Sorvete derretido

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Estralei a coluna sentindo a garganta um pouco áspera por estar seca. Tirando o óculos para esfregar os olhos, inclinando um pouco na poltrona tentando ao máximo relaxar meus ombros. Exausto séria pouco para me definir nesse exato momento. Estava no estúdio desde o café na manhã — no qual foi a minha única refeição completa do dia. E já podia sentir o meu estômago pedindo uma comida decente sem ser salgadinhos de queijo da máquina enferrujada do corredor.

Faço parte de uma banda indie do sul da Califórnia cantor e talvez líder? fiz faculdade de música na China; aonde nasci. E desde criança quando assistia MTV no último volume numa tevê vagabunda pois meus pais não tinham dinheiro o sufiente para comprar uma de última geração. Percebi que meu futuro séria completo de notas musicais um pouco desafinadas. E foi assim que terminei meu curso resolvi me demitir de um emprego nada bom numa loja de discos onde, Britney Spears era a trilha sonora principal e juntar o resto de dinheiro que me sobrava me mudei para L.A. A cidade dos anjos onde tudo acontece.

E realmente é onde tudo acontece. Por falta de dinheiro comecei a fazer showzinhos em estação de trem e praças. E fui numa dessas apresentações num sol insuportável — Califórnia é extremamente calorosa como está escrito em músicas — conheci um americano baixinho e caninos de vampiro que derrubou o sorvete derretido por ter se animado demais com a música. No final do show descobri que seu nome era Mark e que tinha uma banda de fundo de garagem que precisava de um vocalista urgentemente, e foi quase impossível dizer não para aqueles olhinhos esperançosos. Mal sabia que naquele momento estava tomando a melhor decisão da minha vida sem graça.

Foi meio complicado me enturmar no começo mas aos poucos parecia que fazia parte daquele quarteto de adolescente com sonhos bobos a mais tempo que trabalhava com música. Era melhor ainda contar pros meus pais que estava começando a realizar tudo que sempre sonhei, mesmo quilômetros longe deles.

Aos poucos a nossa bandinha foi crescendo, começando aos poucos a produzir nossas próprias músicas e lançando algumas no SoundCloud. E com esses pequenos avanços conseguimos por algum milagre do destino, chegar aos tímpanos de um produtor. Desde disso a banda cresce mais a cada dia que passa, e sem querer massagear o meu ego mas o nosso primeiro álbum lançando pela produtora fez tanto sucesso que fizemos até uma tour mundial.

E com três álbuns lançados estava eu aqui, no estúdio, para gravar o próximo que era o mais esperado pelas fãs.

Por mais que eu ame trabalhar com música, passar o dia inteiro dentro de um lugar silencioso para não atrapalhar as gravações acabava sendo cansativo. Mas finalmente estávamos gravando a última parte do dia, que era o solo de guitarra do Mark. O ruivinho sempre foi bom com cordas, o jeito que ele toca com todo seu corpo era capaz de arrepiar minha nuca. Sempre ficaria extasiado com seu talento inexplicável.

No último acorde vi um sorrisinho crescendo devagarinho em seu rosto mostrando completo êxtase por finalmente ter alcançado o que queria, olhando diretamente para o vidro que nos separava estampando mais sua satisfação.

– Estamos livres agora? estou morrendo de fome, preciso de uma comida decente antes que meu estômago me devore! – brincou com um sorriso sapeca, colocando o fone apoiado no microfone cansando de ser usado. E foi alí que percebi que seus cabelos vermelhos estavam grudando na testa por causa do suor.

Fiz sinal para colocar o fone de novo, vendo-o se atrapalhar um pouco com fio fazendo uma careta engraçada.

– Só vou deixar você em paz se aceitar ir jantar comigo naquela pizzaria lá perto de casa. – Sorri sapeca, observando revirar os olhos na órbita soltando um riso nasalado. – Ou prefere um lanche de rua?

– Pizzaria é mais romântico. – Ah, lá estava o Tuan sacana, que soltava flertes discretos aqui e alí, mas quando estava concentrado — como hoje — sempre evitava brincadeirinhas e flertes que me deixavam com um sorriso bonitinho.

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