CHEIRO DE TESTOSTERONA?

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Hoje o dia amanheceu silencioso e com bastante chuva. Não houve o cântaro dos pássaros, muito menos o cheiro de orvalho pela manhã. O que tem um motivo: acordei mais tarde do que o normal.

Olhando pela janela, começo a me lembrar da minha infância. De como era feliz e não sabia. Não que hoje eu seja infeliz, mas antes, eu não precisava me preocupar com as responsabilidades que hoje tenho.

— Bom dia, Bela adormecida! — Gabriel sussura no meu ouvido.

— Que susto, Gabriel! O que está fazendo aqui?

— Nossa, nossa... — Se aproxima encostando sua mão na minha cintura. — Bom dia para você também.

— Você não respondeu minha pergunta. — Cruzo os braços.

— Vim tomar café da manhã com vocês, mas você dorme tanto que já está quase na hora do almoço. — Brinca.

— Exagerado. — Vou até a cama e começo a dobrar o edredom.

— Estou te esperando na cozinha, dorminhoca. Mas se quiser, eu te ajudo... — Me abraça por trás.

— Vai pra cozinha, e eu espero chegar lá e encontrar uma mesa linda de café da manhã! — Ele me olha e sai do quarto. — Bom dia pra você também!

Por que tudo tem que ser tão complicado?

Tomar banho nesse frio é um tremendo desafio, mas decido encará-lo. Coloco uma blusa de manga simples e uma calça. Amarro meu cabelo em um coque desajeitado e vou para cozinha. Bianca e Gabriel estão sentados, mexendo em seus respectivos celulares.

— Hoje em dia as pessoas não conversam mais. — Digo ao me sentar.

— Estávamos procurando um lugar pra sair. — Bianca coloca seu celular sobre a mesa com um cuidado exagerado.

— Sair nessa chuva? Boa sorte! — Coloco um pedaço de mortadela no meu pão.

— Não vai com a gente? Vai ser legal.

— Claro que não, Gabriel. Frio foi feito para dar as pessoas uma oportunidade de aproveitar mais o edredom e a cama.

— Vamos comer, depois resolvemos isso. — Bianca me fita. — Ore.

— Não! Eu não tenho nem moral para falar com Deus, tá doida? — Ela revira os olhos.

— Fechem os olhos. — Fazemos o que ela manda, mas ao abrir os olhos, vejo Gabriel me olhando sorrindo, então fecho meus olhos rapidamente. — Querido Deus, estamos aqui para te agradecer por mais um dia, por mais uma oportunidade. Obrigada, Senhor, por este alimento, pela benção de nos ter concedido meios para nos prover o que comer. Nos abençoa a cada dia. E Pai, daí juízo a Isabela. Amém. — Ela me encara como quem não disse ou fez nada.

— Sério? — Ri.

O processo foi longo e silencioso. Geralmente, Bianca e eu não conversamos durante a manhã devido a nossa rotina: acordar cedo demais, estamos cansadas constantemente e isso nos rouba a alegria.

Quando terminamos de comer, Bianca vai ao banheiro e Gabriel se oferece para me ajudar com a louça.

— Quer que eu lave pra você? — Sinto seu hálito quente praticamente apertar minha nuca.

Santo Deus!

— Não precisa.

— Sabe que eu não vou desistir de você, não sabe?

— Gabriel, por favor! Já conversamos sobre isso. Temos vidas e objetivos diferentes. Por que você não procura uma anciã como você para namorar?

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