Capítulo 2

336 26 5
                                    

De tempo em tempo um batedor vinha avisar de que os goblins estavam mais perto. Sindri já tinha se cansado daquilo. Só aumentava seu sentimento de impotência.

— Eles continuam atrás de nós — berrou Helrog pela décima vez na última meia hora.

Sindri arregalou os olhos e bufou.

— Estavam atrás de nós há cinco minutos, quando você falou pela última vez.

O líder teve o bom senso de corar. Sindri já não sabia se por vergonha ou por estarem naquela situação há quase uma hora.

— Relaxe querida, Helrog está apenas fazendo seu trabalho.

A garota olhou para a avó que cavalgava ao seu lado. Apesar das rugas, o rosto da anciã continuava belo quando sorriu para ela. Mesmo com o perigo que as perseguia, ela emanava aquela aura de tranquilidade e certeza de que tudo se resolveria. Sindri sabia que nunca seria bonita assim. Muito menos confiante assim.

Com certeza não viveria para tentar se os goblins os alcançassem.

— Avó, quanto tempo até a Passagem Tortuosa?

Sua avó olhou para o Olho de Jade que se arriscava entre algumas nuvens. Virou o rosto para frente como se pudesse enxergar a Passagem Tortuosa, lar dos gigantes de pedra – aliados dos anões que os ajudariam contra os goblins. A careta que ela fez enviou um calafrio pelas costas da garota.

— Suas armas estão prontas, querida? — foi a resposta que ela deu.

Sindri franziu a testa, mas murmurou que sim em resposta. Tinha ganhado outra adaga para substituir a que dera a Pacu. Sua avó sorriu para ela brevemente e voltou a olhar para frente. Alguns minutos se passaram antes que olhasse para Helrog cavalgando ao lado delas. O rosto do líder de ataque brilhava de suor. Seus cabelos pretos eram um emaranhado pior que um ninho de rato serpente. Lembrando que sua aparência não deveria estar melhor, a garota suspirou.

Helrog e sua avó se encararam como se tivessem uma conversa silenciosa.

— Quanto tempo acha que consegue segurá-los? — perguntou sua avó.

O coração de Sindri quase parou. Ela sabia o que aquilo significava. Queria abrir a boca para argumentar, tentar dar outra solução. Mas sua voz não saia.

Se Helrog teve medo, não demonstrou. Refletiu por alguns momentos, falando consigo mesmo. Quando seus olhos fitaram Sindri e sua avó, pura determinação brilhava neles.

— Quantos anões terei ao meu lado, majestade?

— Vinte.

— Vovó! — gritou Sindri antes que pudesse se controlar.

O olhar que a avó lhe deu fez com que se calasse. Sindri nunca entenderia isso. Essa obsessão dos anões em demonstrar bravura. Em enfrentar o perigo de peito aberto. E agora quase todos eles iriam de encontro com a morte. Como sua avó concordava com aquilo? Ser da família real não os colocava em uma categoria melhor. Não podiam permitir que outros arriscassem sua vida. Se o orgulho anão era tão importante, porque sua família não era a primeira a demonstrá-lo?

Sua avó fez um sinal para Helrog, que ergueu o punho fechado. A comitiva parou. Sua avó olhou para cada um dos soldados ofegantes. Quando falou, sua voz soou firme e poderosa.

— Eu não poderia ter pedido anões mais bravos e corajosos para estarem ao meu lado hoje. Nesse momento em que a morte se aproxima. Todos fizemos um juramento solene de proteger Nidavellir. E é o que faremos.

O javali de Helrog bufou e raspou o chão com as patas.

— As equipes alfa, beta e eta ficarão aqui comigo — bradou o anão, cada palavra rasgando um pedaço do coração de Sindri. — A equipe delta escoltará vossa majestade e vossa alteza para a Passagem Tortuosa.

Por NidavellirOnde histórias criam vida. Descubra agora