P.O.V. TYPE
Eu não queria chorar no canto do quarto, ao lado da minha mesinha cheia de blocos de anotações, onde ficavam pilhas e pilhas de afazeres escolares que no momento não tinham importância.
Não, eu não estava chorando realmente, eu queria, mas... me sentia exausto, nem pensar direito eu consigo, apenas continuo encolhido, desejando que isso tudo acabe logo.
Tharn é muito cabeça dura, só entende o que ele mesmo achar correto. Lhong deve estar há muito tempo na vida dele pra confiá-lo tanto assim, é assustador. Sei que pessoas assim precisam de ajuda, elas são obsessivas, entendo perfeitamente, mas exageros trazem consequências, e nenhum dos dois compreenderia.
Eu o amo e amo tanto, odeio ter que me lembrar disso todo santo dia, e o pior de tudo é que ele diz isso tão facilmente, como se fosse super normal, mas depois de tantos problemas eu fico imaginando se tudo aquilo que ele me disse com carinho foi apenas da boca pra fora. É péssimo ter que sustentar um relacionamento sozinho, amar duas vezes mais porque seu companheiro parece não fazer esforço algum, é desgastante.
Quero chegar em qualquer pensamento que seja bom o suficiente pra justificar tudo e por um ponto final na história, mas infelizmente é como Lhong disse, é apenas o começo. Será mesmo que eu deveria lutar por ele ou desistir dado que o mesmo se contenta com essa amizade estúpida?
Não sinto raiva, por mais estranho que pareça, eu deveria estar jogando os móveis no chão, quebrando o espelho do banheiro, jogando tudo pra fora como se além da raiva os outros problemas fossem desaparecer. A vida não funciona desse jeito, não foi inventada pra ser fácil, tudo deve ser conquistado, e quando digo tudo é exatamente no modo literal.
Respirei fundo e fui tomar um banho de água fria, meu corpo precisava e minha consciência também. Aquele sentimento doía tanto que pensei que não fosse mais suportar, que era o fim. Preferia mil vezes mais a dor de uma perna quebrada do que essa, dor física tem um prazo pra acabar, mas e a emocional?
Me lembro que ele era tão fechado no começo, com aquela cara carrancuda de quem me queria longe, mas aos poucos se deixou levar e a situação reverteu completamente. Era tão fofo quando sorria e me mordia como uma criancinha, falando uns negócios super clichês que dava até vontade de vomitar. Sinto falta disso.
Nem parece que foi ontem que ele veio aqui pra dormir comigo, é como se tivesse sido um sonho, sonho esse que acabou e não sei se vai voltar.
Desliguei o chuveiro e fui até o guarda-roupa, vesti um pijama listrado preto e branco e fui dar boa noite pros meus amigos, sempre sorrindo pra que não suspeitassem de nada, eles não sabiam que eu estava mal e preferi que continuasse assim.
~^~
N
ão sei como não acordei com dor de cabeça, parecia mais um dia como outro qualquer, sem preocupações além das provas finais. Me levantei da cama com um pouco de dificuldade e fiz minhas necessidades fisiológicas, tomei um banho, escovei os dentes e me arrumei. Meus amigos estavam sorridentes demais um com o outro, o que é mais exagerado do que de costume.
Ah, deve ser coisa da minha cabeça, pensei.
Peguei minha mochila e fomos andando até a escola. Sentei com os dois na frente, bem no canto direito da sala, Tharn já tinha chegado, parecia exausto, como se não tivesse dormido a noite toda. Era óbvio que estava triste e precisando de um abraço acolhedor.
Porra Type, para de se importar!
Pode até ter se arrependido, mas se continuar fazendo as merdas de sempre de nada vai adiantar. Sei que é difícil pra ele fazer uma decisão, visto que quase nunca precisou, tá na cara que ele é um anti-social.
Quando as aulas daquele dia terminaram, saímos todos da sala, mas Tharn parecia imóvel, com a visão perdida na parede, algo me diz que ele não estava pensando em que tinta usar pra pintá-la da próxima vez que aparecesse.
Meus amigos foram andando na frente, mas quando cheguei na porta o meu coração parou, eu não queria ir embora dali. Lhong poderia aparecer a qualquer momento, já era estranho ele não ter aparecido. Juntei todas as forças que tinha e recuei, queria fala com ele outra vez.
Devagar, me aproximei dele e segurei no seu ombro esquerdo, fazendo o mesmos e espantar, como se não soubesse que as aulas tinham acabado e todos haviam saído. Ele pareceu sem graça, não pensou na possibilidade de eu chegar nele e lhe dar um abraço.
Me senti um completo idiota fazendo isso, não que ele merecesse tal coisa, não mesmo. Mas eu queria senti-lo de novo, perdê-lo estava fora de cogitação.
Tharn continuou estático, sem me abraçar de volta. Não movia um músculo, como se o ato contrário fosse matá-lo.
- Merda, eu não quero te perder por causa de uma amizade ridícula! - sussurrei com um tom irritado apesar de não estar, mais pra mim do que pra ele, mas foi alto o bastante para ele ouvir.
Aos poucos seus braços agarraram minhas costas, apertando meu corpo contra o dele. Normalmente eu me sentiria bem e daria um largo sorriso, mas não foi exatamente isso o que aconteceu.
Era estranho, incômodo e nada relaxante. Queria parar e sair correndo dali o mais rápido possível, mas meu coração dizia não o tempo todo, imbecil, igual a ele.
- Quer saber, foda-se seu amigo e foda-se o fato de que não sabe lidar com isso. Não seja idiota! - meu rosto estava vermelho, mais de vergonha do que de irritação - Ou sou eu ou ele, decide logo ou eu decido porra! - aumentei um pouco o tom da voz, parecia mais sarcástico do que sério - Se não disser eu me retiro agora mesmo.
Ele olhou pra cima em direção ao meu rosto, assustado e confuso, não sabia o que dizer, imbecil.
Ouvi passos atrás, ainda estava longe, mas sabia exatamente de quem eram. Tharn estava tão concentrado em mim que não percebeu, imagino que os passos que cessaram no mesmo instante pareciam irritados e inconformados com o que acontecia ali.
- Você sabe que é você quem eu amo.
- Sim, sim, eu sei. - fiz carinho nos cabelos dele e beijei sua testa, me aproximando do seu ouvido e falando bem baixinho - Imbecil, deveria tomar mais cuidado com a pessoa que mais te ama nesse mundo. - e o puxei pra um beijo não muito demorado, dando um leve sorriso em seguida.
Óbvio que aquilo era um plano, não sou tão baitola assim se você quer saber. Queria deixá-lo confuso, era crucial pra que no final acabasse me escolhendo, cada movimento que fazia era muito bem pensado, eu sabia ser esperto quando queria.
Me afastei devagar, sua expressão desacreditava no que eu tinha acabado de fazer, mas um dia ele iria entender, ou talvez logo logo.
Passei por Lhong e dei um oi, o mesmo tentou me olhar com desdém, mas no momento esse era o meu papel, não o dele.
É, eu já havia decidido, eu iria pegá-lo de volta, e dessa vez ele nunca mais iria voltar a falar naquele amigo idiota.
Após sair da sala pude ouvir passos apressados me seguindo, como se o dono daquelas pernas não pudesse esperar por outra oportunidade.
Pelo visto, deu certo :) .
Mil perdões pela demora 😓
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Os Problemas Não Tiram Férias
FanfictionOutra versão da Série tailandesa Tharntype (só que mais estilo ''savage'')