O Órfão

Setembro de 1994

 Já fazem quase seis anos desde aquele duplo homicídio sem explicação. Theo se encontra com quase 12 anos, falta 1 mês para o seu tão aguardado aniversário. Ele realmente cresceu, talvez o que acontecido com ele quando jovem, o fez amadurecer precocemente. Seus tios cuidam dele com todo carinho, como se ele fosse o primogênito do casal. Theo nunca deu problema, na escola sempre tirava as notas mais altas da classe, era bom nos esportes, e sempre chamava bastante a atenção das garotas por ser bonito. Era o filho perfeito e não havia nada a reclamar sobre isso.

 Era seu primeiro dia de aula em uma nova escola, Theo iria ingressar na Grade 5 de ensino, mesmo sendo muito inteligente e indiferente, ele não gostava de ir para a escola, em seus pensamentos ele ficava dizendo para si mesmo "Por que eu tenho que ir a um lugar cheio de outras crianças irritantes apenas para alguém me "ensinar" algo que posso aprender em duas horas de biblioteca?". Mesmo com esse pensamento ele não pestanejava em ir a escola, talvez esse pensamento que o permitia apenas tirar notas altas.

 A primeira aula do dia seria de cálculos, uma matéria pratica e fácil para Theo, depois dessa aula teve uma aula de francês e em seguida o intervalo para o descanso dos alunos. Theo como sempre ia ficar sozinho em um canto, ele não sentia necessidade de se enturmar com pessoas desconhecidas em todos os anos, ele sempre ficou assim, sozinho sem se enturmar, porém, nesse ano foi diferente, uma pessoa, uma garota, muito bonita, com seus curtos cabelos castanhos e olhos claros e de certa forma escuros no tom de azul, encarar ela era como entrar em uma nebulosa e se sentir sem ar por tal beleza. Ela lentamente chegou perto de Theo e disse:
- Oi, qual o seu nome?

- ...  -Theo claramente estava a ignorando

- Meu nome é Isabel, eu estou na mesma turma que você, poderia me responder? - Disse a menina com um certo tom de apreensão.

- Meu nome é Theo. - disse o menino de forma curta e grossa.

- Oh, então ele sabe falar... - diz a menina enquanto expressa um sorriso de canto de boca.

- Sim. - responde Theo novamente de uma forma um pouco mais educada.

 A garota recua um pouco após a falha tentativa de se enturmar com o garoto, ela levanta e sai de perto, uns 4 minutos depois ela volta novamente, Theo esta tão entretido com seu livro que nem percebe a presença da garota, apenas continua lendo como se não houvesse ninguém ali, o livro era O Chamado de Cthulhu, a garota ficou despercebida atrás de Theo lendo o livro para entender um pouco do que ele estava lendo e puxar um certo assunto, até que ela diz:

- Nossa esse livro tem umas palavras um tanto difíceis. -diz a garota impressionada

- Não são difíceis, basta você estudar que as conhecerá. - retruca o menino com tom de desdém.

- Por que você é tão mal humorado? - pergunta a garota com raiva.

-  Eu não sou mal humorado, sou apenas sincero, não há porque me esforçar para me entrosar com uma pessoa que eu nunca vi antes na minha vida. - retrucou novamente o menino.

 A garota sai de perto novamente, e agora ela não voltara mais, ficará irritada o suficiente com o menino, provavelmente ira espalhar para todos os outros colegas o quão idiota Theo foi com ela, provavelmente ninguém mais tentará se aproximar dele, com toda certeza ele poderá ficar sozinho lendo seus livros agora.

 Alguns dias depois, Theo reencontra a garota e pede desculpas por sua atitude de uns dias atrás, a garota estranha de primeira vista, porém depois de um tempo encarando ele, ela aceita a desculpa como se nada houvesse acontecido antes. Os dois passaram vários intervalos na semana seguinte juntos, conversando como amigos que se conheciam a anos, até que no dia 19 de outubro, o dia em que Isabela não voltou mais para a casa depois da escola, a garota havia sido dada como desaparecida. Como sempre, mais uma vez alguém próximo de Theo simplesmente desaparece de sua vida num piscar de olhos, "Foi uma amizade boa" sussurou Theo para si mesmo em seu quarto.