• Prólogo •

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Wei Ying acordou no meio da noite, com frio e sentindo a garganta um pouco irritada.

Preguiçosamente sentou-se na cama e massageou cuidadosamente as pálpebras enquanto tateava a mesa da cabeceira à procura de seu celular. Ao não sentir o aparelho na madeira maciça, franziu levemente o cenho, mas logo balançou a cabeça ao se lembrar que havia deixado o objeto no andar de baixo.

No entanto, antes que pensasse em se levantar, seus ouvidos captaram ao longe ruídos que pareciam originar-se no hall da mansão. A mensagem demorou para chegar ao cérebro, demorou ainda mais para que ele interpretasse o que ela significava, e, quando finalmente lhe caiu o entendimento, todo sono que ainda sentia evaporou rapidamente. "Mas que porra é essa?", soltou, baixo. Wei Ying lembrava-se de ter dispensado todos os empregados, a mansão estava completamente vazia quando adormeceu. Os pobres praticamente correram para fora dos limites da propriedade quando ele terminou de falar, estava cético que qualquer um deles quisessem ver sua cara pálida antes das sete da manhã.

Então tinha apenas duas opções cabíveis para aquilo:

Primeira: um animal entrou na casa.

Segunda: um ladrão.

A primeira foi descartada assim que escutou o "clack" do trinco da porta fechando-se com delicadeza. Wei Ying desejava que animais pudessem ser delicados daquela forma.

Constatação final:

Estava fodido, tinha um desconhecido na casa e provavelmente esse desconhecido não estava lá com intenções de confraternização.

A primeira coisa que passou pela mente do rapaz foi em ligar para a polícia, mas para a conveniência do momento, tanto telefone fixo quanto o móvel estavam no salão principal. "Não pode piorar...", pensou com infelicidade, idiota, idiota, idiota! Não importava quantas vezes dissesse "idiota", era um puto idiota.

Nem fodendo que poderia morrer antes de sequer aproveitar um pouco da calmaria da sua nova vida.

Pular pela janela era uma boa opção? Talvez, mas também não estava muito empolgado para adicionar um braço quebrado à sua lista de azar particular. A varanda ficava dez metros acima do jardim e não tinha uma árvore trepadeira posta milagrosamente ali para ajudá-lo na descida.

Não, não era uma boa opção, talvez fosse se quiser faturar o lombar também, de quebra.

Restara-lhe, penosamente, enfrentar a situação cara a cara. Talvez nem fosse um invasor, né? Wei Ying rezava internamente para que não fosse.

Certo, certo, certo. Vamos lá.

O coração do paisagista queria saltar pela boca, a respiração ficou pesada, a adrenalina perturbando o funcionamento de seu cérebro.

Wei Ying então abandonou a cama e agarrou o primeiro objeto que a escassa claridade do cômodo permitiu-lhe, um vaso. Um objeto pesado e feio, de puro mal gosto e que provavelmente tinha custado mais que o apartamento em que ele morava. Mas isso não vinha ao caso, se a peça fosse usada corretamente, poderia fazer um grande estrago no invasor e daria tempo a Wei Ying de escapar e chamar a polícia. Essa sim não era uma ideia ruim.

Em passos de algodão, foi até a porta e tocou levemente a maçaneta, abrindo uma fresta que permitia-lhe ver parte da escada e do corredor. A única luz presente provinha da grande vidraça, seu campo de visão estava limitado demais. Foi quando avistou um vulto subindo degrau a degrau pela luminosidade da parede, mas bem uma silhueta humana. O Wei sentiu coração gelar por um segundo.

No grandioso plano que formou em sua cabeça há poucos minutos era naquela hora que deveria esperar o invasor aproximar-se do quarto para que pudesse usar a carta que tinha na manga, a escuridão e o vaso, mas a realidade foi outra. Ele era um desastre, um desastre que atraia o caos e o colocava em situações que quase sempre faziam-no cavar a própria cova.

Esse foi um desses momentos. No instante em que retrocedeu um passo, para voltar a ter controle só próprio corpo, acidentalmente tropeçou em uma jaqueta largada ao azar no carpete, perdeu o equilíbrio, caiu, o maldito vaso quebrou e para aumentar o combo soltou um sonoro rugido de surpresa antes de bater com tudo contra o chão. Com isso, atraiu a atenção do desconhecido diretamente para ele.

Mais perto que nunca, a porta foi escancarada e nada mais impedia o encontro dos dois.

-Wuxian! Você está bem?! -O homem havia largado qualquer coisa que estivesse carregando e correu em direção a Wei Ying. Wei Ying não reagiu quando o estranho acendeu a luz do quarto, nem quando o desconhecido agachou-se de modo que igualou-se a altura dele, ou quando este o ajudou a sentar-se e o tateou da cabeça aos pés, como se analisasse os danos de algo delicado e estimado. -Se contou? Dói?

Wei Ying retrocedeu, fugindo do toque sem olhar para o desconhecido.

-N-não.

O homem lentamente abaixou a mão pendente no ar.

-Por que estava com esse vaso? -Wei Ying notou a mudança no tom da voz do recém-chegado, mais séria e firme, deixando poucas brechas para saber o que estava passando em sua mente. -Não se exponha a riscos desnecessários, por que não acendeu a luz?

-Estava com medo que fosse um ladrão... -O paisagista disse, sem pensar. Não que fosse uma mentira.

-...

O silêncio homem foi julgador, o Wei se escolheu.

-Mas por que está aqui? Eu que deveria perguntar, certo?

Errado.

-... -Houve mais silêncio, então a voz homem veio, com o imutável tom sério de segundos atrás. -Ridículo...

- Por que você...?

Foi interrompido.

- Absolutamente ridículo. Wei WuXian, até onde eu sei, essa ainda é minha casa.

"A casa é dele também, Wei Ying."

Dessa vez, a consciência veio rápido como uma avalanche.

Amaldiçoou-se mentalmente pela milésima vez naquela noite. Se continuasse agindo assim, não duraria uma semana como Wei WuXian. Questionou-se, como não o reconheceu na primeira vez que o homem abriu os lábios? Longe da distorção telefônica, aquela voz não soava totalmente diferente.

Levantou a cabeça e finalmente notou as características da pessoa frente a ele. O sujeito era alto, não sabia o quanto, mas superava-lhe em altura. Possuía corpo atlético, mas magro, lábios finos, rosados e reluzentes cabelos castanho escuro muito bem hidratados, diga-se de passagem. Sem falar do belo par de olhos dourados. Um modelo, parecia um modelo daquelas revistas caras que via nas bancas. Another man, talvez. Yves saint laurent, sim, com toda certeza.

E este homem, cuja beleza não parecia ser deste mundo, em teoria era seu marido.

-Lan Zhan...?

The Pretender • Wangxian Onde histórias criam vida. Descubra agora