Meu eterno amor

Abri os olhos devagar, ainda meio sonolenta pisquei algumas vezes, afim de adaptar minha visão à falta de luz dentro do quarto, olhei o despertador, e vi que nele estava marcado 4 da manhã. De braços estiquei a mão sobre o colchão, mas não encontrei nada. Suspirei. Era sempre assim, ele nunca ficava até o sol raiar.
Um barulho que veio do banheiro me chamou atenção, encarei a porta, esperando vê-lo antes que ele fosse embora e me deixasse sozinha. Meu coração deu algumas batidas fora do compasso. Então ele apareceu já com o seu traje da noite anterior. Então ele se apoiou no batente da porta e cruzou os braços. Mesmo na penumbra da noite, consegui captar o olhar que ele me lançou. Cheio de ternura e satisfação. Devagarinho, o mesmo se aproximou, curvou-se na cama até que estivesse próximo à mim, e se despediu com apenas um abraço, sua respiração quente fez cócegas em minha nuca.

- Volte à dormir- sussurrou -ainda é muito cedo.- completou.

- Então porque você está indo em bora?- perguntei.

- Você sabe que eu preciso ir- respondeu.

Distribuiu beijos molhados em meus ombros desnudos. Tive vontade de falar que não sabia o porque dele precisar ir, que ele deveria deitar naquela cama e voltar à dormir abraçado comigo até o Sol raiar. Porém, eu não falei, porque seria contra as regras que nós mesmo criamos.

- Não fique chateada- ele disse.

- Não estou- menti – só acho perigoso você sair essa hora.- completei.

- O caminho é curto, avisarei quando chegar.

- Te vejo amanhã?- perguntei, mas algo dentro de mim dizia que eu nunca mais teria notícias dele, nunca mais o veria, nunca mais iria sentir seus toques sobre mim.

- Claro que sim- ele respondeu, mas eu via no fundo dos seus olhos, que ele estava mentindo...

Deixou um selinho em meus lábios e se afastou para pegar o resto de suas coisas e ir em bora como de costume... Então ele pegou seu último pertence, e com um ultimo sorriso de canto de boca saiu pela janela com sua vassoura mágica. Talvez eu não tenha mencionado que ele é um bruxo, mas esse pequeno fato não muda os sentimentos que eu tenho por ele... Rolei sobre o colchão e encarei o teto murmurando baixinho alguns xingamentos, e me segurando para não chorar.
Lembro de como tudo isso começou, eu estava em uma balada vip, descontando toda a raiva do meu recente término na bebida, o avistei o outro lado da pista, nós dois estávamos claramente embriagados, sabíamos exatamente o que estávamos fazendo. Depois de uma longa troca de olhares, acabamos dentro de um banheiro, sabe-se lá como, nos beijando como se não houvesse o amanhã.
Lembro-me da sensação de seus lábios  contra os meus pela primeira vez. Se eu fechasse os olhos ainda me lembraria da sensação de seu toque. No entanto não era preciso ir tão longe. Bastava apenas que eu revivesse as horas que haviam acabado de passar... Eram tantos detalhes, que eu mal conseguia raciocinar coerentemente. Daquele dia em diante nós começamos à nos encontrar toda quarta e sexta, ele falava que erma os únicos dias que ele podia ficar fora das redondezas da floresta, nunca entendia o porquê, até que um dia ele decidiu me contar, porque já não aguentava mais esconder isso de mim, ele estava aflito, mas mesmo assim me contou, eu entrei em estado de choque quando me falou que era um bruxo, fiquei paralisada por um bom tempo encarando-o, quando ele decidiu se levantar por um ato de reflexo o segurei, ele parou e olho no fundo dos meus olhos, e foi para a porta, quando ele abriu a porta eu gritei seu nome, ele se virou para me escutar, mas eu não sabia o que falar, então eu só andei até ele e selei nossos lábios, por instantes ele ficou sem reação mas logo retribuiu. Naquele momento eu percebi que o amava, e que o fato dele ser um bruxo não me importava, não sabia se o amor que eu sentia por ele era recíproco ou não, mas no fundo eu sabia que ele sentia o mesmo por mim.
Saí de meus devaneios, e me levantei da cama, pois sabia que não conseguiria dormir novamente, comecei à arrumar a bagunça do meu quarto, e logo depois fui tomar uma ducha, eu gostava de espairecer durante o banho, aproveitei que naquele dia eu não iria trabalhar, e resolvi tentar esquece-lo cuidando um pouco de mim... Acabou que quanto mais eu tentava tirar ele da minha cabeça mais os momentos que vivi com ele vinham à tona, desistir de tentar tirá-lo da minha cabeça, e decidi viver com a dor de amar alguém que você nunca mais verá.
Adeus te amarei eternamente bruxo da minha vida.