Guto essas coisas e que só gostavam dele porque ele era bonito, mas achou que estragaria o clima dos dois. Mas prestar atenção na conversa foi bom pois eles começaram a falar sobre O Globete, o que Iraci achou um jeito um tanto estranho de puxar conversa.
— Charles Joaquin tinha iniciado uma petição para prender os Morcegos Tropicais depois de uma música que citava um homem ruivo e corrupto... saiu no jornal até! — a menina começava.
— Sério? Nossa! Não sabia... e depois? O que aconteceu?
— Relita Lea, a vocalista, botou a boca no trombone! Falou para um jornalista a seguinte frase: "Se a carapuça serviu... o problema não é meu!" Charles endoidou! Mas deixou para lá depois...
— Ele tá rico agora, um grande ricasso... e nem foi promovido nem nada.
Nesse momento Ugo Joaquin estava passando e parou um pouco, cabisbaixo com uma expressão de terror.
— Ah, oi, Ugo... — o menino que falava sobre Charles agora parecia sem graça.
— Oi... desculpem... — e o ruivo saiu andando.
— Ele é um frouxo! — sussurrava um menino jaguarélio em outra mesa, mas não tao baixo assim, já que Iraci chegou a ouvir. — Anda por ai sempre com a cabeça para baixo... acho que ele é... você sabe!
— Que rude eles são! — Greta falava — Vamos, Iraci... já terminei de comer.
As duas se levantaram da mesa com seus livros de Adivinhação e foram para o caminho da sala.
— O que será que há com Ugo? — Iraci perguntava.
— Eu não sei... só sei que ele sempre pareceu ser muito triste, mas esse ano ele não demonstrou nem um pequeno ato de alegria.
— Será que tem a ver com Charles Joaquin ter ganhado dinheiro? Será que ele gosta de ser pobre?
— Pobre? Pobre, pobre ele nunca foi, né Iraci... mas o pai dele nunca gostou dele pelo o que eu sei, desde que ele entrou para a Snowbell.
— É isso? Nossa... não achava que seria justo isso. Para mim seria algo que Ugo tinha aprontado...
— Snowbells não aprontam nada.
As duas continuaram subindo escadas e andando por corredores, onde encontraram alguns alunos tupênios que iam para a mesma sala, e chegaram na aula de Adivinhação que já estava com alguns outros alunos, tanto tupênios quanto guaranis, dentro de uma sala escura tampada com cortinas cor de púrpura e um chão como um grande tabuleiro de xadrez. Aparentemente não havia ninguém, além dos estudantes.
— Onde está a professora? — Greta perguntava depois de sentar ao lado de Iraci e Victor, que estava acompanhado de Júlio Mattos.
— Estou aqui, Srta. Monteiro! — de repente se ouviu uma voz vinda das sombras do fundo da sala — Estive aqui o tempo inteiro. Observando vocês — a mulher caminhava para a única fresta de luz que havia na sala, e iluminou-se seus colares e anéis de ouro que chamavam a  atenção dos alunos por causa dos desenhos egípcios e símbolos de olhos, mãos, luas, estrelas, sóis, planetas e dentre outros vários. — Sou Madame Ayad... professora de Adivinhação. Não irei prever maldições, nem irei dizer o futuro de vocês, meus caros... pois não gosto que me chamem de farsa, nem que desdenhem de mim  — ela falava em um tom sério — Estou aqui para ensina-los a arte de prever acontecimentos, decifrar sonhos, ver além da neblina da bola-de-cristal. E espero que vocês tenham sucesso.
Os alunos pareciam ainda espantados com o fato de que a professora esteve lá o tempo todo observando o comportamento deles, mas admirados com a aparência chamativa de Madame Ayad, uma mulher de traços árabes e cabelos escuros com pelo menos 1,75 de altura. Usava um lenço no cabelo enrolado no pescoço e um casaco listrado cor-de-turquesa e uma calça harém mais clara do que as outras peças da roupa.
A família de Madame Ayad viera do Egito, a bisavó dela era uma vidente respeitada de lá, porém, após complicações no Ministério da Magia do Egito no século passado, eles vieram para o Brasil onde tinham parentes, e se consolidaram como os bruxos árabe-brasileiros mais famosos do país.
— Hoje estudaremos como identificar recados de sonhos, por mais bobo que seu sonho possa parecer, ele tem um recado. Então vocês irão escrever o sonho que vocês tiveram noite passada e leram as páginas do capítulo I: Sonhos e Visões.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Feb 25, 2020 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Castelobruxo: Iraci Régia e o Canto da SereiaOnde histórias criam vida. Descubra agora