𝔩𝔞 𝔩𝔲𝔫𝔢

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eu te levei até o topo da incendiária notre-dame e te ensinei à tocar o sino enquanto pequenas miniaturas fora de época de espectadores aplaudiam o meu pequeno show como uma porção de macacos batedores de pratos. eu te levei para dentro de um labirinto entre os meus dedos e a sensibilidade de cada toque dos meu digitos puídos que infelizmente macularam os favos de mel perolados entre as covas amáveis das suas bochechas e a curvatura dos seus olhos num sorriso de consumação e te amei por ali mesmo durante dias. e eu te beijaria em cada um dos lugares de paris, se é que você ainda não sabe.

um suspiro tortuoso de uma tormenta próxima murmura em meu ouvido. sim. nem dá pra esconder que em paris o sol quase nunca diz olá.

te fiz um lírio de pedra-sabão porque sempre pensei que pudesse limpar a podridão que depositei em sua pele quando eu à beijei, beijei e beijei entre lençóis e brisas ifernalmente frias e em contraponto aconchegantes para você e todo esse frio esclarecido. juntei flocos de neve dos seus cabelos loiros antes que eles deretessem e apelidei cada um deles de casa, porque se você quisesse, eu moraria ali com você para o resto da eternidade. e, mesmo assim, quando o sol da noite não aparece, penso que foi levado embora por alguém que possa te conceber mais do que uma foto de nós duas de mãos dadas em frente à basílica do sagrado coração. acho que eu nunca deixei claro que o meu amor é de papel picado estilo um carnaval ansioso pelo inverno porque não suporta o calor humano de mais que duas pessoas entregues em cima de uma cama. nunca deixei claro que os meus cartões postais não possuem palavras escritas à caneta tinteiro porque eu engoli todos os verbos quando associei um final de tarde na varanda de um hotel no subúrbio putrido de paris à uma tempestade de areia do deserto do atacama. eu não estava errada, pra falar bem a verdade, porque está chovendo desde que o ano começou e já são 16 guarda-chuvas que eu mantenho quebrados dentro do meu apartamento porque o vento combate com unhas e dentes a vontade que eu tenho de te colocar nos braços e dizer que tudo vai ficar bem, mesmo que eu não te dê o mar. mesmo que eu só possa te dar 3 palavras por dia e você mais três.

je t'aime, olivia.

je le sais


não há espaço para um moi aussi.

desde então eu te caço. a persigo em mim empunhando uma câmera fotográfica do século passado e não sei bem porquê. me engano achando que poderei documentar algum acontecimento sórdido de algum pecado capital se desmanchando como café, lírios e mel na frente dos meus pés quando na verdade tudo que eu pude ver fora um lustre (que eu possívelmente se olhasse por muito tempo poderia acabar pagando uma taxa à mais por possuir dois globos oculares, de tantos inquebráveis diamantes que salpicam tal relíquia) e dois corpos vestidos de branco, que ao contrário de dois anjos, representam o pecado da luxúria enquanto se auto-maculavam com lábios de camomila e promessas inquebráveis. observar de longe portanto me basta, porque sujá-la de saliva é menos do que eu deveria. porque observá-la pela lente suja da minha luneta só me entristece mais ainda por perceber que a dona da cascata dourada que nunca me pertenceu agora anda de mais dadas com a lua, abrindo alas por dentro de uma torre de 1600 degraus só para que beijem o topo e dêem oi para as nuvens que abrem caminho para o sol que beija a simplicidade feminina como se fizesse isso desde que nasceu.

só que no fundo, a soberba e a luxúria tampouco me importam quando tenho uma luneta, uma câmera filmando 24 horas as pouco mais de 3 quedas que eu tenho diariamente e um binóculo, para caso eu queira passar despercebida no meio de uma multidão apaixonada por todas as representações que cercam o amor, a beleza e a juventude de paris. certa certa vez você me disse que de todos os 7 abomináveis, o mais questionável de todos era a inveja.

e eu queria tanto estar te beijando agora...

OLIVIAOnde histórias criam vida. Descubra agora