Capítulo 6

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24 de dezembro, Londres, Inglaterra.

Sete dias: Número que determina uma semana, o período menstrual de muitas mulheres ou, se você for um amante de filme de terror, o número de dias restantes até a Samara vir te buscar. Além dessas, muitas outras coisas podem nos vir a cabeça com essa marcação temporária, mas nenhuma dessas milhares de explicações se encaixavam nesse caso. Para mim, sete dias determinava o tempo em que o pior jantar da minha vida havia acontecido.

No primeiro dia, ele havia me ligado sem parar, de hora em hora. Tentei ir até a minha cafeteria favorita, mas o avistei de longe e dei meia volta, sem a coragem necessária para encará-lo e repetir o que eu tinha dito no restaurante. Talvez, o meu medo fosse o de voltar atrás e o agarrá-lo sem soltar nunca mais, mostrando toda a fragilidade que eu tinha escondido durante todos os anos da minha vida.

No segundo dia, as ligações diminuíram um pouco e, com o receio de encontrá-lo, como no dia anterior, desisti de toda a rotina confortável que eu havia firmado comigo mesma. Mesmo tendo dito não, aquilo já havia me mudado e me arrancado, sem nenhum aviso, da zona de conforto construída.

No terceiro e quarto dia, ele passou a me mandar mensagens, ao invés de tentar ligar. Tentei ignorá-las, mas precisei ler algumas delas. Todas as mensagens pediam desculpas. Algumas delas diziam sobre ele saber que tínhamos algo muito forte, devido a química que tivemos logo de cara e outras praticamente imploravam para que pudéssemos, ao menos, sermos amigos.

No quinto dia, as mensagens cessaram. No sexto dia, ousei ir até a cafeteria e o vi, de longe, com um copo de café em uma mesa no cantinho do local. Talvez ele tenha me visto de alguma forma, pois recebi uma mensagem logo em seguida.

Oi mione, como vai?

Tenho tentado te ver, como você já deve ter percebido. Tentei te ligar, tentei te mandar diversas mensagens, tentei vir a sua cafeteria para tentar, de alguma forma, conversar como dois adultos que somos. Infelizmente, nenhuma dessas opções foi possível, uma vez que a fuga é a defesa mais forte existente mundo e a mais utilizada.

Estou me achando inconveniente de todas as formas possíveis e começo a pensar que sou uma pessoa horrível já que, talvez, esteja tentando fazer acontecer algo que só está na minha cabeça.

Por isso, essa é a última mensagem que enviarei para você, em um último fio de esperança de que eu não esteja ficando esquizofrênico e precise me internar no hospital em que eu trabalho.

Mais uma vez, repito que ter esbarrado em você foi uma das coisas mais bizarras da minha vida. Não consigo acreditar que, em um dia estaria quase noivo de alguém que me traia, preso em um trabalho que não me fazia feliz e com uma família que me cobrava aos montes e que, no dia seguinte, teria começado a me apaixonar por alguém, teria acabado o meu namoro de anos e me mudado de apartamento, o que aconteceu ontem.

Eu gostaria que pudéssemos nos encontrar mais uma vez, mesmo que seja a última, só para esclarecermos as coisas. Estou torcendo para que você me responda.

Caso prefira não me responder ou se encontrar comigo, agradeço tudo o que me falou, todos os conselhos. Você mudou a minha vida, mesmo que brevemente. Não te encherei mais com minhas ligações e mensagens mas torcerei para que você se lembre, ao menos um pouco, sobre o que me disse no parque. Estarei sempre torcendo por você. Boa sorte e boa vida.

A respiração me fugiu por breves instantes e precisei me controlar para não o responder no mesmo instante. Entretanto, assim que guardei o meu celular e olhei para a cafeteria, Ronald não estava mais. Eis que um sentimento pouco conhecido por mim passara a se apossar desde então: Arrependimento.

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