Capítulo I

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Nova Scotia, verão de 1868

Theo ajudava a cortar lenha para o jantar, deixando que seu machado fosse de encontro à madeira seca com uma maestria que daria inveja a qualquer lenhador. Ele adorava fazer aquele tipo de trabalho braçal, pois sabia que era bom com coisas que exigiam mais dos músculos do que da mente, principalmente quando havia algo lhe incomodando. Parando um pouco para recuperar o fôlego, limpou o suor que escorria por sua testa e tornou a arregaçar as mangas da camisa que vestia, sentindo o calor do verão lhe açoitado a pele bronzeada.

O sol da tarde estava mesmo quente naquele dia, e Theodor pensava seriamente em tomar um banho na bica quando terminasse suas tarefas. A época do plantio estava chegando e havia muito trabalho a ser feito na fazenda, mas ele se sentia animado com isso. Theo passara a vida toda cuidando daquele lugar ao lado de seu irmão, e por mais que a fazenda não lhe pertencesse legalmente, ele se sentia satisfeito e agradecido por poder ajudar a cuidar do lugar onde cresceu. Era uma pena que em breve teria que partir...

-Por Deus, Theo! – Exclamou Noah, um dos rapazes da cidade que ajudava na fazenda de seu irmão – Está tentando cortar lenha suficiente para o resto do verão?!

-Acho que me empolguei... – Admitiu ele, sentindo o rosto ficando vermelho ao perceber que sua pilha de lenha já era duas vezes maior do que a dos outros dois.

-É por isso que você nunca para de crescer! – Brincou Johnny enquanto lhe dava um leve soco no braço musculoso – Precisa guardar um pouco desta empolgação para as moças do bordel.

-Qual é Johnny?! Sabe muito bem que Theodor nunca vai ao bordel. É por isso que ele precisa gastar suas energias com trabalho braçal, se é que você me entende.

Os rapazes começaram a rir descaradamente e Theo sentiu seu rosto ficando ainda mais vermelho diante do comentário despudorado. Sempre ficava encabulado quando Noah e Johnny falavam sobre as moças do bordel e as coisas que faziam por lá quando o expediente acabava. Não que ele ignorasse o que acontecia entre um homem e uma mulher na intimidade de um quarto, mas ainda assim, não conseguia evitar ficar sem jeito sempre que os rapazes tocavam naquele assunto, pois tinha pouco para acrescentar na discussão. Além disso, às vezes ele não sabia se os amigos falavam sério sobre alguns tipos de carícias e flertes, ou se só estavam inventando aquelas coisas para fazê-lo de bobo.

-Chegou uma garota nova no bordel que tem as pernas mais roliças que eu já vi! – Disse Noah, largando seu machado de lado e desenhando curvas imaginárias no ar, como se estivesse vendo a tal beldade bem na sua frente – Aposto que o Theo ia gostar dela. Caras grandões assim sempre preferem as moças mais cheinhas!

-Eu não tenho tempo para essas coisas, Noah. Henry precisa de mim na fazenda e eu não posso ficar gastando nossas economias no bordel.

-Bobagem. Você precisa se divertir um pouco de vez em quando, principalmente agora que está de casamento marcado! Se não aproveitar enquanto pode, vai acabar se arrependendo depois.

-Eu não estou de casamento marcado! – Exclamou Theo, ficando incomodado com o rumo que a conversa tomava, o que acabou agradando a Johnny.

-Não foi o que eu ouvi falar... Seu irmão já nos contou sobre a tal jovenzinha de Greenfield.

Theo segurou seu machado com mais força ao ouvir aquilo e tentando conter seu gênio, voltou a cortar a lenha com mais afinco do que antes. A perspectiva de se casar com uma completa desconhecida vinha lhe deixando bastante agitado nos últimos dias e ele tentava suprimir aquilo fazendo todo tipo de trabalho pesado! Ele ainda não tinha decidido se aceitaria aquele casamento absurdo, mas no final das contas, que escolha Theo teria?

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